“Lenga Lenga. Substantivo feminino conversa, narrativa ou peça de oratória enfadonha e monótona; ladainha, cantilena. O que é demorado, fastidioso.”
Antigamente falava-se que um lenga-lenga era uma novela. Hoje em dia, com as novelas fora de moda, poderíamos dizer então que agora é uma série do Netflix.
Estou falando sobre os percalços que está enfrentando a construção do novo autódromo carioca. Já escrevi muito sobre o assunto aqui ó:
Mas vamos escrever mais, o assunto é bom!
Já temos que enfrentar São Paulo, lutando para manter o evento por lá. Este é o mais fácil de entender.
O difícil é entender o “fogo amigo” que acontece dentro do próprio Rio.
Tem a galera que ainda permanece inconformada com o desmonte do antigo equipamento. O fato dele não estar sendo usado não os abala. O fato de que custava caro manter o perímetro seguro contra as invasões da favela anexa e saneado dos mosquitos, não os abala. O fato daquela arquibancada estar prestes a desabar de ferrugem, não os abala. O fato do local ter sediado uma Olimpíada incrível, não os abala. O fato do local atualmente ser 1 milhão de vezes mais útil, mesmo sendo subutilizado, não os abala. O fato do local hoje em dia ser cercado de residências não os abala. O fato de que a infraestrutura da pista era um lixo, também nunca abalou. Gente, o mundo mudou, o autódromo antigo acabou, já era, era ruim. A sociedade carioca não conseguia organizar um campeonato decente. Que tal virar a página e batalhar por um novinho em folha? Não conseguem, tem a inútil ilusão e pretensão de que a solução é jogar um artefato termonuclear no local, derrubar tudo e fazer igualzinho era antes.
E tem a briga política intestina que rola no mundo, entre os dois lados binários em que se dividiu o planeta. Um lado só de bonzinhos, amantes da natureza, do amor, da liberdade tudo, uma gente quase santa versus os que só querem lucrar, destruir, oprimir e blá blá blá…
Então o Rio de Janeiro e suas autoridades resolvem também tomar partido. O GAEMA, Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente do Ministério Público do Rio, resolveu colaborar e entrou com recurso alegando que uma decisão irreversível como a aprovação de construção de um autódromo em área de Mata Atlântica (!) não poderia ser tomada em audiência de internet, sem a participação de parte dos moradores da região, carentes, que não têm acesso à Internet.
Falando assim fica parecendo que o local é o Bosque do Bambi da Disney, e sabemos que os moradores carentes tem todos smartphones gigantes e ficam o dia inteiro grudados neles. São desconectados e carentes apenas quando é para atrapalhar alguma coisa, em troca de outra coisa. A população carente é uma coisa. Os representantes da população carente, são outra coisa.
Reparo que a tática é a de simplesmente retardar, não estão atacando o projeto, o plano deles é o de retardar até não dar mais tempo. Inviabilizar sem ter que preparar um ataque técnico ao projeto, que é bem defendido.
Dando certo estas ações, será genial!!! O Brasil continuará sem MotoGP e outras corridas, com a corrida de F1 no remendado Interlagos. A região em Deodoro não receberá investimentos e com sorte permanecerá com o matagal intacto, em um local onde 98% das pessoas que protestam nunca foi ou vai. Com azar, e muito provavelmente, o terreno será invadido pela milícia construtora para loteamentos irregulares. Os moradores carentes não terão o Bosque do Bambi para curtir a natureza em idílico refúgio de Mata Atlântica.
As viúvas do antigo autódromo não terão a sua bomba atômica disparada e vão ficar sem pista para correr com os seus Mavericks e Opalas.
E os membros do judiciários permanecerão em seus cargos bem remunerados e assistidos, sem nunca ir a Deodoro. Se desejarem ver uma corrida eles poderão pegar um avião e ir ver no sertão da Argentina. Eles tem recursos e tempo para isso.
E depois todos reclamam que o Rio é ruim. É isso. Basicamente.
Mário Barreto.