A saga do Autódromo Carioca

A Rio Motorsports, empresa que está tocando o novo autódromo carioca, passou uma semana inteira sob o ataque da mídia, dos políticos e empresários de São Paulo, e de cariocas mal informados. Entre eles eu mesmo, que recebi as reportagens e não consegui rebater de primeira.

Muito claro é o interesse do Prefeito, do Governador de São Paulo. Os governantes querem proteger sua cidade e seu Estado, pois provas internacionais projetam a economia do lugar, alavancam o turismo e movimentam a economia. É seu dever proteger e desenvolver estas oportunidades.

Também muito claro é o interesse do atual promotor, afinal, são negócios. São negócios muito esquisitos e nebulosos, pois todo ano dão prejuízos enormes, todo ano são feitas reformas caríssimas, todo ano problemas insolúveis aparecem e todo ano, sem parar, a corrida acontece. No mínimo estranho, porque se nunca dá lucro, se são tantas as dívidas e problemas, como permanece? No mínimo estranho.

Não tão claro é o interesse e apetite da imprensa em atacar ferozmente o empreendimento. Ou melhor, claro é, mas é lamentável. Parece que existe uma ordem para sempre denegrir qualquer iniciativa, seja ela boa ou ruim, que venha da atual prefeitura. Afinal, o prefeito é ligado ao grupo “inimigo” da imprensa maior. O mesmo vale para o Governador e para Presidente. É a política passando por cima do bom senso, do bom para todos, a briga pelo poder que só interessa para eles. Não para o povo do Rio de Janeiro.

Já entre os cariocas ouvi coisas como “Mais uma invenção deste presidente idiota… faltando lençóis nos hospitais e fica gastando dinheiro público com uma pista inútil, e ainda por cima derrubando árvores em uma linda reserva florestal. Só um imbecil faria uma coisa destas”. Como se para triplexes, sítios e refinarias superfaturadas fossem “outros dinheiros” e não faltassem lençóis antes. Este tipo de pensamento sim, completamente ignorante sobre o assunto e sobre as circunstâncias que cercam este empreendimento.

Coisa que nem é complicada, mas que as pessoas tem preguiça de pesquisar, ou de pensar no bem comum. A cultura da cidade, embalada em sinecuras e prebendas, é para lá de blasé. A cidade, o Estado, estão passando por situação de penúria, precisando de empreendedorismo, de ações vigorosas para combater a pobreza e revitalizar a economia. Mas é mais fácil reclamar, posar de politizado.

Sabemos que resultados extraordinários não vem de comportamentos ordinários. Continuam os cariocas com este pensamento relaxado e jactando-se da bela vista, segundo eles maravilhosa e inigualável em todo o mundo, e o resultado seguirá sendo o mesmo, empobrecimento e inveja escondida. Inveja dos lugares que progridem, que lavam os seus toldos e calçadas, onde as ruas tem menos buracos, onde as pessoas vivem com mais segurança e qualidade.

Foram acusações fortes, indicando irregularidades graves mas que depois foram rebatidas tanto pela Prefeitura como pela Rio Motorsports. Foram cartas longas, com detalhes jurídicos que exigiriam além de um estudo completo dos Editais e PMI, um certo entendimento jurídico. As defesas basicamente afirmam que a acusação é política e que o TCM aprovou. Que problemas foram encontrados, saneados, dentro da lei, com audiências públicas e que está tudo certo.

Tudo tudo certo certinho eu duvido, nada neste país é certinho. Aqui é impossível estruturalmente, para tudo há uma maneira de contornar e o segredo do sucesso é este. Está provado que de outra maneira é inviável. Sem um empréstimo bombado no BNDES, sem uma sonegação calculada, nada pode acontecer. Mas não foi este o caso, foram questões menores. Devem ser esclarecidas, saneadas. Não sou adversário das leis ou da ordem, apenas constato que é o modus operandi do Brasil e serve para todos, inclusive para os repórteres que recebem por PJ, hahahaha, lembram disso?

Pois bem, vamos aos fatos e circunstâncias que cercam este assunto e ao status atual.

Primeiro, é importante lembrar que  o país teve durante anos duas pistas, até 3, se incluírmos Goiânia, de nível internacional. Não está escrito em lugar algum que se tiver em São Paulo, não pode ter no Rio ou em qualquer outro lugar. Teremos a nossa, e que apareçam muitas mais.

Ter uma nova pista no Rio é um direito resultante de uma dívida da União, do Ministério dos Esportes e da Prefeitura do Rio de Janeiro. Tínhamos um autódromo em perfeitas condições, um bem tombado, que foi sucateado e finalmente destruído para dar vazão a interesses diversos, imobiliários entre eles. Com a justificativa de construir um imenso parque olímpico. No final achei ótimo, foi melhor ter um parque olímpico, ainda que com problemas, do que ter uma pista no meio de um matagal cheio de mosquitos e com arquibancadas desabando de ferrugem. Só que para dar certo, no acordo político que permitiu o destombamento da área, ficou assinado um compromisso em construir um outro, para compensar a cidade. Inclusive só poderia destruir o antigo com o novo pronto. Ninguém cumpriu a determinação, mas o acordo está de pé e a verba pronta.

Existindo a obrigação de fazer, existindo um dinheiro disponível, teve uma briga de foice no escuro com grupos interessados em vender seus terrenos, grupos interessados em ganhar dinheiro com a construção e nada andou. A localização variou de Guaratiba até Santa Cruz, até que a Rio Motorsports apareceu, apresentou-se como única interessada na PMI, teve o projeto aprovado e novamente foi a única a se apresentar para o Edital de construção. Talvez porque os bichos papões de obras que estamos acostumados, estejam todos quebrados, com diretores presos. Talvez porque ninguém acredita ser capaz de construir, ou outros motivos. Mas o fato é que a Rio Motorsports foi capaz de se articular e apresentar um projeto integrado que atende aos interesses da cidade, do exército que precisará doar a área e deles próprios.

O mundo mudou. Os esportes a motor também. Hoje uma corrida é um acontecimento planetário em 360 graus, com múltiplas coisas acontecendo no local e sendo transmitidas ao redor do mundo em tempo real. É um espetáculo dominado por profissionais de alta competência e que exige equipamentos de última geração.

Ninguém em sã consciência pode chamar Interlagos disso. Interlagos atual , o atual empreendedor, são o passado. Anacrônicos, remendados, mal localizados, limitados, velhos, adaptados. Uma boa lembrança de uma época que passou. E só. A pista é estreita, velha, perigosa. Para atender as necessidades atuais do esporte e do business, teria que ser colocado abaixo e refeito do zero. Que façam!

O que não podem é querer parar o progresso, segurar o futuro. O novo autódromo do Rio de Janeiro será tudo o que os promotores desejam e precisam. O projeto está pronto, é ótimo, e nesta fase conta com todas as aprovações necessárias. Claro que ao final das obras tudo isso terá que ser confirmado. Está adiantado e no cronograma.

E porque o Presidente se envolveu com o assunto? Porque é dever do Presidente promover estas atividades em qualquer Estado da federação. Se ele pode saudar uma refinaria em Pernambuco, se pode saudar uma vinícola no Rio Grande do Sul, porque não um autódromo no Rio de Janeiro. E sendo o empreendimento do interesse do exército, isso aproxima ainda mais.

E porque o exército tem interesse? Porque a área toda tornou-se um “pepino” caro e perigoso. Esta área em Deodoro, é militar e o perímetro é mantido com custos e perigos pelo exército. A área está completamente cercada de favelas, uma imagem muito feia inclusive, sob pressão da milícia construtora, que só não invadiu a área pelo motivo de que a mesma esta minada, como campo de exercícios militares. Ao doar a área o exército se livrará da responsabilidade e custos de manter, e receberá uma contrapartida em obras que ele tanto necessita.

A tal da Floresta de Camboatá não existe. Existe um projeto e uma proposição para a sua implementação, mas que nunca foi efetivada. Pessoas que nem sabem onde é Deodoro, que nunca foram lá, choram pelo corte de “uma única árvore sequer”, dizendo que isso não vale os milhares de empregos que serão gerados durante anos com a operação do empreendimento. Eu não concordo. Acho que vale sim.

E ali perto, pertinho mesmo, temos a imenso Parque da Pedra Branca, o Parque do Mendanha, e até o Parque da Tijuca, o que não falta é verde nas redondezas. Se o exército abre mão de proteger a área, em 5 anos acabou tudo ali, vai ser tudo invadido, não tenho a menor dúvida. E o projeto preserva áreas de verde.

É isso, o ambiente político anda péssimo. Ninguém pensa direito ou pondera. É só acusação, pouca leitura, pouco entendimento e um grande dane-se para tudo e todos, desde que fique-se alinhado do “lado certo”. E qual é o lado certo hoje em dia? Para uns é ali, para outros acolá. O lado certo é o lado do desenvolvimento sustentável dos eventos, dos contratos, dos salários, da urbanização, do esporte, da paz e do amor.

A sociedade carioca tem que se unir e comprar a idéia de que termos um equipamento de nível internacional será bom para todos. E é nosso por direito, estão nos devendo isso. Ainda bem que a Rio Motorsports se propôs a realizar. Vamos apoiar, vamos trabalhar.

Ou vocês tem alguma dúvida de que o governo e empresários de São Paulo não farão de tudo para construir um novo se nós piscarmos?

Vejam abaixo dois textos publicados em um Jornal de São Paulo, cada um defendendo uma posição:

Mário Barreto

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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