Perdoe-me o Bagnaia, que fez um corridaço no domingo sobre o qual falarei mais adiante, mas este fim de semana em Barcelona teve um protagonista e um coadjuvante sobre os quais é preciso falar primeiro.
Na quinta-feira, em uma coletiva extraordinária, Aleix Espargaró anunciou sua aposentadoria como piloto de MotoGP ao final da temporada. Era um desfecho esperado por mim, principalmente por causa do grave acidente sofrido pelo seu irmão Pol em 2023. Ser piloto de MotoGP deve proporcionar uma emoção indescritível, mas os riscos estão presentes a cada curva. Morbidelli ficou apagado após seu acidente em um treino em Portimão. Granado sofreu uma concussão grave em um acidente no WorldSBK. O piloto que já tem família começa a por na balança o risco x benefício. Aleix conseguiu, depois de muitos anos de luta, provar o champanhe da vitória. Deu o primeiro pódio e a primeira vitória para a Aprilia na era moderna. Desenvolveu a Suzuki e agora a marca de Noale e não precisa provar mais nada a ninguém. E acho que ele tem uma proposta gorda para desenvolver a Honda (1a aposta de hoje), em um esquema de piloto de testes muito menos exigente em termos de agenda. Ele vai curtir a Laura e seus gêmeos, Max e Mia, e esquiar e andar de bicicleta em Andorra. No seu “circuito de casa” Aleix usou um capacete espelhado com os dizeres “Shine at Home” e “Brilla em Casa”. Brilhou! Fez a volta mais rápida da história de Montmeló (1’38″190), levou a medalha de ouro no sábado e só não subiu ao pódio no domingo por 5 centésimos de segundo. Foi bonito! Chegou a 5s do Raul Fernandez e a 12s do Viñales. Ele vai se aposentar de cabeça erguida e vai deixar uma Aprilia oficial para o Bastianini (2a aposta de hoje).
O segundo personagem do fim de semana é o amado e odiado Marc Marquez. MM está com dificuldade de conseguir extrair o melhor tempo dos pneus novos e isso o empurrou para a 5a fila tanto em Le Mans quanto em Montmeló. Nem o mais aguerrido fã poderia esperar uma “remontada” como as feitas na França. Primeiro porque ele ficou de fora do Q2 naquela ocasião por conta de bandeiras amarelas. Em Barcelona a responsabilidade foi toda dele: após seguir o irmão por duas voltas e fazer uma volta mais rápida do que o recorde que perdurava até 6a-feira ele abandonou a 3a tentativa. Diggia fez uma volta de outro mundo, 38s2, novo recorde da pista, e o proprio irmão, que seguiu na volta, foi 6 milésimos mais rápido do que ele. Diggia e Raul foram pro Q2 e ele ficou em 14°.
Parênteses: Binder disse uma vez que a pior posição de largada da 3a fila pra trás é no meio da fila, pois te dá menos opções de largar bem pois há tráfego dos dois lados. Então o 14° de Barcelona era uma posição muito pior que o 13° de Le Mans. Fecha parênteses.
De qualquer maneira ele passou a 1a volta de sábado em 8° e a primeira volta de domingo em 10°. Largou “pra frente” pelo menos. Quem me acompanha sabe que eu não gosto de corridas com quedas e o sábado foi bastante cruel com os líderes: Raul, Binder e Bagnaia entregando posições e pontos gratuitamente. Então, pra mim, foi um segundo lugar “maroto”, mas só pontua quem chega e ele teve que ultrapassar Bastianini, Martin e Acosta para pegar aquela medalha de prata. Com a carenagem quebrada… No domingo, ultrapassou o Bastianini, mas perdeu 10 voltas atrás do Morbidelli, que estava em um bom 7° lugar dando tudo e esmerilhando o pneu. Marquez soube ser paciente: passou o ítalo-brasileiro, alcançou e passou Binder e Raul Fernandez, herdou uma posição com a queda do Acosta, e a três voltas do final ultrapassou o Aleix e conseguiu segurá-lo até a bandeirada. De pneu macio na traseira, que acabou providencialmente quando ele já estava na 3a posição. Isso em uma das quatro pistas que ele não gosta (as outras são Qatar, Indonésia e Sepang).
Martin foi o grande vencedor de Montmeló, pois fez 26 pontos contra 25 de Bagnaia e Marquez. Correu com a tabela debaixo do braço: quando viu que Bagnaia tinha mais borracha que ele achou melhor não arriscar e administrar a enorme vantagem para o 3° colocado. Vai pra Toscana com 39 pontos de vantagem na liderança e transfere a pressão para quem o está perseguindo.
Recentemente o bi-campeão admitiu que não gosta das Sprint de sábado. Deu um mole “felomenal” e caiu na curva 5 na última volta, com mais de 7 décimos de vantagem pro Aleix. Diz ele que estava mais devagar e isso causou a queda. Ok… Na corrida de domingo escolheu a mesma curva 5 para ultrapassar o Martin. E na volta de comemoração deu uma banana para a curva (risos). Foi a primeira vez que ele foi ao pódio na Catalunha. Trauma curado.
Bastianini, o terceiro vértice do triangulo amoroso da LeNovo, fez um razoável 5° no sábado e terminou a Sprint com o melhor ritmo de voltas. MM e ele rodavam em 40s1 enquanto os outros estavam acima de 40s6. Mais uma volta e ele teria roubado o 4° lugar do Martin. Isso me iludiu… considerando que La Bestia cuida muito dos pneus, e que o consumo de borracha é um problema em Montmeló, apostei nele para domingo. Acabou tendo que pagar 32s por não ter cumprido a volta longa por ter cortado caminho na curva 2. Punição que se transformou em duas voltas longas e depois em um ride through. Ninguém entendeu e havia a suspeita de um problema de comunicação com o seu dash board. Após a corrida ele explicou que viu todas as mensagens mas não concordou com a punição, por isso não a cumpriu. Foi com o Tardozzi na Direção de Prova tentar apelar, mas quem aplica as punições são os comissários da FIM e elas são inapeláveis. Ou seja, para não perder 3 segundos acabou perdendo 32… é uma figura esse Enea.
Acosta ganhou uma medalha de bronze no sábado como presente de aniversário de 20 anos. A cerimônia de entrega das medalhas foi bem animada, um momento de consagração para o Aleix. No domingo, o ex-teenager vinha bem, pressionando o Martin, mas caiu na curva 10. Ainda levantou a moto, ultrapassou o Rins e todas as Hondas para marcar 3 pontos. É muita humilhação para os japoneses…
Salvou-se o Quartararo, que herdou o 9° com a penalidade do Bastianini. O francês continua tirando leite de pedra da sua Yamaha, embora tenha se classificado bem atrás do Rins. Eles testaram em Mugello recentemente e talvez ele tenha uma vida mais fácil na Italia. Ou não, por causa das condições climáticas…
Tanto o Pit Beirer quanto o Massimo Rivola andaram reclamando muito dos seus pilotos. Binder conseguiu um ótimo 4° lugar no Q2, embora tenha caído duas vezes na curva 2. Só que o tombo enquanto liderava na Sprint e o pífio 8° lugar no domingo estão bem aquém do que a KTM espera dele. Houve duas entrevistas com o Beirer: em uma disse que a KTM não está olhando o mercado e que a intenção atual é permitir que os “quatro pilotos de ponta” que eles têm atinjam seu máximo potencial. Em outra, menos política, disse que ninguém tem assento garantido e que pilotos de equipe de fábrica nâo podem ser tão inconstantes. Miller, em que pese ser agenciado pelo Aki Ajo, já me parece descartado, assim como o Augusto Fernandez. Se Binder não se recuperar quem sabe a KTM de 2025 não venha com Martin e Acosta? E a GasGas com Binder e Oliveira…
Rivola se queixou bastante do Viñales, o piloto gangorra. Como pode ficar tão atrás de Aleix e Raul? Oliveira também está bem abaixo do esperado. Caiu no sábado e herdou um 10° no domingo. Diz o português que foi um problema técnico na moto, o que pega mal para a marca, pois volta e meia isso acontece.
Felizmente teremos Mugello já no próximo fim de semana porque este campeonato está proporcionando boas corridas. Aparentemente o tempo estará chuvoso, principalmente 6a e domingo. Será que a Ducati vai mesmo anunciar seu line-up de 2025? A ver…
Até lá!