O GP de Mandalika deu sequência à montanha-russa da disputa do campeonato de 2024. No sábado Martin, que era o favorito para amealhar os 37 pontos do fim de semana, entregou o ouro na primeira volta da Sprint, reduzindo pela metade a sua liderança. No domingo foi a vez de Bagnaia largar mal, se complicar, e obter um pódio graças ao tombo do Bastianini. No saldo final: 28 a 25, Bagnaia recuperou 3 pontos. Se continuar assim, o Martinator será campeão, pois são apenas 5 corridas e 21 pontos de desvantagem. Pecco tem tido dificuldades nas corridas de domingo, se desentendendo com o pneu traseiro médio até que ele se desgasta e atinge a temperatura ideal. Essa é uma reclamação que é compartilhada pelo Bastianini, que poderia ter chegado em 2° ontem, mas replicou o que seu colega de equipe fez no GP da Emilia Romagna: várias voltas recordes e tombo.
Aliás, foi indisfarçável a diferença da reação da cúpula da Ducati quando dos dois acidentes. Quando Pecco caiu em Misano a reação foi de desespero. Quando La Bestia caiu em Mandalika foi aquele “que pena, mas deu mais 3 pontinhos pro número 1”. Cada ponto vale muito. Basta lembrar que Niki Lauda foi campeão da Formula 1 em 1984 por MEIO PONTO, porque o Jacky Ickx, diretor do GP de Monaco, interrompeu a corrida antes da metade, quando o Senna ultrapassou o Prost, dando a vitória para o francês. Ao invés de ganhar 6 pontos pelo 2° lugar (e Ayrton teria vencido de Toleman), Prost ganhou apenas 4,5 pontos, que era metade dos 9 que o primeiro lugar recebia. Por orgulho perdeu o título (risos).
Perdão pela digressão… a corrida de domingo eliminou de vez Marquez e Bastianini da disputa do título. Com apenas 3 pontos entre eles vão disputar o 3° lugar e uma medalha na festa de gala que acontece depois do GP de Valencia.
Marquez se classificou mal e, na minha opinião, está errando na estratégia do Q2. Caiu atrás do Martin na penúltima curva da 1a tentativa, e atrás do Bagnaia na curva 10 na 2a. Não fez tempo. Largou excepcionalmente bem no sabádo e acabou no pódio. Largou bem também no domingo. Perdeu um tempo precioso trocando tinta de carenagem com o Diggia, que arriscou usar pneus macios até cair sozinho, mas vinha fazendo tempos melhores que Morbidelli e Bez quando o motor estourou. Pena, porque um 5° ou 4° lugar era factível.
O lado bom da disputa do campeonato ficar apenas entre Martin e Pecco é que os outros vão aloprar. Acosta, Binder, Marquez e Bastinini, que já não têm mais nada a perder vão dar uma perturbada nas próximas corridas.
Morbidelli e Bezzecchi deram uma melhorada nas duas últimas corridas. Assim como Quartararo. Bez tem pegado carona com Bagnaia nos treinos decisivos. A galera do rancho se ajuda, e isso já era esperado. Do “outro lado”, uma situação no sábado causou repulsa até entre os comentaristas espanhóis: para ajudar ao amigo Martin, Aleix Espargaró abriu caminho para ele na sua corrida de recuperação. Um pouco adiante, Martin errou uma freada e o Aleix fez questão de não aproveitar a brecha. É preciso dizer que não dá para criar um Espanha vs Italia no campeonato, porque há italianos independentes, como Diggia e La Bestia, e há um grupo específico de vizinhos em Andorra que são muito unidos (Espargarós, Martin e Rins). Cada piloto tem compromisso com a sua equipe e patrocinadores e abrir caminho pros amigos não é bom para o esporte. Também houve suspeitas sobre a facilidade da ultrapassagem do Bagnaia sobre o Morbidelli, mas estou apenas reportando, não endossando.
O pódio de domingo foi muito esquisito, com autoridades querendo aparecer mais do que os pilotos. Além disso, o Acosta estava sob suspeita de perder 16s por causa da pressão do pneu dianteiro, o que daria mais 4 pontos para o bicampeão. Felizmente o único punido foi o Nakagami que caiu de penúltimo para último, ou seja, de 11° para 12°. Ano passado apenas 14 terminaram, Morbidelli 4 voltas trás do Pecco. Este ano ainda menos. Mérito do Miller, que caiu e levou outros 3 (Marini, Alex M e Aleix) logo na 3a curva. Já tínhamos perdido o Oliveira, que tomou um high side na sexta-feira, fraturou o pulso, não corre no Japão e é dúvida para o resto da temporada.
Viñales comemorou muito o 6° lugar, o que mostra o triste estado atual da Aprilia. Quartararo comemorar um 7° e Zarco um 9° é bastante justificável: duas japonesas no Top10, mas a fábrica de Noale tinha ambições maiores e agora perdeu de vez o 2° lugar de construtores para a KTM.
Se o Martin não for campeão este ano, certamente não será nos próximos dois…
Na Moto2 Canet finalmente voltou a vencer e o 2° lugar do Ogura lhe deu uma boa folga na liderança. O nosso Diogo Moreira foi operado de apendicite, perdeu Misano 2 e Indonesia, e deve ficar de fora no Japão.
Na Moto3 o colombiano de araque (nascido e criado na Espanha) David Alonso botou nove dedos na Taça. Deve ser coroado no próximo domingo.
Foi confirmado agora há pouco que o Aki Ajo substituirá o Francesco Guidotti no comando da KTM a partir de 2025. O finlandês tem uma duradoura relação com a marca austríaca e já foi campeão com Marc Marquez, Zarco, Binder e Acosta.
Agora é Japão, onde o tempo aparentemente estará nublado, sem chuvas. É um circuito que mescla partes stop and go e outras fluidas: as corridas lá costumam ser boas.
E o bom é que começa em 4 dias.
Até lá!