Ontem a Sprint Race foi tão sem graça que nem me deu vontade de escrever. Com duas corridas seguidas assim na mesma pista a Ducati Corse tem tempo e técnicos para deixar suas motos mais acertadas do que as outras. Dizem que as GP24 são iguais, mas todos sabemos que as vermelhinhas são mais iguais do que as roxinhas. Sempre dou mais crédito ao Martinator por isso pois duvido que sua moto seja igualzinha a do Pecco.
Conversei um pouquinho com o Andre Bertrand ontem e lembramos de diversas declarações dos pilotos, que a GP24 em condições de piso bom, com grip, é imbatível e abre um boqueirão para as GP23. E para as outras motos também. A Aprilia, por exemplo, é ou era tida como uma moto com boa tração mecânica, capaz de achar chão quando as condições não estão tão perfeitas. Quando não há problemas de tração para resolver, elas ficam longe. E também a Ducati deve ter evoluído os seus programas de tração eletrônica. Normal, e o fato é que as GP24 estão tinindo na pista e é uma pena que o Franco Morbidelli não esteja consistente montado em uma delas. E também falamos sobre como o Martinator vacila sob pressão… eu uma pista apertada como esta, basta não errar e ficar na linha boa que o adversário não passa. Mas ele errou sob pressão, e foi ultrapassado.
Pois é, ontem foi sem graça mas hoje foi melhor. Pecco largou bem, mas Jorge Martin deu combate imediato, pois conhece o estilo de seu adversário, que é o de sumir na frente. Dividiu boas curvas e acabou prevalecendo, tomando a ponta. Acho que algo aconteceu com Pecco e/ou sua moto, pois ele perdeu desempenho, foi ultrapassado pelo Enea Bastianini e ficou para trás. Quando tentou apertar para chegar junto, estabacou-se.
La Bestia veio então desenvolvendo o seu estilo de corrida, que é sempre mais forte no final das provas. Não sabemos se é o tanque cheio, se é o pneu novo, o que faz isso, mas o fato é que ele sempre vira melhor no final das provas com a moto mais leve e com os pneus mais gastos. Grudou no Martinator, pressionando e visivelmente mais rápido. Só que hoje o Jorge Martin não deu o mole de ontem, deve ter ligado para o Andre Bertrand para conversar e fez exatamente o que devia ter feito ontem… mesmo mais lento do que o Enea, não errou e guardou as boas linhas para ele.
Até que na última volta, previsivelmente, Enea esticou o envelope e forçou uma ultrapassagem no limite. Digo no limite porque não dá também para o piloto ficar só na linha de dentro o tempo todo, a moto precisa de tomada de curva. Nesta tomada o Enea botou a moto no ponto futuro, sabendo que o Jorge Martin iria fechar em cima dele. Arriscou e contou com a inteligência do Martin, que não iria perder os 20 pontos, sabendo que o Pecco estava marcando zero. Foi no limite porque quando o Jorge fechou, ele estava 1/3 de moto na frente, deu tempo para o Jorge ver e levantar a moto. Milésimos de segundo antes, ele não estaria este tico na frente, o Jorge não o veria e teríamos um acidente. Achei a manobra boa, arriscada, mas boa, adequada as condições da corrida. Enea estava mais rápido há muitas voltas e se não forçasse, não passaria.
Um escândalo eu achei foram os comissários não colocarem a manobra sob observação. Bastaria depois dizer que não foi nada e tudo certo. Mas não colocar sob observação eu achei ruim, pois o líder do campeonato foi quase colocado no chão, saindo da pista, em uma manobra arriscada na última volta. Colocam sob observação coisas muito mais simples.
Também fiquei imaginando o que diriam as Enfermeiras do Doutor se tal manobra fosse realizada pela Formiga Atômica… “Sujo! Sujo”, diriam todas elas, repetindo seu velho ídolo. Pediriam o seu banimento do campeonato. Ufa! Ainda bem que não foi. MM ganhou este pódium em um dia em que estava conformado com o quarto lugar. Continuo achando que Marc Marquez é o melhor piloto na pista, ainda que esta diferença não seja mais o que já foi, porém, o que importa é que as motos estão tornando a diferença de braço menos relevante. As asas, a eletrônica e tudo o mais, meio que como na F1, elevam a participação do equipamento, reduzindo a participação dos pilotos, igualando as performances.
Digno de nota novamente foi a participação de Fabio Quartararo, digna, mostrando que a sua Mission One, depois de tantos investimentos, está atingindo um nível igual ao das GP23, Aprilias e KTM. E também vermos Mir e Marini chegando até o fim e mais perto, o que mostra uma evolução. Finalmente Marini passou Stefan Bradl nos pontos!!!
A Ducati com MUITA antecedência é campeã mundial de construtores, pela quinta vez seguida. E sua centésima vitória nos GPs. Jorge Martin, mesmo chegando em segundo hoje, abre um pouco mais de Pecco Bagnaia e vai dar tudo para aproveitar a sua melhor chance de ser campeão. Ano que vem na Aprilia, salvo milagre, não terá chances.
Agora vamos para as corridas asiáticas e seus horários ruins. Que Deus nos dê força para acordar e ver as provas. Amém.