Finalmente, depois de 15 anos a Ducati pode novamente gritar que é campeã do mundo!! E que campeonato!!
Vamos lembrar do campeonato de 2022…
Após terminar 2021 vencendo direto, com Pecco Bagnaia na ponta dos cascos, com o espalhamento de Ducatis na pista, 8, tudo levava a crer que seria moleza. Mas não rolou assim… A GP22 nasceu com problema para resolver sendo que o principal era o seu motor. Antes mesmo de começarem as corridas Pecco não gostou, preferiu o motor anterior e como os motores são contados e selados antes de começar o campeonato, a equipe de fábrica decidiu correr com uma combinação de moto 2022 e motor de 2021. A crítica foi que o motor de 22 era mais difícil de pilotar e menos agradável para os pneus.
Então, apesar de ter 8 motos na pista, nenhuma era igual as de Pecco e Miller. A Pramac ficou com a incumbência de acertar as motos 22/22 e os outros com a 21/21, que acabou o ano bem acertadinha.
Sendo assim, Pecco teve um início de temporada miserável, caindo, deixando de marcar pontos de modo que Enea Bastianini veio fazendo barba e cabelo com a GP21/21 uma moto acertadinha e que a equipe Gresini, muito boa, se encarregou de acertar e deixar em ótimas condições.
Lembrem-se que até hoje nunca uma equipe privada venceu um campeonato de 500 ou MotoGP, porque sabemos que o que faz uma moto andar não é o motor e sim o dinheiro!!!!
Sendo assim, e com a Honda/Marquez fora de combate, com a Suzuki fraquejando e pedindo o boné, a Yamaha campeã do mundo pode contar com o seu incrível piloto Fabio Quartararo e da grana de ser uma equipe de fábrica, para manter-se na frente. A Aprilia, outra equipe de fábrica, também aproveitou-se dos problemas da Ducati Corse e veio com tudo.
Quando veio a parada do meio do ano, a Ducati Corse com Francesco Bagnaia estava simplesmente 91 pontos atrás da Yamaha Monster com Fabio Quartararo em plena forma. Fazendo contas, mesmo ganhando tudo o que faltava, seria muito difícil descontar este caminhão de pontos, pois Fabinho em teoria ira perder de 5 a 8 pontos por prova, idealmente, o que não daria. Mas deu!!!
Todas as equipes e todas as Ducatis aproveitaram o início da temporada para acertarem ainda mais os seus conjuntos, todas as motos evoluíram, mas a Yamaha não conseguiu dar resposta, porque mesmo com a M1 evoluindo, seu problema principal é o motor, que é selado e não pode ser mexido. Justo o que sobra nas Ducatis Desmosedicis desde o seu início em 2003. Sempre foram foguetes, para o bem e para o mal.
As primeiras GPs Desmo eram muito boas de motor, mas com o chassi de treliça Filippo Preziosi teve que gramar para fazer uma moto capaz de vencer a então combinação imbatível, que era Rossi+M1+Michelin. Venceu GP’s mas não tinha a consistência para ser campeã do mundo.
No ano do primeiro título, 2007, a Ducati surpreendeu o mundo com a GP7 absolutamente canhão na mão de um dos pilotos mais talentosos de todos os tempos, Casey Stoner. Como a cilindrada iria mudar neste ano, de 1000 para 800, a Ducati acelerou o seu programa de MotoGP alguns meses, luxo que Honda e Yamaha não poderia se dar porque estavam envolvidas em batalhas de vida ou morte pelo título, quando começou o ano a GP7 barbarizou com sua velocidade. Uma moto dificílima de andar e que somente um piloto como Stoner seria capaz de explorar. Rossi, Lorenzo, Capirossi, Biaggi… estes caras são piloto de GP desde criancinhas, só sabem andar muito com motos perfeitas ou quase isso. Se pegam uma moto ruim eles vão trabalhar para acertar a moto, não conseguem andar em motos imperfeitas. Casey não, nunca foi príncipe, nunca teve as melhores motos, sempre teve que fazer o melhor com o que tinha nas mãos, e isso fez dele o piloto perfeito para as Ducatis, que eram fortíssimas, mas muito imperfeitas de chassi. E a Ducati tinha outra vantagem ao seu favor, os pneus Bridgestone, muito superiores na dianteira do que os Michelin.
Tanto que mesmo com Stoner, não ganhou mais títulos, embora seu talento o tenha feito vencer muitas corridas. Honda e Yamaha levaram o seu susto, mas desenvolveram suas 800cc para não levar o couro que levavam em 2007.
Filippo inovou e para se livrar do quadro de treliça, inventou o chassi cockpit de fibra de carbono, como as antigas Panigales, frameless. Segundo Nick Hayden, a moto tinha potencial mas nunca foi desenvolvido, porque a Ducati contratou Valentino Rossi.
Nesta época a Yamaha estava investindo em Jorge Lorenzo o que deixou Rossi chateado. E a Ducati estava as turras com Casey Stoner, recusando-se a aumentar o seu salário, chateada porque ele tinha abandonado um pedaço do campeonato por problema de saúde e, principalmente, porque a Ducati não atendia a nenhum pedido de melhoria da moto feito por ele. Nestas condições a Honda ofereceu um caminhão de dinheiro ao australiano, a Ducati ofereceu um caminhão de dinheiro ao Rossi e ambos trocaram de equipe.
Stoner subiu na moto e foi direto para a ponta. Já Rossi subiu na Desmosedici e levou um susto… andou para décimo quarto e assustou-se com a moto. Lembro-me que Jeremy Burguess falou que com dois treinos ele iria acertar a moto… quebraram a cara.
Neste ponto a dupla Rossi-Burguess estragaram a moto por uns 4 anos, pois exigiram um quadro perimetral duplo tipo “Deltabox”, coisa que eles conheciam. A Ducati ao invés de acertar a moto de Filippo, teve que mandar fazer um quadro de alumínio na Inglaterra, pois ela não sabia fazer isso, e meteu nele o motorzão alto, projetado para uma moto sem quadro. Deu ruim prá todo mundo. Para Rossi, para Hayden, para Burguess, para Filippo e para a Ducati, que ficou com um projeto mexido e horroroso nas mãos.
As coisas só começaram a melhorar com a contratação do atual projetista Luigi Dell’Igna a peso de ouro da Aprilia. Na Aprilia Gigi foi o autor da uma obra prima, a RSV4 que está aí até hoje. Com quadro de alumínio, com um V4. Foi campeão várias vezes no WSBK e teve carta branca para começar uma moto totalmente nova na Ducati.
E assim ele fez, e sua primeira criação foi a GP15, uma moto crua, mas bem melhor do que a Ducati tinha. Junto com seus pilotos, especialmente Andrea Dovizioso o e depois até Jorge Lorenzo, a Ducati e Gigi vieram inovando e melhorando sua criação. As asas aerodinâmicas todas, o salad box, os auxílios de largada e shapeshifter… Gigi e Ducati estiveram na proa de todos os recentes desenvolvimentos nas motos de GP dos últimos anos. Todos polêmicos, todos copiados.
A Ducati não venceu antes porque teve que enfrentar um tal de Marc Marquez correndo com uma tal de Honda Repsol… uma combinação osso duríssimo de roer. Se Marc não quebra o braço e continua correndo normalmente, nem sei se teriam conseguido, porque ele é um demônio.
Para vencer um campeonato mundial é preciso muito dinheiro, muito talento, muito trabalho e também um pouco de sorte. Sem sorte não se atravessa a rua, o ônibus pega. Tudo tem que estar alinhado e em 2022, especialmente na segunda metade do campeonato, a sorte ajudou. Fabio caiu muito, marcou zero ponto diversas vezes e a montanha de pontos foi ultrapassada.
O gerenciamento da Ducati, seu ponto fraco, deu uma trégua e de forma que espero que seja para sempre e definitiva, apoiou Pecco Bagnaia o tempo todo, sem desconfiar de suas capacidades e ameaçar com demissão e trocas. A equipe uniu-se em torno dele e o que viu-se foram 7 vitórias, corridas boas uma atrás da outra até a redentora, que foi esta última.
Eu, que não aguentava mais o trio sinistro de Tardozzi, Ciabati e Domenicali, tenho que tirar o chapéu, este ano de 2022 os redimiu, pois estão também prestes a conquistar o triunfo no WSBK com a Panigale e Bautista. Também sem falar bobagens, também trabalhando muito. O fato de terem aceitado a palavra de Pecco e trocado o motor pelo 21 já foi um sinal de que a Ducati aos poucos vai aprendendo a ouvir seus pilotos. Nunquinha que no passado eles fariam isso. Sinal dos novos tempos. Vão ficar com muita moral, eu já estava quase pedindo a Audi que os demitisse!!! kkkkkk.
Pecco Bagnaia é calmo e contido. Seu sorriso não é aberto, suas manifestações ao público são minúsculas se comparadas as de Rossi, Lorenzo, Marc e outros campeões. Pecco não tem o carisma de outros campeões, mas é um bi-campeão do mundo. Venceu na Moto2 e agora na MotoGP. É rápido, cerebral, corajoso, técnico, tudo na media certa. Um campeão com muitas vitórias, que superou um desafio enorme e aliviou a pressão da Ducati. 15 anos sem vencer, 50 anos sem a combinação de piloto e moto italiana vencendo, sendo o último Giacomo Agostini de MV Agusta. Ufa!!!!
Ano que vem o campeão irá enfrentar Enea Bastianini, um piloto que jamais deveria estar na mesma equipe. Prá mim, foi um erro. Ele é bom demais e sempre dá confusão, como deu Rossi-Lorenzo na Yamaha.
Batido em luta franca, mas com muita integridade, sai o ex-campeão Fabio Quartararo. Fez mágica com a M1 que teve, a pior em muitos anos. Reclamou do motor o quanto pode, mas quando não adiantou mais reclamar, motores selados, baixou a cabeça e colocou no chão uma performance inacreditável. Perder por apenas 17 pontos é muito pouco se compararmos a diferença de moto e de pilotos contra ele.
Parabéns Ducati Corse como um todo, a melhor equipe do início ao fim. A mais inovadora, a mais trabalhadora. Parabéns Francesco Bagnaia, sem sombra de dúvidas o melhor piloto de 2022.