Em todo esporte de alto nível a concentração, a confiança em si mesmo e acreditar na possibilidade da vitória é fundamental para as conquistas. Perdi as contas do número de jogos de tênis e de vôlei em que um time ganhou os dois primeiros sets, teve a possibilidade de fechar o terceiro, mas o perdeu, assim como os dois sets seguintes. A vantagem psicológica passou para o outro lado, a frustração interfere no desempenho, as bolas não entram e… adeus.
Bagnaia estava 91 pontos atrás do Quartararo ao termino do GP da Alemanha. As duas provas seguintes, Assen e Silverstone, foram vencidas pelo francês em 2021. Título decidido, certo?
Só que o campeão cometeu o erro que lhe custou o título. Caiu infantilmente em Assen, recebeu uma punição para Silverstone, e marcou apenas 8 pontos contra 50 do italiano. A diferença caiu para 49 pontos, depois de recuperar 42 em duas provas. Era possível! Veio o break e uma série de circuitos favoráveis à Ducati que tinham dado as primeiras vitórias ao Pecco em 2021. E a virada veio até com facilidade.
Eu me aborreço quando a imprensa tenta criar notícias onde não há. O pessoal do MotoGP chegou a chamar de “final dramática” uma prova onde o francês nunca chegou perto de ameaçar fazer o impossível, que seria ganhar com o italiano caindo ou quebrando. O título estava com o Bagnaia desde a bandeirada de Sepang e o resto é narrativa para tentar gerar emoção.
Emocionante foi a disputa do título da Moto2, onde, em determinado momento, Augusto Fernandes tinha apenas 0.5 pontos de vantagem sobre o Ogura, que estava em 2o, pressionando o Tony Arbolino. Aí o japonês caiu sozinho, o Beaubier, que estava incomodando o espanhol, caiu também, e o título estava no bolso antes da bandeirada. A equipe do Aki Ajo fez 1-2, Fernandes sobe para o MotoGP como campeão e único rookie de 2023, e o Pedro Acosta vai disputar com o Ogura, o Arbolino e, talvez, o Guevara, o título da Moto2 no ano que vem. O campeão da Moto3 fechou o ano no alto do pódio e é um piloto a se observar: me parece um novo fora de série no circuito.
ATÉ BREVE, SUZUKI
Não é a primeira vez que a Suzuki diz adeus, mas, neste momento, com a moto e a equipe que tem, essa decisão foi uma das mais equivocadas do ano. Uma empresa que faturou quase 24 Bilhões de dólares em 2020 não pode estar tão mal a ponto de não poder gastar 30 milhões em um esporte que lhe dá tanta visibilidade. Duas vitórias nas três últimas corridas do ano e eles se despedem em alto nível. Parabéns ao Rins por mais uma corrida impecável.
Espero que Rins e Mir dêem à Honda as informações corretas para corrigir a RC213V. Aliás, estou curioso para ver as primeiras reações deles quando experimentarem esse cavalo chucro que é a Honda em comparação com a dócil GSX-RR.
A corrida foi bem típica desse circuito apertado: decidida na largada. Rins foi impecável, Martin não repete na corrida o fenômeno que é na classificação, Márquez visivelmente não estava com uma moto competitiva e tinha que compensar nos freios o que perdia em aceleração, o que é factível por uma ou duas voltas, mas muito arriscado em uma corrida: acabou na brita. Ao final, disse que estava contente por ter descoberto alguma coisa positiva em Valencia. Veremos na terça. Miller correu burocraticamente até cair. Pra mim, em que pese a vitória tranquila da Suzuki, o piloto do dia foi o Binder. Ficou pra trás nas primeiras voltas, mas veio recuperando posições, arriscando ultrapassagens, e acabou o ano na mesma segunda posição em que o começou. Oliveira e Mir (5o e 6o) também fizeram corridas razoáveis, mas chegaram a mais de 7 segundos. Quartararo fez o que deu: correu a 110% da capacidade da Yamaha, é um piloto excepcional, mas acabou a corrida cansado e frustrado. Espero que o pessoal de Iwata lhe dê um bom motor em 2023.
Marini, Bastianini, Bagnaia e Morbidelli completaram os Top10, e acho que o Bagnaia se arriscou demais, sem necessidade. Com o fracasso das Aprilia (Aleix abandonou com um problema de alimentação de combustível e Maverick com um problema “na frente da moto”) a Yamaha tomou-lhe o segundo lugar no campeonato de Construtores, a KTM-RedBull o 2o no campeonato de Equipes, e Bastianini o 3o no campeonato de pilotos. A garagem da Ducati LeNovo vai ser animada em 2023…
Muita gente aliviada ao final deste campeonato. Ciabatti e Tardozzi em lágrimas na cerimônia de premiação que aconteceu à noite, pilotos trocando de equipe cheios de esperança de se recuperar de um ano ruim, e a promessa de um campeonato mais equilibrado e movimentado no ano que vem. Ainda não aceitei muito bem a introdução das sprint races no sábado, assim como vários pilotos. Haverá muitos pontos em jogo e o suspense sobre o campeão deverá se estender até a última prova.
A ver.
Amanhã começa tudo de novo e estarei de olho no teste.
Abraç