Três vitórias não acontecem por acaso

Todos os pilotos de alto nível são unânimes em afirmar que a primeira vitória é a mais difícil. Muitos pilotos nunca vão experimentar o lugar mais alto do pódio e um bom número deles nunca chegam a repetir a experiência. A primeira vitória do Miguel de Oliveira foi meio no susto, aproveitando-se da disputa entre os dois primeiros na última curva. A segunda foi uma vitória de sonho, com pole e volta mais rápida no seu país, mas era a última prova do ano, tudo praticamente decidido, uma pista que poucos conheciam. Esta terceira vitória consolida uma carreira de muito sucesso e abre caminho para um futuro promissor. O português não é o favorito da KTM, que morre de amores pelo Binder. O Binder subiu da Moto 2 para a equipe oficial, quando o Miguel já estava na Tech 3. O Binder teve o contrato renovado até 2024 esta semana. Só que é o Miguel que tem 3 vitórias e um segundo lugar pela marca… vai entender!

E o que deve passar pela cabeça do Pol Espargaró, comendo o pão que o diabo amassou em uma Honda ruim enquanto a KTM está disputando as primeiras colocações? O Mario Barreto lembrou também do Zarco, mas o francês tinha um clima péssimo na equipe, enquanto o caçula dos Espargaró era o queridinho dos austríacos. Só quem trabalhou com um chefe tóxico entende por que o francês chutou um contrato com uma equipe de fábrica…

Na coluna anterior eu dizia que a dupla Quartararo/M1 era imbatível, a menos que acontecesse alguma excepcionalidade. E aconteceu. No FP4 as Yamahas, Viñales e Morbidelli inclusos, mostraram um ritmo bem melhor que os demais. Somente Oliveira e Zarco demonstravam ter fôlego para acompanhar, Mir um pouco mais abaixo. O francês era quase meio segundo mais rápido, seja com o pneu traseiro médio, seja com o duro.

A questão é que a Yamaha precisa de pista livre à frente para poder explorar a sua velocidade de curva e tanto Miller quanto Oliveira conseguiram ficar à frente do Quartararo. Na segunda volta, na afobação de tomar o 2º lugar do Miller, o francês errou no pequeno S das curvas 7 e 8 e perdeu mais duas posições, para Mir e Aleix Esparagaró, e mais uma para o Zarco no final da reta, com o Viñales grudado na sua traseira. Foram 10 voltas para conseguir chegar e ultrapassar o português e esse esforço se refletiu na degradação do pneu dianteiro, tanto que ele só conseguiu sustentar a liderança por uma volta e meia. Depois saiu da pista ao perder a 2ª posição para o Zarco e ainda teve o incidente do macacão aberto. As duas punições de 3 segundos podem parecer injustas, mas foram dadas segundo as regras. O Nakagami teve que fazer duas voltas longas por ter saído da pista na curva 1 e por não ter cumprido a volta longa dentro das linhas. Regras são regras, doa a quem doer. Andar com o macacão aberto foi um grande risco para o próprio Quartararo que teria perdido muito mais do que 3 segundos para diminuir a velocidade o suficiente para fechá-lo.

Zarco fez um bom segundo, mas poderia ter ganhado se não tivesse ficado tantas voltas atrás do Miller, quando era visivelmente mais rápido. O australiano salvou um bom terceiro, seguido por Mir, Viñales e Quartararo. Viñales anda meio na corda bamba… está no 3º engenheiro e não consegue andar como o francês. Hoje ele testou um swing arm de carbono e foi o mais rápido do teste, mas treino é treino e corrida é outro papo.

Marquez chegou a andar em 5º na corrida, mesmo largando em 13º. Caiu pela 3ª vez seguida, o que foi ruim, mas mostrou combatividade, o que foi bom. Hoje foi quem mais rodou: 87 voltas. Segundo o próprio, acabou o dia “moído”, mas feliz por terem encontrado algumas soluções para os problemas da moto. Os 4 pilotos da marca deram 296 voltas no circuito, e o japonês acabou o dia em 3º na tabela.

A Suzuki esteve presente com Mir e Guintoli. Mir fez um desabafo durante o fim de semana, alegando que pilotava exatamente a mesma moto do ano passado, mas a concorrência tinha evoluído. Eu, particularmente, acho o Mir um campeão meia-boca. Considero mais que os demais pilotos perderam o campeonato de 2020 do que ele o tenha conquistado, mas a sua reclamação faz sentido. A saída do Davide Brívio está sendo sentida, e o RIns, coitado, depois de cair 4 corridas seguidas conseguiu quebrar o braço andando de bicicleta e zerou em mais uma. Parece que voltará na Alemanha. Veremos.

Aleix não andou na Aprilia hoje. Um fato curioso: os mecânicos estavam vendo um líquido pingar da moto e acharam que poderia ser um vazamento. Na verdade, foram dois pontos da recente operação de arm pump que o catalão fez que estouraram e o líquido estava vazando do seu braço!!!

Por fim, o azar do Quartararo fez bem ao campeonato. Eu ainda acho que ele tem tudo para ser campeão, mas haverá duas corridas na Austria que favorecerão Ducatis e KTMs então ainda há muita emoção pela frente.

Na Moto 2 Remy Gardner concluiu uma semana de sonho com nova vitória sobre seu companheiro de equipe, Raul Fernandez. Ele deixou o companheiro liderar por várias voltas, poupando pneus e força física. No final, passou e abriu 1.8s em 3 voltas. A equipe Red Bull Aki Ajo lidera disparado. Xavi Vierge conseguiu o primeiro pódio para a Petronas na Moto2, chegando à frente do Bezzecchi.

A Moto 3 viu nova vitória do Sergio Garcia, que herdou a moto campeã do Arenas. Pedro Costa chegou em 7º. Continuo achando que o garoto é um fenômeno, mas fizeram tanta festa em volta dele, falando até em ir direto para o MotoGP, e ele teve dois oitavos e um sétimo. Continua liderando com folga, 39 pontos à frente do vencedor da prova, mas está na hora de reagir. A questão é que 15 pilotos freiam juntos no final da reta na última volta do Moto 3. Aí é uma questão de conseguir se posicionar porque às vezes o que era líder sai da primeira curva em 10º e adeus pódio.

Na Moto-E foi uma “semana não”. Com a 3ª pole consecutiva e tudo para vencer a prova o Granado conseguiu deixar a moto apagar. Levantou o braço antes de tentar um reset, que funcionou, mas ao levantar o braço se condenou a largar dos boxes. E dando soquinhos na moto e chacoalhando a cabeça… assim ele não vai longe. Fez uma prova sensacional, estava em 10º no início da última volta com chances reais de chegar em 9º, mas caiu e zerou mais uma vez. E ele é o mais rápido disparado… vejamos se consegue ganhar as próximas corridas.

Auf wiedersehn na Alemanha. Será que o Marquez desencanta?

Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.

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