Motos de GP – Pneus

Os pneus nas motos de GP sempre foram um item decisivo no pacote completo da moto. Afinal, toda a moto fica ali apoiada naquele pedacinho de borracha que encosta no chão.

Não é só a qualidade da borracha, mas sim e principalmente o comportamento da carcaça, e a durabilidade da “fase boa” dele na pista.

Diferentemente do WSBK, onde os pneus teoricamente tem que ser DOT e a Pirelli diz aproveitar a tecnologia para a rua, vc pode comprar um pneu de WSBK, no MotoGP, novamente, são pneus exclusivos e feitos só para as corridas e muitas vezes feitos só para uma pista específica, pois tem dureza e assimetrias que correspondem ao tipo de asfalto e ao número de curvas para cada lado.

Podem existir histórias anteriores, mas desde que eu me entendo por gente, a história de pneu fazendo diferença começou com Kenny Roberts e seus Goodyear em 1978. Barry Sheene corria de Michelin e a combinação do estilo de pilotagem diferente de Roberts, criado em dirt tracks mais o desempenho diferente dos Goodyear, fizeram total diferença e deram a ele o título. Era tudo, piloto+moto+pneu, mas ele não conseguiria pilotar do jeito que fazia, usando Michelins.

Hoje temos apenas um fabricante fornecendo todos os pneus, em igualdade de condições, mas não era assim. O pau comia entre os fabricantes e quem fornecia o melhor pneu, ganhava o campeonato.

Na Era Rossi, todos corriam de Michelin, mas os pneus não eram iguais. A Yamaha, por exemplo, pagava mais de 4 milhões de dólares por ano para ser uma cliente especial da Michelin, e muitas vezes os franceses saíam dos treinos de sábado com demandas que eram atendidas apenas para Valentino Rossi, em um pneu exclusivo fabricado durante a noite e vindo de helicóptero direto de Clermont Ferrand. Vou te dizer… assim era mole.

Depois, teve o advento da Bridgestone, que começou a desenvolver pneus com a Ducati e chegou em um ponto  em que se você não tivesse um Bridgestone, principalmente o dianteiro, você estava enrascado. A Bridgestone construiu um pneu dianteiro infernal que dava saudade em todos os pilotos até pouco tempo. Agora já devem ter esquecido.

E a Dorna, em mais um movimento para igualar as motos e baixar o custo, inventou esta parada de fornecedor único e limite de pneus. A Bridgestone ganhou, ficou por um tempo fornecendo e depois a Michelin retomou.

Foi um Deus nos Acuda, porque as motos estavam todas sendo construídas de chassi, suspensão e eletrônica, para o comportamento dos pneus japoneses. A Michelin veio com pneus diferentes, um dianteiro considerado pior, mas um traseiro considerado melhor. Imaginem o que aconteceu com a programação das motos e com as regulagens, um caos.

Mas um caos prá todo mundo, e todos tiveram que se adaptar. Uns mais rápido do que outros, e o novo comportamento favoreceu as Yamaha e Suzuki, prejudicando Honda e Ducati. Estas motos mais fortes dependiam muito de uma freada fortíssima no final das retas, quando faziam uma curva quadrada. Passavam de passagem na reta, chegavam no Apex com uns 15 km a mais do que as motos mais lentas, davam uma alicatada para quase parar a moto, viravam rapidamente e pau na máquina. Até hoje são meio assim, enquanto que Yamaha e Suzuki não freiam tanto e fazem a curva muito mais rápido, ficam mais tempo na curva e acelerando, com os dois pneus no chão. Gastam menos pneu e não precisam de um pneu dianteiro tão duro de carcassa como era o Bridgestone anterior.

Por isso a dificuldade que Quartararo tem de ultrapassar, estas motos com mais motor quase param na frente dele nas curvas, e ele não tem por onde passar. As M1 precisam de pista livre na frente para fazer tempo.

No final, apesar de isso diminuir a concorrência e o desempenho dos pneus, este esquema de fornecedor único foi bom para o MotoGP. Menos uma variável caríssima para administrar, motos andando mais perto e engenheiros com mais trabalho para fazer.

É como eu disse antes, a moto de GP é toda articulada, cada parte é feita para a outra, mas como os pneus vem de fora, acaba que muito do chassi, suspensões e motor são amarrados no desempenho dos pneus.

O estado atual é: Pneus traseiros ótimos, Pneus dianteiros chegando lá.

Nossa moto de GP já tem chassi, suspensão e pneus. Na próxima vou falar dos motores.

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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