A Yamaha DT 180 é talvez a moto mais importante da Yamaha aqui no Brasil. Foi a primeira moto decente a ser fabricada e vendida aqui no Brasil, anos-luz na frente das motos que ela fabricava e vendia por aqui, que eram as RX e TT, as “Tentativas de Trail”.
A moto era moderna. Bonita. Potente, com 16.6 CVs, bem suspensa com boas suspensões dianteiras e a inédita, no Brasil, suspensão monoshock na traseira. Era uma suspensão traseira do tipo cantilever, sem progressividade variável, mas MUITO superior a tudo o que tínhamos visto. A descarga era boa, saía por cima. O motor, além das válvulas de palheta do Torque Induction, apresentou o YEIS, Yamaha Energy Induction System, a garrafinha de mistura que ajudava na carburação. Adeus para a janelinha de óleo 2T, ela apresentou uma lâmpada no painel para indicar o nível. Razoávelmente bem acabada, a motoca era uma nave espacial perto da TT 125 e Tork 125, que eram as motos de trilha que tínhamos por aqui.
A DT era muito superior no papel e também andando. Forte, leve, magrela, resistente, praticamente inventou o off-road brasileiro, pois finalmente tínhamos uma moto adequada disponível, ainda que cara, na revenda. Reinou no seu lançamento em 1981.
Em 1983 recebeu a sua primeira atualização, uma marcha a mais no motor, e uma nova balança traseira com seção quadrada, seu nome foi DT 180 Super, ou Six Speed.
Foi a minha primeira. Comprei uma DT 180 Super mas andei pouco com ela na rua. Quase que imediatamente comecei a correr com ela. Lembro-me de minha primeira corrida, em Piratininga, quando cheguei andando com a moto, desmontei ela toda no box, fiz a corrida ( cheguei em quinto na estreante ), montei a moto depois da corrida e voltei prá casa. Disposição. Me empolguei depois, vendi esta moto e comprei Yamahas MX para correr o estadual e Hollywood. Eu e o meu amigo e piloto Paulo Monteiro, fizemos todos os tipos de experiências com os pistões e cilindros das MX… e acabamos correndo com um carburador imenso de 34 e powerjet, que era de uma Honda MT. As motos andavam demais, até quebrar as rodas e “selar” os quadros, que íamos medindo pelo tamanho da mangueirinha de gasolina. Ô tempo bom.
Uma DT acertadinha é INQUEBRÁVEL, uma moto que você pode usar na rua, na trilha, em motocross… Incrível.
Em 1985, ao começar a levar um calor da Agrale, a Yamaha se mexeu atualizando o tanque e passando a moto para 12V, DT180N. Logo depois lançou a DT180Z, que era a mesma coisa, mas com freio a disco.
Daí até o seu final, em 1997, a moto não mexeu mais quase nada. Apenas detalhes. Sempre boa moto, mas a Agrale era refrigerada a água, muito mais forte, o SoftDump tinha progressividade variável, sempre foram 12V… a DT ficou apenas com a sua resistência, pois as Agrales eram na maioria das vezes, mais frágeis.
Apesar de ser uma moto barata de ter e manter, inexplicavelmente a maioria das DT eram surradas sem pena. Era difícil ver uma DT mais usadinha inteirinha. E, com o advento da Honda XL250, os mais ricos passaram a usar a Honda, também muito boa, mais econômica, mais silenciosa, menos fedorenta, melhor suspensa, mais forte. O único ponto fraco da Honda, frente a DT 180 era o seu peso e ser 4T, que na época ainda era “estranho” no off-road. Hoje, e tem muito tempo, não é mais.
Meu amigo e colecionador Bernardo Britto tem uma linda DT180 Super 1983, igualzinha a que eu tive, novinha, placa preta. Estou com ela esta semana em que ele viajou. Estou adorando, que coisa gostosa é uma DT 180 2T apitando levinha e cheirosinha. Com os óleos modernos 2T que temos hoje em dia, elas fazem pouca fumaça e o cheiro, além de gostoso, não impregna.
Pega fácil no pedal e sai toda espertinha, realmente muito rápida na largada. Vibra pouco, faz pouco barulho também, uma vez que está toda original. O motor, justinho, fica pedindo aquelas limpadinhas de munheca… os motores 2T são impagáveis.
Dei um rolézinho bacana com ela e publiquei lá no meu Blog Olhando a Cidade. Vejam clicando aqui.
Não fosse a pressão ecológica, uma DT 180 venderia bem até hoje, acho eu, desde que fosse barata. Desempenho mecânico (motor, suspensões, freios) ela tem. Bastaria uma atualização no design, um painel eletrônico moderninho e pronto, teríamos por aí uma moto talvez mais capaz do que as Crossers e Landers que temos por aí.
Obrigado Bernardo por emprestar a sua lindinha. Está sendo bem cuidada.