SENTA E ABRE UMA BEBIDA

Porque a coluna vai ser longa. Muita coisa para falar sobre esse GP da Alemanha e sobre os rumos do campeonato.

Vamos começar parabenizando a Ducati, que colocou todas as suas 8 motos no Top9. Apenas Miller e sua KTM conseguiu se infiltrar ali no 6° lugar. No mais, foi uma merecida festa bolonhesa.

Aparentemente o teste em Jerez ajudou a consolidar Ducati e KTM como as forças do momento, com Aprilia perdendo potencial e Honda e Yamaha definitivamente dois degraus abaixo. Vejam que os pódios da Sprint Race e das corridas na França, Italia e Alemanha tiveram 16 aparições da Ducati e 2 da KTM, essas sempre nas corridas curtas. É o resultado de muito investimento e constante inovação e refinamento. Gigi Dall’Igna é O cara.

Por outro lado, é de dar pena ver Marc Marquez e Quartararo, dois dos melhores pilotos do grid, lutando com equipamentos que não acompanham a evolução da concorrência. Quem é campeão não se acostuma a correr para chegar.

Na minha última coluna eu perguntava se a Honda ia conseguir reunir 4 pilotos em Sachsenring. Não conseguiu e Nakagami foi o único representante da marca. Reclamando muito, porque também machucou a mão em um tombo na curva 1. Mir e Rins, que ninguém pode questionar a qualidade, também estão pagando o preço de uma moto que não dá o devido feedback antes de sair debaixo do piloto.

Andei lendo algumas críticas levianas e sem sentido aos pilotos da Honda, pois “estariam andando além do limite”. Pombas, é pra isso que são pagos! Para descobrir o limite, tem que ir além dele. Daí a existência de inúmeras salvadas do Marc Marquez, quando a moto dava margem pra isso. Neste fim-de-semana o octacampeão caiu 5 vezes, e ainda teve uma quase queda na curva 11 que foi um belo sacode. Na queda no warmup, um high side a 170 Km/h, ele tirou um tempo para pensar. MM nunca teve receio de cair, mas era para vencer ou estar no pódio. Ficar se arriscando pra chegar em 10°… assim que o vi pensativo, mandei mensagens pro Mario e pro meu filho dizendo que ele provavelmente não correria. Não por causa do tornozelo ou do dedão, mas porque não havia nenhuma esperança de uma recompensa que valesse o risco.

Outro que não correria se tivesse uma boa desculpa é o francês, que ganhou a corrida no ano passado. Quartararo chegou 2s atrás do Morbidelli e 25s atrás do Jorge Martin. Isso dá mais de 8 décimos por volta: uma eternidade. Ele foi 5s mais lento do que em 2022.

Aliás, o GP de Sachsenring não é um circuito onde se percebia uma grande evolução das motos até este ano, quando o tempo de prova ficou significativamente abaixo de 41 minutos. Vejam:

2015: 41’01″1
2016: 47’03″2 (choveu)
2017: 40’59″5
2018: 41’05″0
2019: 41’08″3
2021: 41’07″2
2022: 41’12″8
2023: 40’52″4

É claro que a temperatura e o clima são variáveis importantes nessa análise, mas imaginem a motivação de um campeão do mundo como El Diablo ao perceber que os rivais foram 20s mais rápidos e ele 5s mais lento.

O fato é que todos querem andar em uma moto com potencial para vencer e, no momento, são apenas 12 assentos. E tem dois sujeitos querendo subir do Moto2: Pedro Acosta, que dominou o GP, e Tony Arbolino, que minimizou as perdas chegando em 2° e continua 15 pontos à frente no campeonato.

Quem vai liberar os bons assentos? Fala-se em Bezzecchi na Pramac e Morbidelli na VR46. Arbolino na Gresini, Acosta em alguma KTM. Não é um bom momento para estar machucado: Pol Espargaró deve estar se coçando pra voltar ao grid. Augusto Fernandez está fazendo um bom trabalho: vão ter coragem de botá-lo pra escanteio? Zarco não tem brilhado, mas fez 3 terceiros nas últimas 3 corridas e dizem que o Gigi gosta muito dos feedbacks que ele dá dos novos desenvolvimentos.

Ainda há muitas corridas pela frente, mas a silly season já começou e muito papel será assinado antes do GP de Silverstone.

Falando em futuro: cadê o Viñales? Desde o 4° lugar no GP das Americas o sujeito desapareceu. Conseguiu um 12° em Mugello, não pontuou em Jerez e Le Mans, e foi traído pelo motor neste domingo, mas… ele já estava lá atrás. A Aprilia criou uma moto revolucionária, onde tudo foi projetado para o novo conceito de aerodinâmica. Aí não sei se faltou piloto ou dinheiro, mas certamente a ambição de uma pole ou vitória não está mais lá. Torço muito pelo Oliveira, que ainda não está 100% fisicamente. Conto com ele e Bastianini para darem uma apimentada na segunda metade do campeonato.

O momento é do Jorge Martin: presente no pódio nas corridas e nas sprint races dos últimos 3 GPs, onde foi o maior pontuador. Encostou a 16 pontos do Bagnaia e não é de respeitar ninguém. Mario achou que o Bagnaia não quis arriscar. Eu acredito que o Martinator não deu oportunidade. Há alguns pilotos da academia que têm muito respeito pelo Bagnaia. Marini, por exemplo, largou melhor no domingo e tinha tudo pra ficar em segundo, atrás do cavalo paraguaio 43, mas afinou pro Pecco. Os deuses das corridas não perdoam quem respeita o adversário a ponto de tirar a mão. Deixaram o espanhol tomar gosto pela vitória e isso vai aquecer o campeonato, porque o Martin não é um líder constrangido como o Bezzecchi. Vai partir pra cima. A Pramac lidera o campeonato de equipes com uma certa folga. Será que chegou a hora de uma equipe satélite fazer o campeão?

Outro ponto a discutir é a PÉSSIMA localização da saída dos boxes de Sachsenring. Além do horrivel acidente entre a moto do Marquez e a do Zarco, o mesmo quase aconteceu entre a moto do Viñales e a do Alex Marquez. Não bateram por 10 centímetros. É preciso rever esse projeto.

Sobre a Sprint, o destaque vai para aquela que já considero a ultrapassagem do ano, quando o Martin passou Bagnaia e Miller na descida da 11 para a 12, quase perdeu a frente na Sachsen Kurve, mas salvou e abriu logo uma vantagem pro Pecco. Miller conseguiu salvar os pneus para ganhar mais uma medalha no sábado.

Sábado que viu o Eric Granado dar o tradicional tiro no pé que o impede de ser campeão na categoria em que é evidentemente o mais rápido. É dificil torcer por ele…

Por fim, na Moto3 uma ultrapassagem previsível na ultima curva da última volta deu a primeira vitória ao turco Deniz Oncu. O Sasaki deu o mole do ano… Holgado completou o pódio e ampliou a liderança. Nosso Diogo Moreira fez um razoável sétimo. Está faltando um tiquinho de alguma coisa para ele voltar a brigar pela liderança. Quem sabe na Holanda.

Agora é Assen, a Catedral. Será que a Ducati faz o Top8? Sou Martinator desde criancinha 🙂

Até lá!

Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.

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