Yamaha-Suzuki-Aprilia-Ducati-Honda-KTM… algo assim não acontecia desde 1972, o que mostra quão eficiente tem sido a Dorna em aumentar a competitividade da categoria rainha do motociclismo. A Aprilia finalmente chegou ao pódio e o mais velho dos Espargaró tem muito mérito nesse resultado: brigou como um leão. Rins finalmente voltou ao parc fermé, em um circuito que ele adora. Veio passando um a um e poderia ter incomodado o francês se tivesse largado melhor.
Não obstante todo o esforço da Dorna, o campeonato está praticamente decidido: a dupla Quartararo-Yamaha está redondinha e não vejo ninguém em condições de alcançá-la, principalmente com os 65 pontos de vantagem que ela tem no bolso. Zarco está andando para trás e Oliveira teve um momento excelente que se apagou depois do tombo no GP da Styria; o que é compreensível, já que as forças às quais o pulso é submetido durante a corrida são imensas e ele não tem conseguido dar 100%. Miller podia ter sido o grande rival de 2021 e é o único dos adversários que venceu mais de uma corrida, mas está 88 pontos atrás e só conseguiu um terceiro, enquanto o francês tem 8 pódios, com 5 vitórias e 3 terceiros. Como bem escreveu o Mário: Quartararo se casou com a M1 como nos bons tempos do Lorenzo. Basta dizer que as outras 3 Yamahas chegaram nas três últimas posições, com um Crutchlow sem ritmo a 23s, um Dixon, que veio para passear, a mais de 50s, e o Rossi, que andou em 6ª no começo da prova, a quase 30s, sem pneu traseiro. Uma pena, pois o pessoal estava torcendo bastante por ele, aplaudindo nas três primeiras voltas e se entristecendo quando ele começou a despencar nas posições.
Com toda a evolução acontecida nos últimos dois anos, a prova de 2021 foi 8 segundos mais lenta que a de 2019 (40’20.579 contra 40’12.799), mas as motos chegaram mais juntas: o 11º, Zarco, chegou a 16”339, enquanto que o 11º de 2019, Bagnaia, chegou a 40”317. Bagnaia foi o 13º de ontem a 20”913, depois de ter apostado em um pneu dianteiro macio, como Mir, que também perdeu posições por falta de aderência na frente. A escolha pelo pneu macio, feita pelo Quartararo, por exemplo, era justificável por causa da baixa temperatura, mas quem depende de frear forte, o que não é o caso do francês, acaba destruindo a borracha.
Por fim, quero destacar, mais uma vez, o Iker Lecuona. Eu fui o primeiro a torcer o nariz ao vê-lo subir para o MotoGP sem vitórias no Moto2. É um assunto que me incomoda: 55 corridas no Moto2, somente 2 pódios, nenhuma pole, nenhuma volta rápida, e o sujeito “fura a fila” para chegar na categoria onde correm os top riders? Mas algo aconteceu no verão porque ele voltou fazendo a sua KTM andar bem e ontem conseguiu um belo 7º lugar fazendo boas ultrapassagens bem na minha frente.
SILVERSTONE
Depois de ter vacilado em 2019, decidi que não poderia perder a chance de assistir uma corrida ao vivo mais uma vez. Silverstone é um lugar complicado para ir de transporte público, mas descobri uma companhia que fazia Londres-Silverstone-Londres e tudo funcionou no melhor estilo britânico. Escolhi uma arquibancada em frente às curvas Village e The Loop que são pontos conhecidos de ultrapassagem. Um enorme telão bem em frente com um ótimo sistema de som nos permitia acompanhar o que acontecia nos demais pontos do circuito e, dali, pude acompanhar as principais ultrapassagens do Quartararo e da Moto2 e Moto3.
Organização impecável com banheiros plenamente utilizáveis até depois da última corrida, boa variedade de food trucks (ou barraquinhas), de preço obviamente alto, mas gostei de tudo que comi. Muitas famílias e muitas mocinhas vestidas para o verão tremendo de frio, pois estava 13°C às 9h e a temperatura não passou dos 18°C, quando o sol aparecia por entre as nuvens.
Quanto à “feirinha”, o melhor stand era o da Ducati, com toda a linha disponível para selfies, e uma boa variedade de produtos Ducati Corse. KTM e Triumph também tinham boa presença, com motos e merchandising, e, com espaços um pouco menores, Suzuki e Yamaha. Até Harley Davidson tinha stand com motos, mas Honda e Aprilia não deram as caras, o quê, sinceramente, não entendo.
A barraca mais lotada era a VR46 (havia duas, talvez mais), mas comparado com outros GPs a que fui antes da pandemia, muitos pilotos e equipes não tinham qualquer presença com merchandising. Já fui a GPs onde havia material específico da Pramac, da Monster, da Repsol, até da Le0pard. Material para fãs de pilotos, só do Rossi, do Bagnaia, do Crutchlow, Rins e MM. Acho estranho o Mir não estar faturando o título. Procurei algo do Miguel Oliveira, em vão.
O que não funcionou mesmo foi a internet. Eu levei dois power banks para não ficar sem bateria e fazer lives para botar no instagram do Motozoo, mas não houve jeito: muita gente para pouca antena de serviço de dados. Para piorar, o site do MotoGP estava com problemas e só consegui usar o live timing durante a corrida principal nas 3 últimas voltas. Nas de Moto3 e Moto2, o live timing funcionou bem e ajuda a entender o que está acontecendo em todos os pelotões.
E a última reclamação: por quê comer a sobremesa antes do bife? Muita gente foi embora e não assistiu à ótima corrida da Moto2. Ficaram os ingleses, torcendo muito pelo Sam Lowes, mas a corrida foi ótima, com uma disputa ferrenha entre Gardner e Bezzecchi, um tombaço do Raul Fernandez bem à nossa frente, uma ótima recuperação do Navarro e boas disputas nas posições intermediárias. O australiano tem agora 44 confortáveis pontos de vantagem.
A Moto3 teve um Fenati (que é maluco, mas pilota MUITO) impecável, seguido do sumido e outrora promissor Nicolo Antonelli. Foggia, que está em litígio com a LeOpard, conseguiu mais um pódio, meio décimo de segundo à frente do bom Guevara. Suzuki, Masia e Binder trocaram várias vezes de posição ali na Village, assim como o animado grupo que brigou entre 11º e 18º, e que dentro de 0.7 segundos de diferença. Pedro Acosta e Sergio Garcia esfregaram carenagens várias vezes com vantagem para o líder do campeonato, que marcou 5 pontos contra 0 do adversário e abriu 46 pontos.
Marc Márquez fez uma besteira monumental e tirou da prova um piloto que podia pegar um pódio. Tem caído em momentos inoportunos e me parece que não está com a cabeça 100%, querendo botar a carroça na frente dos bois. A próxima corrida é Aragón, um circuito anti-horário do qual ele gosta e sempre vai bem. Depois Misano, playground da Yamaha, seguido de Austin, outro quintal do MM. Para saber se ele está realmente se recuperando vou vestir a máscara de Puig e botar a meta de 45 pontos nessas três provas: são dois terceiros e um quarto. Veremos.
Valeu a pena ir ao circuito e ver a galera se despedindo do Rossi com o maior carinho.
Até a próxima!