Os nove títulos de Vale!

Fui afortunado o suficiente para acompanhar de perto e seguir cada corrida, cada passo, cada conquista de Valentino Rossi no mundo dos GP’s.

Epa! Se ele participou de 44.4% de todos os GPs disputados desde 1949, e se eu comecei a acompanhar de perto os GPs antes dele, é provável que eu tenha acompanhado mais da metade de todos os GPs disputados. Um número também incrível.

Campeão de 125. Aprilia

Em 1997, de Aprilia, venceu aqui nas minhas barbas, no Rio de Janeiro, quando foi campeão mundial pela primeira vez, vencendo 11 das 15 provas. Deu pau no Ueda, que chegou em segundo. Moleque magrelo, sorridente, bagunceiro, parecendo descompromissado, parecendo um motoboy, mas já campeão do mundo. Eu estava lá. Alguma coisa já dizia que este moleque era diferente. Se vestia de Robin Hood, carregava uma boneca inflável, algo diferente, marqueteiro e inusitado no mundo dos GPs até então. Daí começou a fazer sua legião de fãs.

No pódium do Rio de Janeiro

Não foi campeão em 1998, levou pau do Loris Capirossi, também de Aprilia, na 250. Venceu mais, 5 x 2, mas é campeão quem marca mais pontos e Rossi teve que esperar até 1999 para ser campeão na 250, onde com 9 vitórias vingou-se de Capirossi, mas o vice foi Toru Okawa.

Finalmente campeão na 250. Aprilia

Neste ponto já era estrela, ganhava muito, sempre rindo muito, sempre dominando, inventando brincadeiras, já era uma estrela nos paddocks do mundo.

Fazendo suas comemorações memoráveis

Como a Aprilia RSW 500 não era uma moto para um campeão, apesar de Tetsuyo Harada ter chegado em décimo e marcado mais de 100 pontos em 1999, foi fácil para a Honda contratar a estrela em ascensão. Com a parada de Doohan, iriam precisar de um novo campeão e deram para ele Jeremy Burguess para ensiná-lo como usar uma NSR500 V4 2T de então. Não era a molezinha das 4T de hoje, as 500 2T precisavam de um alto grau de perícia para serem dominadas. Não se esperava que ele vencesse no primeiro ano, o de aprendizagem, mas ele quase chegou lá, foi vice campeão, ganhou 2 vezes e pela primeira vez teve que enfrentar Maximiliano Biaggi, Alex Barros e o campeão do ano, Kenny Roberts Jr. O buraco era mais embaixo. Como não era “prá valer mesmo” correu com a Honda amarela Nastro Azurro. Boa de tudo, mas as Repsol sagradas estavam na mão de ex-campeão Alex Crivillé e Okada.

Valentino Rossi vence no Rio em 2000. Alex Barros em segundo. Corridasso!

E a moto continuou amarela para 2001, quando então Rossi já mais experiente, deu pau no Biaggi de novo e foi campeão folgado, com mais de 100 pontos de vantagem e incríveis 11 vitórias no ano.

Em 2001 foi o ano da história cotovelada de Biaggi, que levou um dedão e perdeu a corrida.

Crivillé já apresentava seus problemas físicos que abreviariam sua carreira, de modo que para 2002 Rossi viria com o manto sagrado de Doohan, de Honda Repsol e, era o início da MotoGP, com a saída de cena das 500cc 2T e a entrada das 990 4T.

Em 2002 seria misto, poderiam correr motos 2T e 4T juntas e até o finalzinho do ano não se sabia se as novíssimas 4T iriam ser superiores as desenvolvidas 500 2T. Rossi mesmo, deixou em suspense sobre com qual moto correria mas quando colocou a mão na RCV211 5 cilindros 990 cc que a Honda fez, não teve dúvidas. A moto era muito mais rápida e fácil de andar. Com ela, Valentino Rossi passeou no campeonato, vencendo 11 das 16 corridas. A Honda venceu 14 destas corridas. A Yamaha começou mal no MotoGP, com uma moto de apenas 920cc e pasmem, carburada.

Mas aí, na renovação de contrato, Honda e Valentino se estranharam feio. Valentino se vendendo como incrível campeão imbatível e a Honda dizendo que a moto era imbatível. Para provar seu ponto, nas 4 últimas provas do campeonato já decidido em favor de Rossi e Honda, a Honda trouxe do Japão uma última RCV que ficava lá para testes, e deu-a para a equipe Pons disputar as últimas 4 provas. A equipe tinha Capirossi e Barros, mas como Capirossi já tinha acertado sua ida para a Ducati, a Honda decidiu que Alex Barros andaria com a moto.

E deu no que deu. Barros subiu na moto e venceu logo em sua primeira corrida. E olha que esta moto não estava atualizada como a moto de Rossi. Ramon Forcada acertou a moto e Alex Barros fez ainda um terceiro, um segundo e voltou a vencer na última etapa do campeonato, marcando mais pontos do que Rossi neste que foi chamado de mundialito. A Honda se encheu de moral, provou que “qualquer” piloto de ponta com uma RCV211 ganharia com a moto. Mas Rossi ficou puto e secretamente acertou de começar na Yamaha em 2004.

Contando 4 títulos. 125, 250, 500 e o primeiro MotoGP

Para 2003, que ninguém sabia que seria a despedida dele da Honda, as coisas foram tranquilas no campeonato. A Yamaha já acertada com Rossi, contratou Alex Barros, Checa, Melandri e Nakano, e passou o ano inteirinho desenvolvendo a moto de 2004, sem realmente querer disputar o campeonato. Tanto que a primeira Yamaha foi a de Carlos Checa, em sétimo lugar no final do ano. Com a Ducati estreando, a Honda venceu 15 das 16 provas. Seu maior adversário foi o neto do Comendador Bulto, Sete Gibernau, que herdou a moto de Daijiro Kato para vencer 4 vezes neste ano. A moto de Biaggi não era tão boa. A superioridade da Honda RCV era avassaladora.

Rossi contando… 5. No Rio de Janeiro

2004 foi um ano incrível para o MotoGP e Valentino Rossi. A Honda ficou puta com a armação e segurou Rossi até o dia 31 de dezembro de 2003 sem poder encostar 1 dedinho na sua nova Yamaha. Na primeira oportunidade em que Rossi e M1 se encontraram, a Yamaha levou uns 3 chassi, 2 motores e umas 5 balanças traseiras para Rossi escolher. Tudo desenvolvido secretamente por Barros, Checa, Melandri. Rossi testou tudo, mandou o motor de 5 válvulas para o túmulo e montou uma M1 que foi capaz de vencer em sua primeira aparição. Foi a primeira vez que isso acontecia e significou muito para Valentino Rossi, pois, para ele, provou que ele era melhor do que a moto. Venceu 9 vezes com a Yamaha, Sete Gibernau nunca provou-se um concorrente a altura. Alex Barros, contratado sem estar 100% em condições e contrariando os espanhóis da Repsol, não fez uma boa temporada. Nem Biaggi, que não teve o melhor equipamento disponível. A Honda sentiu o golpe e a Yamaha venceu, após 12 anos sem vitória na categoria principal.

Sua primeira M1. 2004

Para 2005 a Yamaha desenvolveu ainda mais a sua M1, Valentino Rossi estava no seu auge, a Yamaha completamente in love com seu piloto, a Honda ainda um pouco atordoada. Tivemos 12 pilotos Honda na pista nesta temporada, pilotos bons como Alex Barros, Max Biaggi, Marco Melandri, Sete Gibernau, Troy Bayliss, Chris Vermeullen, mas ninguém chegou perto de Valentino Rossi. Nesta temporada Rossi fez pódium em 16 das 17 corridas, com 11 vitórias. O vice campeão foi Marco Melandri, mas a 147 pontos de distância.

M1 e Rossi em pintura especial Yamaha 50 anos. 2005 Laguna Seca

Esta era uma época em que ainda existia concorrência de pneus. A Yamaha pagava uma fortuna para a Michelin. Nas corridas européias rolava a lenda dos pneus fresquinhos, fabricados durante a madrugada segundo especificações do último treino de Rossi, e transportados de helicóptero direto de Clermont Ferrand para a pista. Rossi estava como pinto no lixo, insuperável na pista e fora dela.

Em 2006, surpresa, Rossi perdeu o campeonato para Nick Hayden por míseros 5 pontos. Mesmo vencendo 5 vezes contra apenas 2 de Nick Hayden, sua Yamaha quebrou 3 vezes durante o ano. O incrível foi que a vitória de Toni Elias, por apenas 0.002 segundos no GP de Portugal, definiu o campeonato. Estes 0.002 custaram-lhe o campeonato.

Em 2007, Rossi sofre outra derrota, com a vitória de Casey Stoner no campeonato. Um campeonato atípico, pois foi o primeiro sob as novas regras de cilindrada, agora de 800cc. A Ducati adiantou uns 6 meses o seu programa de testes para a GP7, coisa que Honda e Yamaha não puderam se dar ao luxo de fazer, pois disputaram o campeonato de 2006 até a rodada final. Quando o campeonato começou levaram um susto, pois a Ducati GP7 800cc andava muito mais de reta do que qualquer japonesa. E como Casey Stoner era também um fenômeno, venceu 10 das 18 provas, esmagando o segundo colocado em mais de 140 pontos, Dani Pedrosa. Rossi ficou apenas em terceiro lugar, mas venceu 4 vezes no ano.

Valentino e Alex Barros dividem pódium na Itália em 2007. Vale venceu, Barros foi terceiro de Ducati.

2008 foi um ano especial para Rossi. Depois de perder 2 anos seguidos, alguns duvidavam de que ele seria capaz de vencer novamente, com a ascensão de Stoner, Pedrosa, a chegada de Jorge Lorenzo. Ao contrário disso, Rossi veio forte e venceu 9 vezes, metade das 18 provas do ano, e fez pódium em 17, sendo o seu pior resultado um quinto lugar na abertura do campeonato. Abriu quase 100 pontos sobre Stoner e conquistou o seu sexto título a categoria principal, oitavo título de campeão do mundo.

Oito vezes campeão do mundo. M1 2008

Rossi venceu novamente, e pela última vez, em 2009. Foi o primeiro ano de pneus únicos, Bridgestones, e seu maior adversário foi seu companheiro de equipe Jorge Lorenzo. O ano foi marcado também pelos problemas de saúde de Casey Stoner, que a certa altura teve que parar no campeonato e perdeu 3 provas seguidas. As Yamahas venceram 10 das 17 provas do ano. E teve o duelo da Catalunha!

https://www.youtube.com/watch?v=PcKmCVM5sFo

Daí para frente, Valentino Rossi não venceu mais campeonatos.  Correu em 2010 para terceiro lugar no campeonato, ficou irritado com a moral que a Yamaha estava dando para o novo campeão Jorge Lorenzo e foi para a Ducati. Mas, daqui prá frente é outra história e se meus leitores implorarem, eu continuo contando deste jeito!!!

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

Um comentário em “Os nove títulos de Vale!”

Deixe seu comentário!

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.