O Rogério Botelho da RaceIT, a melhor casa de capacetes da cidade, comprou esta RD350LC tem tempo e desde o primeiro dia eu vinha prometendo pegar ela para fazer um texto aqui para o Motozoo®.
Minha vida motociclistica começou em 1977, quando mamãe me deu uma Yamaha RD50. Já comecei de RD. Depois dela eu tive uma RD125 linda, que me arrependo muito de ter vendido, uma R5F toda trepada de RD350, uma RD350B vinho que era o sonho da galera da época, com rodas de magnésio que pesavam 4 toneladas, uma RD-Z125 das primeiras e finalmente uma RD350LC também das primeiras, a preta e vermelha.
Com esta última eu quase me matei, fiz uma cagada na Avenida Presidente Vargas, dei PT num Opala e voei até quase cair dentro do Campo de Santana. Eu era novo e a TV Globo gastou uma grana comigo. Hoje em dia eu iria para o saco ali na hora, foi um porradão muito forte, mas aos vinte e poucos anos é difícil de matar, somos muito resistentes. Como piloto de MX eu caí e quebrei-me inúmeras vezes, mas acidente mesmo, foi só este em toda a minha vida.
A RD350LC quando foi lançada foi uma sensação. Bonita e tecnológica no último furo (YPVS e YEIS), virou objeto de desejo de todos os Yamahistas que não suportavam as CB400. As CB eram excelentes motos, muito melhores do que as velhas motos sem manutenção que tínhamos por aqui, mas era outro mundo… um mundo em que ainda eram permitidas motos de 2 tempos. E motor de 2 tempos é outra parada… é pura magia e encantamento quando ele chega no seu ponto de “cruzamento”, quando a potência chega e ele começa a gritar lisinho e explode prá frente. Esta explosão nem precisa ser muito forte, pode ser uma explosão de cinquentinha, de DT180 ou de RD350LC, o que importa é a sensação diferente e boa que isso causa.
Chegaram caras no Brasil e seu comprei a minha um tico mais barata porque ela tinha caído e quebrado a sua carenagem superior. Nem quebrou farol e sequer amassou a aranha, quebrou só a carenagem mesmo, a moto estava novinha, mas com cara de toda quebrada e pude fazer uma oferta boa, que foi aceita. Comprei e virei o cara mais feliz do mundo.
Eu estava doido para andar de RD350LC novamente porque seria a primeira vez em que eu andaria com uma depois que eu aprendi a andar de moto. Antes, até eu finalmente entender e aprender a andar de moto, já com quase 40 anos de idade, eu era muito prego. Aprendi com Keith Code, lendo seus livros, ficando seu amigo, fazendo seus cursos e trazendo-o ao Brasil. Tive o meu momento de iluminação e hoje posso dizer que sei pilotar uma motocicleta. Não estou me gabando de que sou rápido, estou me gabando de que sei pilotar uma moto, mantenho-me no controle o tempo todo e faço do motociclismo uma atividade cerebral e muito mais segura. Vejam mais sobre isto clicando aqui.
Então esta seria a minha primeira oportunidade de andar de RD350LC depois que eu aprendi a andar de moto. E como foi?
Peguei a moto lá na RaceIT, na Barra da Tijuca. Ela está linda, mas é uma velha senhora. Não é moto de coleção, é usada normalmente e não está perfeita como zero. Para atingir a perfeição precisaria de um investimento em suas suspensões e freios. Mas mesmo uma zero km, hoje ficaria devendo muito neste quesito. Suspensões, pneus e freios evoluíram mais do que os motores neste período.
A moto parece magrela e pequena, mas andando ela fica de um tamanho bom. É muito leve e se você perguntar a qualquer piloto se ele prefere mais 10Cvs ou menos 10Kg, ele vai escolher menos peso. É uma vantagem que Dani Pedrosa e Alvaro Bautista carregam em suas motos… Ela não tem um apoio dianteiro como hoje em dia estamos acostumados… sua roda dianteira é fina, parece grande e você tem uma posição mais para trás, um pouco mais neutra do que as esportivas de hoje, que se apoiam em pneus grossos dianteiros. É muito bem equilibrada de medidas de chassi, que é também um chassi muito bom, treliçado, comunicativo.
O acabamento é muito ruim, se comparado com hoje em dia. Até a Ducati aparecer com a 916 toda cheia de peças bem acabadas de alumínio de conseguir vender por 20K de dólares, as japonesas custavam 10K e eram feitas de ferro soldado. Um lixo. Quando viram que era possível custar mais e fazer melhor, elas correram atrás e hoje custam quase a mesma coisa do que as italianas, com um acabamento infinitamente superior ao que era normal na época. E a Yamaha era conhecida por ser uma marca espartana e de desempenho, o que só piorava as coisas. As Hondas sempre tiveram uma maior preocupação com o acabamento.
Aí abrimos a gasolina e metemos o pé no quick, não tinha partida elétrica, e a emoção começa… O motor é levinho, pega de primeira, faz aquele sonzinho maravilhoso e… não faz fumaça… O Rogério está usando um óleo 2T sintético da Motul que não faz fumaça. Um assombro e dá até medo.
A idéia era subir a serra de Petrópolis com ela, ir no Gallery encontrar o Guaraci e fotografar ela ao lado das RD350 que o Guara mantém lá no Museu. Eu pedi até para ele ativar uma delas prá gente ligar uma do lado da outra. Ele topou, mas pediu-me 15 dias para isso, e eu não tinha. E quando cheguei lá ele não estava, tinha ido almoçar e com medo de perder a corrida sprint da Argentina, toquei prá casa.
A moto está com o motor excelente, carburação perfeita e com descargas esportivas que são silenciosas e gostosas. Como tem anos que eu praticamente só ando de Ducati e Aprilia V2, estou muito mal acostumado e preguiçoso com o meu pé esquerdo no câmbio. Estes motorzões tem torque prá caramba e vc pode acelerar de qualquer marcha que elas vão. A RD não… para ela andar vc tem que ficar sapateando no câmbio para deixá-la alegrinha e pronta para disparar mantendo-a por volta dos 7 mil giros. Mas, como esta moto está perfeitamente regulada, é possível e gostosíssimo andar nos 5 mil giros sem nenhum tipo de engasgo ou sensação estranha. Inclusive é uma delícia o som que sai das descargas, só não tem potência. Mesmo com o YPVS (Yamaha Power Valve System), para andar mesmo, tem que subir o giro para 7 mil ou mais. A janelinha mágica é entre 7 e 9.5 mil giros, mas é cansativo mantê-la aí o tempo todo, ela fica muito nervosinha.
Subi a serra em surpreendente velocidade, muito embalado e aproveitando-me do tamanho e peso da moto. Isso permite embalar muito e frear muito mais fácil. No trecho da BR-40 até Itaipava ela chegou fácil até uns 180 km/h, mas é uma 350cc capaz de andar por horas a 150 km/h na maior tranquilidade e conforto. Uma coisa difícil até hoje para esta cilindrada. Parece não estar vibrando nada, muito lisinha, mas ao parar percebe-se que sua mão está dormente… é uma vibração diferente, de alta frequência, que incomoda muito menos, mas está lá.
Foi uma experiência adorável. Pensávamos, eu e o Rogério, que era uma memória afetiva a qualidade do rolé de RD350LC, mas não é. A moto é realmente boa de andar, realmente redonda, realmente potente e gostosa. Muito melhor do que as antigas RD’s, que não tinham um único parafuso em comum com ela e foram desenvolvidas nos anos de 1960, motos feitas com outra filosofia.
Senti-me como Christian Sarron, campeão do mundo de TZ250 em 1984 com sua Yamaha Azul Galouises que certamente foi a inspiração para esta pintura azul. Dá vontade de investir os tubos e prover esta RD com freios e suspas modernas, também pneus, e fazer um monstrinho para curtir por aí.
Obrigado Rogério pela oportunidade, parabéns por sua motoca.