Lendas do Motocross – Episódio 4

Hoje eu vi no dia e na hora.. nervoso com o jogo do fluzão, foi até bom.

Chegamos na minha época como piloto. Não pilotei por muitos anos, eu já trabalhava, tinha um bom cargo na TV Globo, trabalhava muito, viajava muito para São Paulo. Já estava namorando a Wanulsa, que seria a minha primeira esposa, preparando a minha primeira empresa, muito ocupado. Não tinha pais ricos, dependia apenas de mim e do meu trabalho, o motocross teve que ser descartado. Pensei que eu fosse ficar super triste quando chegasse esta hora, mas sabe que não? Fiquei até aliviado.

Passat TS e a MX em Petrópolis. Camiseta uma clássica Crossline.

Mesmo sem gastar muito, perto dos pilotos que disputavam a ponta, eu gastava um bom dinheiro. E no meu último ano, acho que foi 1986, metade das provas eu saí de ambulância. O corpo do homem muda e o seu nível de tombos aumenta. Após anos treinando e melhorando, você não cai mais à toa, só leva tombos enormes, e de motos que correm bem mais. Ao mesmo tempo, os seus ossos deixam de ser de borracha e ao bater no chão, quebram. No meu último ano, eu quebrei sempre a primeira parte que bateu no chão. Fiquei aliviado de gastar menos e de parar de me machucar. Continuei amando, indo as corridas, as vezes treinando, mas nunca mais correndo.

Então, acompanhei bem de perto o assunto deste episódio e até já tinha comentado no meu artigo anterior, leiam aqui.

Anda muito este piloto numeral 66. Que estilo, que raça, kkkkk

Foi realmente uma época de ouro. Uma conjunção astral que juntou várias coisas boas, no tempo certo. Bons pilotos, bons patrocinadores, bons organizadores, bons produtores, gente apaixonada pelo esporte. Faltasse algum deles, não daria certo. Mas tivemos todos.

O Ivan Lopes, que não apareceu, o boss da Workshow, merecia aparecer. Ele, contratado pela Souza Cruz, tocava o Hollywood Motocross, que era tão foda que a secretária que fazia a minha inscrição era a Paula Burlamaqui… prá vcs verem o nível, kkkkkk. A Paulinha novinha era uma coisa do outro mundo de linda.

Ao centro, Paula Burlamaqui que depois fará sucesso como atriz na TV Globo

O meu amigo Pedro Faus, que apareceu sem maiores explicações, outro gigante, empresário entusiasmado e que tanto fez pelo nosso motociclismo. Com a Revista Motoshow com o Gabriel Hochet e Marc Petriér, com o seu Amparo Racing Team, na ajuda ao Alex Barros no início de sua aventura européia, Pedro Faus foi um gigante.

Kenny com o seu número 30, tradicional aqui no Brasil. Yamaha Marlboro em Campos do Jordão

Lembro-me muito bem de quando eu conheci e vi o Kenny Keylon e o Rodney Smith andando pela primeira vez, foi um susto. Nós aqui andávamos de jeito antigo, saltando e caindo com a roda de trás primeiro, como Roger de Coster, como Heikki Mikkola. Mas as motos já vinham sendo construídas para aterrizarem na roda da frente, encaixando os saltos. O primeiro salto encaixado que eu vi dos gringos me deu um susto danado, pensei: “Ih!!! errou!!!!”, mas não, era assim que se andava.

Quando o Marcio Campos, apoiado pelo maluco (devia ter até laudo) do Luis Augusto da Mar&Moto foi buscar, o Kenny inclusive estava em melhor posição no ranking do que o Rodney, mas o Rodney se adaptou melhor e mais rápido. Gostou, casou com uma brasileira, melhorou até se tornar um dos melhores pilotos do mundo e ir disputar o mundial como piloto principal da equipe Suzuki. O Kenny também tinha problemas de saúde, e apesar de ter atingido uma posição melhor no ranking americano, um acidente que ele levou lá, o estava constrangendo. Os dois eram super gente boa, acessíveis, sorridentes, disponíveis.

Ambos andavam de forma linda. Sim, Morongo venceu algumas provas e que comprova o que eu disse, Morongo era muito melhor do que todos os outros brasileiros. Mas apenas enquanto eles se acostumavam com o calor e com as pistas brasileiras. Acabou este período, eles sumiram na ponta.

Rodney sem foco e seu numeral 31 clássico. Yamaha Marlboro

Kenny cumpriu o contrato mas quis ir embora. Rodney curtiu, ficou até ir para o Mundial, ganhou etapas brasileiras, virou campeão mundial de Cross-country, virou mito. Rodney fez muito pelo nosso Motocross, levou-nos aos tempos modernos. Era chamado de Brazuca e lembro-me muito bem do melhor pega em pista que eu já vi, que foi ele x John van den Berk, que seria campeão do mundo e também um piloto impressionante.

O Paraguaio, tema do episódio, nunca foi meu preferido. Eu tinha antipatia por ele, sem motivo algum objetivo. Chegamos a correr uma etapa do estadual do Rio juntos na equipe MotoMundi, e o bicho andava forte. Pegou uma Yamaha careta que estava ali a nossa disposição, pediu para o Ricardo Lyra cortar um tiquinho da ponta do guidão e fez a bicha andar o que nunca tinha andando antes.

Ylton Veloso, o Paraibinha, morreu praticamente na minha frente, em uma corrida em Petrópolis. Caiu e bateu de cabeça em uma pilha de pneus ao lado da pista, mas o seu corpo e a moto comprimiram seu pescoço contra a cabeça, um azar incrível, um dia para esquecer.

Paraguaio reclamou muito e questionou até juridicamente a presença dos americanos no campeonato brasileiro. Queria ele, que estava ganhando bem para ser campeão, ser o campeão. Queria melar a participação da equipe Shell Yamaha. No auge da briga, em um Hollywood em Ouro Preto, ele conseguiu uma liminar proibindo Rodney e Kenny de andarem de MX180. Fiquei puto, ia ser lindo. Eu nunca tinha visto uma MX apitar igualzinho uma YZ, mas as MX deles, certamente futucadas até o osso, apitavam. Só conseguiu antipatia, porque o público amava ver os americanos andando e eles eram super simpáticos e solícitos. Eram um show.

A Honda Mugen Power do Morongo

Moronguinho estava a cada dia mais puto com a Honda, com o Paraguaio, mais velho, os gringos a cada dia se adaptando e perdeu quase que completamente o tesão, até parar.

As múltiplas categorias já eram uma realidade, e novos pilotos estavam chegando, como Eduardo Sassaki, Boeinguinho, Cássio Garcia e muitos outros. A era de Niva, Morongo, Boetcher e até Paraguaio, estava chegando ao fim.

Daqui prá frente eu não saberei mais comentar de forma mais completa, pois como eu disse, parei de correr e só ia assistir aos mundiais e algumas provas mais importantes.

Para terminar, Fluzão na final da Libertadores!

 

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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