Tenho muita simpatia pelo australiano desde suas vitórias na Moto3. Foi o primeiro piloto a pular direto para a MotoGP e pagou seu preço por isso. Anda muito bem no molhado, mas come pneus traseiros no seco. Não é por acaso que é um dos maiores entusiastas das futuras sprint races (ainda não me acostumei com essa ideia…). Ontem ele esteve em uma classe à parte, fazendo quase todas as voltas em 1’45” e abrindo uma vantagem incomum em um grid tão competitivo. Mereceu o Prosecco, com direito a shoey no pódio.
Foi um fim de semana atípico, com apenas dois treinos livres, apenas o de sexta em pista seca. A pista molhada de sábado diminuiu velocidade e estresse nas frenagens e Marc Márquez fez uma pole para mostrar que voltará a ser um dos protagonistas do campeonato em 2023 para alegria do novo Presidente do HRC, Koji Watanabe.
De forma curiosa, os quatro protagonistas do campeonato largaram enfileirados, em 6o, 9o, 12o e 15o (Aleix, Fábio, Bagnaia e Enea). Isto é, largariam… o consumo de combustível é crítico em Motegi e as motos saem do boxe para o grid com um mapa de economia, para gastar o mínimo de gasolina possível. No grid voltam a instalar os mapas de corrida. Segundo o Aleix, o engenheiro não trocou o mapa, portanto ele teve que trocar de moto. Achei chato ele expor publicamente o profissional, esse tipo de roupa suja se lava em casa, mas o coleguinha Viñales também culpou a equipe por ter escolhido o pneu errado para a corrida. Algo que ele fazia frequentemente na Yamaha. É por atitudes como essas que acho que alguns bons pilotos nunca serão campeões: pois atribuem as vitórias a si mesmos e as derrotas à equipe.
Foi a primeira prova em que o Aleix não marcou pontos no ano é isso o deixou a 25 pontos do atual campeão. Quartararo correu como deu em uma pista bem desfavorável para a Yamaha. É verdade que ele foi segundo colocado em 2019, mas as equipes europeias evoluíram muito nesses três anos. Deu muita sorte na rodada, já que seus dois principais rivais zeraram e o Bastianini chegou logo atrás dele. Os deuses da velocidade o recompensaram pelo azar de Aragón. Morbidelli chegou em 14o, menos de 2 décimos à frente do Crutchlow. É um tanto constrangedor…
As KTM foram bem em Motegi desde sexta-feira. Foram direto para o Q2, Oliveira quase fez a pole, pois vinha 3 décimos abaixo do tempo do Márquez mas caiu no T3. Na corrida, mais uma vez ficou claro que concluir a primeira volta nas primeiras 5 posições é fundamental para um bom resultado. Binder inverteu o ocorrido em Aragón, onde perdeu o pódio na penúltima volta, tomando o segundo lugar do Martin também no finalzinho. Miguel fez um bom 5o, em uma luta feroz com o Marini.
Aliás, Marini é o exemplo perfeito da questão da importância da largada: passou a segunda metade da prova andando mais rápido do que o Martin, mas perdeu muito tempo no início. Ele melhorou bastante na segunda metade do campeonato e está dominando o Bezzecchi (que corre com uma GP21).
Martin, que sempre foi muito rápido em treinos e tem várias pole positions na carreira, tem se classificado atrás do Zarco, mas como o francês sempre larga em terceira ou quarta marchas (rs) isso não faz muita diferença. Era uma corrida para o Zarco desencabular, mas largou mal de novo, e cometeu foi a erros em frenagens na volta 6 que o jogaram para o fundo do pelotão da frente. Enquanto o espanhol foi ao pódio, ele chegou em 11o, a 12s do Martin. Não encontrei nenhuma entrevista do francês depois da prova…
Márquez fez uma largada cautelosa e tanto ele quanto o Puig disseram em várias entrevistas que o objetivo era concluir a prova para entender em que estado físico ele estaria. O resultado foi melhor do que o esperado: ele acabou exausto, mas sem dor, e ainda fez seu melhor resultado do ano. Para dar uma ideia, no papo pré-pódio entre Miller, Binder e Martin, o australiano disse que acabou a prova com o braço direito tremendo. Veremos como o 93 vai se sair em Burilam, mas já ficou feio para Pol e Alex, que em plena forma física chegaram 9.7s e 10.5s atrás do MM, respectivamente. Por sinal, o Alex Marquez estava mais rápido do que o Pol nas últimas voltas. Mais umas 2 e ele seria o melhor dos caçulas. Seus 12o e 13o os deixaram ainda mais atrás do octacampeão, que lidera as Hondas com 73 pontos. A Honda está 21 pontos atrás da Suzuki no campeonato dos construtores e está contando com o Formiga para tirá-la da situação vexatória de lanterna.
Suzukis que só apareceram ao abandonar a prova. Quando a GSX-RR do Tsuda apareceu em chamas eu temi uma bandeira vermelha, o que seria uma enorme injustiça com o Miller, mas felizmente a prova seguiu adiante.
E chegamos ao Bagnaia. Quem me acompanha sabe que eu não sou fã, embora ele seja um piloto muito limpo nas suas linhas. Um Dovizioso mais novo. Só que ele vacila sob pressão. Misano, ano passado, por exemplo. Prefiro que o próximo título da Ducati seja com um Bastianini, que, por sinal, fez o Tardozzi dar um faniquito quando ultrapassou o “eleito”. Estava mais rápido, tinha que passar mesmo. Depois o Bagnaia o repassou e eu achei estranho, mas quando o 63 caiu eu achei lindo (caso ainda não tenham percebido, eu torço pelo bi do Quartararo). Claro que não é correto vibrar com a queda de um adversário, mas a cara do velhinho da Ducati fez o meu domingo feliz.
O campeonato continua apertado, mas 18 pontos é um colchãozinho. A Yamaha já andou bem na Tailândia, mas os V4 melhoraram muito. A redenção do El Diablo virá na Austrália. Depois vai capinar em Sepang, mas o final do campeonato é em Valencia, onde as motos de Iwata sempre foram bem. Eu acho que a disputa vai até lá.
Assim como a da Moto2, onde apenas 2 pontos separam o Augusto Fernandez do Aí Ogura. Eles foram 2o e 1o em Motegi e nunca vi tanto japonês dando vazão a emoções em público como no final dessa prova. Era japonês chorando, japonês gargalhando… afinal, o último japonês a vencer em sua pátria tinha sido o Hiroshi Aoyama, que é o Team Principal do Honda Team Ásia, há 16 anos, em 24/09/06, com uma KTM 250cc. Foi um momento bonito do campeonato.
Canet, que ainda não conseguiu ganhar nesta categoria, caiu quando liderava tranquilo, assim como em Austin. Vietti, que já foi um dos favoritos ao título, caiu mais uma vez. O companheiro do Ogura, Somkiat Chantra, prometeu repetir o feito na semana que vem em sua terra natal. Andou bem ontem, mas cometeu alguns erros. Quem sabe?
Na Moto3 um show do Izan Guevara, que fez uma primeira volta sensacional, indo de nono a primeiro em nove curvas. Foggia, se recuperando do fiasco de Aragón, chegou em 2o e mais um japa foi ao pódio, com o 3o lugar do Ayumu “Crazy Boy” Sasaki. Dois dos favoritos, o pole Suzuki e o Jaume Masia tomaram
uns high sides sinistros, mas não se machucaram. Guevara tem 45 pontos de frente no campeonato e está com uma
mão na Taça.
O bom é que agora é uma atrás da outra e Burilam começa na quinta.
Até lá