Teste Kawasaki Z900RS

Meus amigos leitores vocês conhecem a minha crença… Deus, quando criou a motocicleta, fez ela com farol redondo, painel com dois copinhos, guidon tipo guidon, tanque em cima do quadro e um banco grande e reto, sem frescuras. Deus também criou a moto com dois amortecedores atrás. Nem sei se esta fórmula está na Bíblia, deve estar.

Mas o bicho homem é criativo, e vem mexendo nas motocicletas, as vezes fazendo um monte de merdas no design, outras acertando… mas o fato é que motos do tipo moto bíblica, sempre dão certo!

Talvez pensando assim, alguns japoneses lá na Kawasaki resolveram fazer uma releitura e homenagem a uma grande Kawa do passado, a incrível KZ 900, ao mesmo tempo que mistura com a lendária KZ 1000 com a qual Eddie “Steady” Lawson venceu uma penca de corridas no SBK americano antes de ser tetra campeão do mundo de 500cc. Lenda viva.

Eddie Lawson posando com uma Z900RS. Grande Lawson!

A KZ 900 original foi uma patada na Honda 750 cc, que dominava o pico das superbikes no início dos anos 70. A Kawa tinha o projeto de fazer uma moto grande, com um motor de 750cc, o projeto tinha o nome em código de  New York Steak. Mas a Honda aprontou sua CB 750 primeiro e a Kawa parou o seu projeto. Apenas para retomá-lo e depois da Honda estabelecer que a CB 750cc era o máximo, ela lança um máximo maior que o máximo, sacaram?

Linda de morrer, é hoje a moto mais linda da coleção do Bernardo.

Sempre bem acabada, equilibrada, harmônica, de linhas suavemente arredondadas, bem proporcional, esportiva e elegante ao mesmo tempo, a Kawa 900 era o Olimpo das superbikes de sua época, levantando o sarrafo colocado já alto pela Honda CB 750 e foi o mais potente motor de moto de sua época. Não muitas chegaram legalmente ao Brasil antes de fecharem as importações.

Sou fã das verdinhas tem muito tempo!

Um pouco mais para frente, o piloto e lenda viva Eddie Lawson conquistou o bi-campeonato americano de superbike, correndo com uma Kawa KZ1000 verde Kawasaki linda de morrer.

Eddie e sua KZ1000 e Kerker…Born To Blaze!!! Eu ia a Ipanema comprar revistas para ler sobre isso

Junta tudo, mistura, mexe bem e nasceu a Z900RS! Para mim, é isso, mas a história da Kawasaki é grande, mais coisas podem entrar na fórmula.

Vejam aqui um album de fotos comparando as motos, clique nas fotos para ampliar:

Eu estava lá no salão em São Paulo quando a moto foi lançada no mercado brasileiro. Linda! Chamou muita atenção por conta de seu minimalismo e de sua cor verde Kawa vibrante. Uma moto careta, mas com um toque esportivo (daí vem o RS, Retrô Sport). E este modelo, que chamam de Café por conta da pequena carenagem dianteira no estilo cafe racer, ficou mais “sport” e mais linda ainda.

Lançamento da moto no Brasil, no Salão de São Paulo

Estou para andar com esta moto tem tempo!! Desde que o André Rocha comprou ela do Leo Braile. Ambos são amigos, mas o André é muito mais chegado. O teste estava agendado tem tempo mas somente agora rolou.

No papel e no projeto, a moto é modesta e feita para o prazer de andar e desfilar, sem custar os olhos da cara. Há um senso de razoabilidade e compromisso com o custo espalhado por tudo na moto. Nada é top e o último grito da tecnologia, potência ou moda. É uma moto inteligente e fashion. Em minha opinião, muito mais bonita do que a Z900 moderna, que parece um transformer, acho feia mesmo.

Dito isso, a moto tem equipamentos todos normais e de especificação média. Tem uma qualidade de construção melhor do que a Suzuki Bandit, mas em minha opinião, menor do que a Honda Café 1000, que eu testei aqui ó.

A Honda tem uma pegada mais moderna no design e nos equipamentos, é uma pegada diferente da Kawa, não faz homenagem a sua superbike dos anos 80 que também fez muito sucesso na mão de Freddie Spencer e outros. A Bandit é que, apesar de ser uma boa moto, não tem história para contar e é uma moto definitivamente barata, feita para custar pouco.

Sendo uma moto retrô, nada intimida no cockpit, tudo fácil de entender e usar. O painelzinho tem um digital pequeno no meio dos dois relógios grandes e apenas 1 botãozinho extra nos punhos, para controlar o sistema KTRC – Kawasaki Traction Control, que tem apenas 3 opções… Desligado, 1 e 2.  Um normal e dois mais forte=chuva. O nome é parecido mas não tem nada a ver com o antigo sistema K-TRIC das motos Kawasaki carburadas, que era outra coisa eletrônica, mexia no avanço da ignição baseado na posição das borboletas dos carburadores.

Com um 4 em 1 lisinho e sem a marmita, a moto sai roncando gostoso. Muito forte e muito lisinha. Eu tive uma Suzuki RF900R no passado que eu chamava de moto automática, porque ela só tinha 5 marchas e de quinta vc podia tranquilamente ir dos 30 aos 250 km/h. Esta Kawa, com um motor de 109 CVs é quase isso. O André disse-me que nem bota a sexta, que fica de quinta o tempo todo. Depois de testar eu não concordei, usei sempre a sexta e mesmo sem ser um trator como era a minha RF, é quase. Aceita retomar desde os mais baixos giros e velocidades, sem tocar na caixa de marchas. Temos potência disponível o tempo todo para dar e vender. Sem qualquer hesitação ou reclamação. Deu mão? Tem. Muito. Sempre. Com suavidade.

Desfilando é uma delícia, mas se acelerar a velocidade cresce com rapidez, o som dos 4 cilindros torna-se um urro provocante e a moto prepara-se para entrar em órbita. O motor é do tipo screamer. Muito rapidamente o piloto estará habilitado para uma multa ou uma porrada em alguma coisa ou buraco. Não é aflita, não fica pedindo para ser acelerada, tem o ruído de admissão baixíssimo e se mantida nos giros baixos, é bem comportada e calma.

O conjunto de embreagem e caixa de câmbio são bons mas não são ótimos. A embreagem de cabo as vezes é sem feedback e o câmbio tem uns clangs se usado com a moto parada e as vezes passando marchas parece que a alavanca mexe muito. Existem câmbios melhores que só fazem clicks e embreagens mais fortes por aí. Repito, não são ruins, são bons, mas não são ótimos.

As suspensões ficaram boas depois que eu consegui equilibrá-las. O André trocou as molas dianteiras por molas Ohlins, o que sempre faz diferença. Peguei a moto com os settings mexidos e que estavam trazendo algumas imperfeições na pilotagem. Muito rebound na frente e atrás, a moto estava ruim de buracos e buracos não faltam no Rio de Janeiro. Fui no manual e voltei os settings para o default e já melhorou muito, especialmente a traseira. A dianteira, certamente por conta das novas molas, precisou de mais um ajuste para chegar em um ponto em que melhorou muito. Gostei do fato das duas suspensões responderem muito bem  as regulagens… tem moto que vc mexe prá caramba e não muda nada.

Os freios são discretos. São potentes e tem um ataque suave. O André não gosta, prefere um ataque mais agressivo. Talvez seja resolvido com a troca de pastilhas, por pastilhas mais agressivas e que mordem com mais vontade. Certamente melhorará o ataque.

A iluminação e parte elétrica são ótimas, Farol de led bem branco, painel bem iluminado e visível.

Não meti o pau na estrada. Fui até Niterói mas a ponte é limitada a 80 km/h. Passeei com a moto e dei uns tirinhos curtos para sentir a aceleração. Não foi um teste completão com BR40 a 200 km/h. Mas deu prá sentir e escrever que a moto é bem plantada e tem motor para isso. Não é exigente na pilotagem, agarra as linhas com facilidade e é neutra, não é uma moto que se joga prá dentro nas curvas, mas não é teimosa, do tipo de querer abrir e ficar de pé. O guidon alto me deu um certo nervoso na hora de abusar das curvas velozes mas muito mais por falta de hora de vôo meu na moto. O feedback de uma moto esportiva onde vc vai agarrando a moto pelos semiguidões (chifres) é muito melhor. Mas é costume. Mais alguns dias e algumas curvas a sensação iria melhorar.

Como a suspensão não estava bem acertada, me cansou um pouco mais do que devia, mas agora deve ter melhorado. A moto chamou muita atenção por onde passava e parava, as pessoas vieram puxar assunto… mérito da cor e da linda carenagem dianteira. Não é uma moto exibida, é charmosa. Seu toque RS faz isso.

Obrigado André por deixar a moto comigo para esta pequena avaliação e vejam abaixo mais fotos do rolé. É o que eu sempre digo amigos… este negócio de sexo é muita fama, moto é muito melhor!!! kkkkkk. Clique nas fotos para ampliar.

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

4 comentários em “Teste Kawasaki Z900RS”

  1. Show de review, Mario. Mais um belo texto, simples e explicativo. Nos Vaz passar de leitores a pilotos com essa riqueza de detalhes.
    Desde o lançamento da moto eu tive interesse em conhecê-la melhor. Obrigado!

  2. Mário, parabéns pela reportagem. Muito bem escrita! Super legal a pesquisa sobre a história da moto e comparativo com a versão antiga. Clássica! Abs

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