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Mais um ducatista no céu.

E ontem de noite recebi uma triste mensagem do meu amigo Ricardo Lyra… seu primo Ormeo Botelho foi encontrado morto em sua casa em Petrópolis. Outro dia mesmo estávamos almoçando lá pelos lados do Quitandinha e o Ricardo me atualizou das notícias sobre o Ormeo.

E porque o Ormeo está aqui em um post do Motozoo®, porque o Ormeo foi assunto entre eu e o Ricardo? Porque o Ormeo foi um grande motociclista carioca. Não nas pistas, ele não foi piloto, mas na categoria dos playboys apaixonados pelo motociclismo e pelas Ducatis.

Patriota

Ormeo Junqueira Botelho Neto era, ora veja, neto de Ormeo Juqueira Botelho. Nasceu rico, seu bisavô foi Senador em Minas, seu tio bisavô também. Seu avô foi também deputado e empresário em Minas e sua família até hoje possui participação importante na empresa Cataguases Leopoldina, entre outras. Seu pai foi o Brigadeiro Eduardo Müller (Francisco Eduardo Müller Botelho), falecido em 2013 e bem sucedido não só na aeronáutica, mas também nos negócios.

Quem me apresentou o Ormeo foi o João Mendes, eu tinha saído da TV Globo e o João viu que eu seria muito útil para a empresa do Ormeo, a Azimuth. Ormeo foi pioneiro, mais do que eu, na computação gráfica no Brasil, tendo montado em Botafogo uma produtora equipada com 2 sistemas Cubicomp, raríssimos e caríssimos na época. Deu muito certo para os dois. Eu, aprendi e usei muito os Cubicomps lá e depois na TV Globo, para onde voltei. Maluco de pedra, brigamos feio, processei-o na justiça do trabalho e venci. Maluco.

Capotou um Porsche na Lagoa Rodrigo de Freitas, deu PT em um Audi RS na Rio Petrópolis, esta era a fama do Ormeo na galera, fazedor de merdas. Anos depois encontramo-nos em uma chopada de amigos na Cobal de Botafogo e ele veio, me pediu desculpas, disse gostar muito de mim e que a briga toda foi um erro, que queria voltar a ser meu amigo. Não guardo rancores, aceitei e voltamos a nos falar. Completamente cheio de vodka com suco de laranja, dali ele subiu na sua Ducati 916 e completamente bêbado voltou para Petrópolis tarde da noite. Ormeo era assim, amante de uma vida perigosa. Semana depois estabacou-se com esta moto no Bingen. Mais um PT prá conta.

Mas ele tem uma história que é impagável… Sabemos que a importação de motos andou proibida no Brasil, começando em 1976 e durou até o Governo Collor. Existiam porém, algumas poucas motos importadas novas no Rio de Janeiro. Algumas frias, emplacadas em Itaboraí e outras cidades onde o Detran era menos “rigoroso”, importadas por embaixadas ou com placas do Uruguai, Paraguai. Menos a do Ormeo, que era emplacada no Rio de Janeiro. Como ele fez isso? Bem… fizeram uma lei sob medida para que Zico, Nunes, Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, pudessem trazer para o Brasil os veículos que ganharam no exterior. Basicamente a lei dizia que se você tivesse ganho o veículo em uma competição, representando o Brasil no exterior, você poderia trazê-lo.

Pois bem, Ormeo mandava imprimir jornais alemães com corridas inventadas, treinos e o escambau, e o resultado, ó! Dava Ormeo na cabeça. Mandava vir a moto, esfregava a lei e os jornais na cara dos fiscais e botava prá dentro. Era um outro mundo, não existia internet, para provar a fraude no mínimo tinham que ir na Alemanha fazer uma investigação… não rolava. Devia rolar um faz-me rir na mão do fiscal também, mas o fato é que Ormeo Botelho desfilava com suas Suzukis Gixxers zeradas emplacadas normalmente. Um gênio.

Seus negócios não tinham como ir muito para a frente, ele era maluco com dinheiro. Infelizmente não pode usufruir de sua fortuna do jeito que ele queria, envolvido em disputas de inventário com a irmã* e vivia com suas Ducatis em Petrópolis, uma Streetfighter V4, uma Panigale R e uma Superleggera, em situação de relativa dureza, dependendo de dinheiros que o juiz ia liberando sobre o total da legítima, enquanto não se decide sobre o assunto.

*Recebi uma mensagem de texto de sua irmã, afirmando que não há qualquer disputa e que ela o ajudava. Peço desculpas pela informação incorreta, mas afirmo que esta informação me foi passada pelo próprio Ormeo em contato recente. Não imagino o motivo dele me falar desta maneira. De nenhuma maneira quis causar problema ou constrangimentos e peço aos leitores que levem este desmentido em consideração. Não aceito porém, a acusação de que meu texto é desrespeitoso, não considero.

Motociclista, ducatista, adorava computadores, foi difícil não ficar amigo do Ormeo. Muitas mais histórias eu sei, eu vi sobre ele, mas não é hora de contar. É hora de lamentar a partida do amigo, pensar novamente sobre as nossas vidas, sobre a importância relativa do dinheiro, sobre a vida. Como se diz, Ormeo era podre de rico, mas esta riqueza não o fez feliz como ele gostaria. Não viveu mal, longe disso, mas, em minha opinião, poderia ter tido uma vida muito mais tranquila e um tico mais longa. Amém.