Foi cantando esse clássico do The Clash que o sacana do Cal Crutchlow zoou o Marc Marquez no paddock do GP do Japão. O mesmo Crutchlow que garantiu que o campeonato de 2024 não terá a menor graça se Marquez montar na GP23 da Gresini. E eu concordo.

Embora haja um consenso entre os fofoqueiros de plantão de que essa mudança já está sacramentada, eu tive uma impressão diferente na conferencia pre-evento. Tive a impressão que ele está mais pra ficar na Honda, que está demitindo chefões japoneses e fazendo um tremendo esforço para contratar técnicos europeus. Fala-se até na possibilidade de tirarem o Davide Brivio da Alpine F1 para recriarem a dupla com o “japa da prancheta”, o Ken Kawauchi. Há uma ligação muito forte do MM com o HRC e a Repsol. A tríplice coroa conquistada em 2019, com uma pífia colaboração do Lorenzo, contra a Ducati LeNovo de Dovi e Petrux, consolidou o acerto do primeiro contrato de 4 anos entre piloto e equipe. Aí veio Jerez, 2020, e as coisas começaram a ir ladeira abaixo.

Ainda assim, basta aparecer uma pista nova para a qual não haja milhões de terabytes de dados, ou uma chuva mais intensa, que as desvantagens da RC213V acabam mascaradas pelo talento do octacampeão. Sei que tem gente que não gosta dele, faz beicinho, mas o fato é que os 6 titulos que ele conquistou tinham Rossi de Yamaha na pista. Então aceitem: ele de Ducati vai ser dificil de aturar.

Vejam o Pecco, por exemplo: é o principal piloto da marca, todos trabalham pra ele e… está tomando pau de Martin e Bezzecchi. No sábado ainda teve a desculpa que o Martinator se mandou desde a largada e 2 KTMs se meteram entre os dois. Quando ele ultrapassou o Miller, Martin e Binder já iam longe. Só que no domingo o espanhol deu mole na curva 3, caiu pra 5° ou 6° e veio passando todo mundo, inclusive o Bagnaia. Foi uma pena que a chuva tenha apertado tanto a ponto de interromperem a prova, pois Marquez e Zarco estavam rodando entre 0.5 e 0.7 mais rápido do que os líderes e poderia haver algumas disputas interessantes no final.

Martin sai do Japão 3 pontos atrás do líder, tendo feito mais um hat trick (pole, sprint e corrida). Se Bagnaia não responder na Indonésia o pessoal da LeNovo vai ter que desligar um cilindro do 89. A dupla Ciabatti/Tardozzi fica dando entrevistas dizendo que o importante é o titulo ficar na Ducati, mas não é bem assim. Ver a Prima Pramac ser campeã de equipes é um sapo dificil de engolir pela equipe oficial, mas ver o Bambino D’Oro entregar o #1 pra uma equipe satélite vai ser um terremoto. Capaz até de trocarem Bastianini por Martin pro #1 continuar na pintura oficial.

Vale comentar que Mir e Oliveira, que estavam bem posicionados na corrida de domingo, tiveram problemas semelhantes: ficaram sem nenhuma visibilidade dentro de seus capacetes. Eu tive uma experiencia tenebrosa de descer a serra de Petrópolis em uma noite de muita chuva e neblina. De viseira fechada eu não enxergava nada. De viseira aberta a gotas pareciam pedras atingindo os meus olhos. Por sorte fui ultrapassado por um carro que vinha apenas um pouco mais rápido que eu (uns 40Km/h) e pude segui-lo até o pé da serra. Não consigo nem imaginar o que sente um sujeito montado em uma MotoGP sem poder enxergar.

Uma pequena observação maldosa: antes da corrida de domingo na India, Bezzecchi fez um discurso veemente contra “esse pessoal que chega na primeira curva prejudicando os outros”. Como o peixe morre pela boa, Bez estragou a corrida do Viñales e do Zarco na primeira curva da corrida de domingo. Provocado pelos jornalistas, pôs a culpa na pista úmida e explicou que teve que levantar a moto para não acertar a roda traseira do amiguinho Bagnaia.

No mais tivemos o WorldSBK em Portimão, onde o Bautista conseguiu mais um fim de semana perfeito, vencendo as 3 provas e conseguindo os 62 pontos. Agora irá para Jerez no fim de outubro com uma mão na Taça, precisando de apenas 2 pontos em 3 corridas para conquistar o bi. Só dá Ducati! É preciso dizer que o Toprak está espremendo tudo da sua Yamaha e vendendo caro as derrotas. Perdeu as duas corridas de domingo por um décimo, com Bautista o ultrapassando na força do V4 na reta de chegada. A boa noticia pra ele é que as BMW, onde ele correrá ano que vem, deram uma evoluída e podem assustar em 2024. Com Rea na Yamaha (uma boa) e Bassani na Kawa (maisoumeeeenos) será interessante ver como ficará o equilíbrio das forças no inicio do campeonato. Bautista tem tudo pra sair na frente pelo menos nas duas primeiras corridas. Depois veremos.

Na Moto3 o nome da vez é Jaume Masia. Eu implicava com ele no passado, com aquela cara e marra de Draco Malfoy que ele tinha. Hoje em dia acho que ele está pilotando demais! Nosso Diogo Moreira vinha bem, em 6°, liderando um trem de motos, até que na curva 11 da última volta (no fim da reta em descida) o David Muñoz fez uma daquelas ultrapassagens de Moto3, trombando carenagem com carenagem, e o brasileiro saiu da pista, caindo pro fim da fila em 14°. Na Moto3 não se pode dar um centímetro de espaço… tinha que ter se defendido e oferecido o lado de fora. Enfim, mais um aprendizado.

Na Moto2, a equipe Idemitsu Honda Team Asia teve quase o resultado perfeito, fazendo 1-2 em casa. Só não foi 100% perfeito porque o japonês Ogura perdeu para o tailandês Chantra. Pedro Acosta completou o pódio e Arbolino fez um medíocre 11°. Está entregando o titulo de bandeja para o espanhol…

Daqui a duas semanas, Mandalika.
Ele vai ou ele fica? Apostas?
Contra as fofocas, acho que fica, ainda que o Bagnaia tenha praticamente confirmado que ele vai na conferencia pós-evento, com um significativo “bye, bye, Honda”, que o catalão respondeu com uma gargalhada.

Até lá.

Andre Bertrand

Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.