Mais uma corridaça no MotoGP com o oitavo ganhador diferente em 10 provas. E o único que ganhou três vezes perdeu a liderança do campeonato para um piloto que ainda não venceu…
Antes de falar sobre isso, gostaria de homenagear o Chaz Davies: um piloto que defendeu a Ducati por 7 anos no World Superbike, tentando domar a Panigale. Foram 89 pódios e 28 vitórias, sendo a última delas ontem, na última corrida do ano, no Estoril. Tem coisas tão extraordinárias que parecem roteiro de filme: antes da corrida seus mecânicos escreveram mensagens no tanque da moto. Ele correu com o coração e se despediu da Ducati do alto do pódio. É um dos melhores pilotos do WorldSBK e não tem um assento garantido em 2021. Vai entender…
Todos esses caras que estão no grid das principais categorias pilotam muito, não há dúvidas, mas como em qualquer esporte de alto nível (e não só a motor: tênis e voleibol são ótimos exemplos) o cérebro dá aquele algo a mais ou faz o sujeito se afundar. As vezes basta um pequeno detalhe, uma sorte ou azar, para inverter essa polaridade. Vejam o Alex Marquez: estava tendo uma imensa dificuldade com a Honda 2020. Até corria razoavelmente, chegou ao final de todas as corridas, mas encontrou um acerto em um teste feito em Misano, onde instalaram um novo modelo do amortecedor Ohlins na traseira, e ele passou a acreditar. Fez um 2º lugar incrível em Le Mans e agora perdeu a inibição. Repetiu o resultado em Aragon e se tivesse largado um tiquinho mais pra frente poderia ter ganhado.
A vitória também fez um bem enorme ao Rins, que já caiu duas vezes enquanto liderava ou tinha tudo para ganhar um GP. Segundo ele, esta foi a mais difícil das três vitórias que conquistou na categoria, pois correu muito tempo na frente e essa é uma missão estressante: correr o mais rápido possível sem pensar “não posso cair”. Nas últimas duas provas da Moto2 três pilotos caíram enquanto lideravam. Controlar tudo na mente e continuar relaxado é o que separa os fora-de-série dos excelentes pilotos. E só os fora-de-série são campeões.
Fiquei feliz pela Suzuki, que efetivamente deu um salto em relação a 2019. As KTM e Ducatis decepcionaram, principalmente as primeiras. Esse campeonato curto em pistas de temperatura mais baixas está enlouquecendo engenheiros e pilotos, e aí a gente percebe que dentre muitos caras extremamente rápidos, são poucos aqueles com talento para inverter uma situação adversa. Acho que o Rossi fez falta para a Yamaha, que não soube lidar com o aumento de temperatura de sábado para domingo. O Dovi, que estava perdido no frio, minimizou suas perdas na corrida e foi a Ducati mais rápida. Veremos o que as diferentes fábricas farão na segunda semana em Aragon, de posse de tantas informações.
O campeonato ficou ainda mais disputado, mas, em tese, as três últimas corridas devem favorecer as Yamahas e Suzukis. A ver…
O campeonato da Moto2 teve uma reviravolta com a queda do Luca Marini. É aquele lance do switch no cérebro… o Bastianini estava dominando o campeonato até cair na Áustria. Aí se apagou e o Marini cresceu, parecendo imbatível. Aí ele caiu na França e tornou a cair em Aragon. Enquanto isso, Sam Lowes herdou duas vitórias e já encostou. Na verdade, durante a prova de domingo quatro pilotos diferentes estiveram na liderança do mundial. E o pega entre Bastianini e Jorge Martin pelo 2º lugar foi muito bonito, mas não tão bonito quanto a disputa Rossi-Pedrosa nesse mesmo circuito em 2015, que vale a pena rever em https://youtu.be/Zrzpo4PHRxM
Na Moto3 outra prova bastante disputada, com o Arenas chegando em 7º e ainda assim estendendo a liderança do campeonato já que o Agura se apagou nas últimas 3 corridas e chegou só em 14º. Darryn Binder fez um ótimo 2º… um piloto que demorou anos para conseguir o primeiro pódio, que aconteceu há 3 semanas na Catalunha, quebrou na França disputando os primeiros lugares e chegou a 9 centésimos da vitória. Quando a mente passa a acreditar…
Até a próxima semana.