2020: 14 provas em 9 circuitos (5 teimosinhas), intervalos pequenos entre as corridas, maximizando os problemas de uma contusão, Marc Márquez ausente e COVID no ar. Até o momento 9 vencedores diferentes, 5 dos quais pela primeira vez. Apenas 2 pilotos venceram 3 vezes, ambos da Petronas Yamaha, com sentimentos muito distintos em cada garagem: Quartararo fechando o ano em baixa e Morbidelli pilotando como nunca.
Vejam que Mir começou muito mal, fazendo apenas um 5º nas 3 primeiras provas. Tinha 11 pontos enquanto Quartararo já tinha 59, mas o francês é todo coração e o mallorcano tem a frieza dos campeões. O único momento em que Mir ficou realmente tenso neste campeonato foi antes da largada do GP da Comunidade Valenciana. Com uma mão no título, seu semblante estava crispado e pensei que ele talvez não sobrevivesse à primeira volta. Foi exatamente o contrário: ele largou com cautela, deixou o Rins passar por ele, quase foi atropelado pelo Quartararo na curva 2, na primeira incursão do francês fora da pista, ainda encontrou espaço para despachar o Viñales e ficou ali atrás do Aleix Espargaró, respirando e aguardando os pneus atingirem a temperatura ideal. Era o 10º e isso bastava. Zarco caiu e ele passou para 9º, ainda melhor. Avisado da aproximação do Dovi, passou a Aprilia e pulou para 8º. Com Rins e Quartararo longe das duas primeiras posições ele só precisava de um 11º e a queda do Nakagami o deixou em 7º. Campeão no seu segundo ano de MotoGP, no seu 5º ano de campeonatos mundiais. Ninguém pode negar que é um fenômeno, bicampeão mundial (Moto3 em 2017).
Todos que largam no MotoGP pilotam muito bem. Rabat, que está sempre entre os últimos, foi campeão mundial de Moto2. No entanto poucos são talhados para serem campeões. As variáveis são muitas: a moto, a equipe técnica em volta da moto, a capacidade do piloto rápido prover informações que permitam melhorar a moto e, principalmente, a capacidade de não cair quando se está dando o máximo nas corridas. Rins e Nakagami pecam nesta última. Quartararo e Viñales pecam na capacidade de acertar a moto. Tem piloto que culpa a moto por tudo. “Ducati não faz curva”… erro! Os melhores tempos nos setores 2 e 3, os mais sinuosos, foram de Ducatis (Miller e Zarco). Miller quase ganhou a corrida e só não o conseguiu porque o ítalo-brasileiro teve muita força mental e venceu uma batalha épica na última volta. Morbidelli tem um trunfo no Ramon Forcada, que soube pegar os dados das primeiras corridas de Aragon e Valencia e entregou uma Yamaha redondinha pro Franco.
Esta prova foi 14.819 s mais rápida do que a anterior. Quem melhorou mais foi o Morbidelli e quem melhorou menos, correndo para chegar, foi o Mir.
Vamos para Portimão e só há um título a decidir: o de construtores. A Suzuki pode conseguir a tríplice coroa: Rins vai estar super motivado e Mir vai correr solto. A Ducati está empatada com a Suzuki e Miller pode ir para a equipe principal com a gloria de ter levantado esse título. A Yamaha teria que ganhar, sem nenhuma Ducati ou Suzuki melhor do que 5º: é difícil.
Dois campeonatos serão decididos no Algarve. Na Moto2 o piloto por quem torço, Bastianini, tem corrido com muita cautela, o que não o impediu de chegar em 6º, a 2.329 s do vencedor. Jorge Martin deu um show na corrida, mas seu campeonato foi atropelado pela COVID. Bezzecchi vinha muito bem até a última volta, quando perdeu 2 posições e praticamente deu adeus ao título com esse 3º lugar. La Bestia tem 14 pontos de vantagem para o Sam Lowes, que se machucou no FP3, 18 para o Luca Marini, que também vem fazendo corridas medianas, e 23 para o Bez, que tem andado na ponta, mas ficou muito distante.
Na Moto3 o meu piloto favorito ganhou pela primeira vez este ano. Tony Arbolino teve que perder a primeira prova de Aragon porque viajou em um avião em que apareceu um infectado. Ainda assim ele está em 3º no campeonato, a 11 pontos do Arenas. Se o resultado desta prova se repetir em Portugal (ele 1º, Arenas em 4º) ele leva a taça. É um piloto muito elegante, treinado pelo Chicho Lorenzo, pai do Jorge, assim como o Mir. O 2º colocado é o Ai Ogura, a 8 pontos do líder, mas ele já assinou com a Honda Team Asia na Moto2, não ganhou nenhuma prova em 2020 e não tem chegado entre os Top 6. Eu vou acordar cedo para ver essa corrida.
E daqui a pouco o campeonato acaba e já estou sentindo crise de abstinência, já que não teremos os tradicionais testes de fim de ano. Os motores só vão roncar em Sepang, em fevereiro.
Até semana que vem!