O ano da garotada

Que diferença faz uma corrida! Tínhamos quatro pilotos separados por 4 pontos e agora o campeonato parece ter se transformado em uma disputa Quartararo-Mir. A vitória do Quartararo chegou com 3 corridas de atraso, já que ele tinha o melhor ritmo de todos em Misano e não conseguiu transformar a vantagem em pontos. Daí a comemoração excessivamente emocional após a bandeirada. Não acho um bom sinal: os campeões tendem a ser mais frios na vitória e na derrota. O excesso de emoção tende a se transformar em uma auto cobrança excessiva e um piloto pouco relaxado na moto não tira o melhor dela. Mir, por outro lado, se recusa a se considerar candidato ao título enquanto não ganhar uma corrida, mas essa vitória está amadurecendo e pode chegar em Le Mans.  Aragon será uma pista em que as Ducati e KTM terão uma imensa reta para engolir as 4 em linha.

Duas Suzukis não se encontravam no pódio desde 2007 e a baixa temperatura do asfalto colaborou para isso: são as motos que mais economizam borracha em situações de pouca aderência. Houve um equívoco da Michelin ao programar os pneus de Montmeló com base nas temperaturas de junho, quando a corrida costuma acontecer, uns 10º a mais do que as temperaturas do começo de outono. Em resumo: só a borracha macia tinha aderência e os pneus médios e duros não conseguiam atingir a temperatura ideal de funcionamento.

A queda do Rossi foi um ducha de água gelada no inverno… era a 350º corrida do Doctor, contrato recém-assinado, situação perfeita para o 200º pódio, mas Vale acabou vítima da primeira curva à esquerda que derrubou muitos pilotos nas três categorias. Uma pena!

A mesma curva causou a saída de duas Ducatis logo na primeira volta. Petrucci tocou o pneu traseiro da KTM do Pol Espargaró, quase caiu, Zarco se assustou e perdeu a frente levando Dovizioso com ele. Acidente de corrida e esse é o problema de largar mal (Zarco) ou depois da 2a fila (Dovi).

Petrucci foi um que se deu bem no frio, já que seu peso normalmente é uma desvantagem, gerando calor excessivo no pneu traseiro. Quando chove ou a temperatura abaixa ele mostra serviço, largando bem e trocando várias ultrapassagens com as KTMs. Ao fim da corrida ele se queixou do desempenho do motor, segundo ele, bem mais fraco do que as motos da Pramac. Isso vai ser investigado pela Ducati.

E o Viñales? Não escondo de ninguém que não gosto das entrevistas que ele dá. Depois da vitória em Misano-2 ele foi excessivamente arrogante, considerando que foi uma vitória herdada. Criticou a moto e a equipe e se declarou o fodão do Bairro Peixoto. Aí chegou em Barcelona fazendo um brilhareco em treinos (foi o único a usar um pneu novo no FP4, e obviamente foi o mais rápido) e chegou em 9º na corrida, sendo que 5 caíram à sua frente. Aí a equipe é ruim, a moto não anda (a mesma que ganhou a corrida), só ele que continua sendo o máximo. Tem que tomar vergonha…

No mais, Bagnaia correu como no ano passado, mediocremente, e o Miller não deixou ele passar de jeito nenhum. Nakagami fez uma corrida boa, mas não conseguiu utrapassar as Ducatis. As KTMs foram mal, e o Oliveira, que era o melhor dos 4, acabou caindo, assim como o Pol, o excesso de potência botando muita carga nos pneus dianteiros. A Repsol Honda continua perdida e é a última entre as equipes, atrás até da Esponsorama e da Gresini Aprilia. Marc Marquéz apareceu no circuito. Eu imagino a pressão dos patrocinadores para que ele volte, mas a minha previsão mais otimista é Aragón, quiçá Valencia.

Na Moto 2 uma ótima vitória do Luca Marini, que está com cabeça de campeão. Mesmo ultrapassado por um motivadíssimo Sam Lowes não se conformou com os 20 pontos e botou pressão até o inglês começar a errar já com o pneu traseiro em frangalhos. Bastianini teve um fim-de-semana muito ruim, mas salvou um 6º. Fabio Di Giannantonio, um piloto que fez ótima provas de Moto3, conseguiu um bom pódio em uma Speed Up à frente do companheiro de equipe, o muito mais experiente Jorge Navarro.

Sensacional mesmo foi a Moto 3. Primeiro porque o 3º no campeonato, John McPhee, errou feio e tirou a si e ao líder do campeonato da prova. Albert Arenas ficou enlouquecido! Depois o escocês foi ao boxe do espanhol pedir desculpas, mas foi de capacete, por via das dúvidas. Achei meio covarde e ele foi aplaudido ironicamente pelo pessoal da Gaviota Aspar. Para sorte de ambos os primeiros lugares foram divididos por pilotos que estava longe da luta do título e o Ai Ogura conseguiu apenas um 11º lugar passando a liderar o campeonato por 3 pontos (122, 119 Arenas, 98 McPhee, 95 Arbolino, o 2º colocado na prova). O vencedor foi o Darryn Binder, o irmão meio maluquinho do Brad, que corre muito, mas cai muito também. Foi uma vitória comemorada por todo o paddock porque os irmãos sulafricanos são muito bem quistos.

Agora uma semana de folga, mas Le Mans vai ser importantíssima para as Yamahas e Suzukis. É o momento de acumularem alguma gordura no campeonato antes que as V4 voltem com força no MotorLand.

Até lá!

Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.

Um comentário em “O ano da garotada”

  1. Ótima matéria! O campeonato deste ano depois de um quase cancelamento, está prendendo a atenção dos torcedores com as acirradas disputas pelos degraus do pódio com as variações de pilotos e equipes. Parabéns pela matéria!

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