Antes de falar sobre o GP de Assen não há como não comentar a bomba que explodiu domingo à noite: Viñales e Yamaha vão se separar ao final do ano, quebrando um contrato em vigor. Maverick é um piloto muito rápido, sem dúvidas, mas não escondo que o acho o piloto mais arrogante do grid. Para não cometer injustiças, fui rever as entrevistas que ele deu após vencer a primeira prova do ano. Ele só agradece a si mesmo, à esposa e à família. Nenhum agradecimento aos mecânicos ou à equipe. Ninguém gosta de um piloto assim: quando ganha o mérito é dele, quando perde a culpa é da moto e da equipe. É claro que o comunicado para a imprensa é cheio de salamaleques e elogios de araque de parte a parte, mas o que rola à boca pequena é que o Lin Jarvis não aturou o último lugar na Alemanha, atrás até de um lesionado Morbidelli, e chamou o Top Gun na chincha. Afinal, na sexta-feira ele estava bem. Aí caiu no FP3 e teve que encarar um Q1 onde não se colocou bem, repetindo Mugello. O divórcio aconteceu antes de chegarem à Holanda e o Viñales queria muito ganhar a prova par sair por cima. Foi rápido em voltas lançadas, mas o Quartararo tinha melhor ritmo. Ao final mal cumprimentou o companheiro de equipe no parc fermé, tomou um gole de Monster para não ter que aplaudir quando o francês recebeu o troféu e não estourou o champanhe. Até que o Massimo Meregalli falou alguma coisa no ouvido dele e ele abriu um sorriso amarelo e participou das fotos e comemorações. Se ele fosse um mau perdedor, não seria tão problemático. Afinal, todos estão ali para ganhar. Só que é um mau ganhador: não divide os méritos e todos na equipe têm a sua importância. Já vai tarde… e vai para uma Aprilia sem orçamento para fazer uma moto realmente vencedora.
A corrida foi o que se esperava: a Ducati fazendo linhas fechadinhas para conter a velocidade da Yamaha e usando o motorzão para recuperar a ponta na curta reta. O que o Bagnaia fez com Quartararo e Nakagami foi desmoralizante: por três vezes perdeu a posição na chicane Geert Timmer e a recuperou antes da curva 1. Quartararo teve que ultrapassá-lo na curva 11 e abriu 0.648s na 1ª volta em que liderou. A partir daí a briga foi pelo 2º lugar, e foi a segunda Yamaha que fez valer sua agilidade, seguida pelo bom trabalho do Joan Mir, com uma Suzuki também muito ágil.
A disputa pelas outras posições parecia animada, com várias motos andando juntas, mas houve poucas ultrapassagens. Zarco e Oliveira fecharam o Top5 andando bem com motos que se mexiam muito. Bagnaia, Marquez e Espargaró chegaram grudados e tenho impressão de que o MM tinha mais ritmo, mas ele admitiu que estava cheio de dores nas últimas voltas e ultrapassar o italiano era uma tarefa quase impossível, ainda mais com a Aprilia grudada e aproveitando cada centímetro de pista. O Aleix tira leite de pedra ali.
Nakagami perdeu mais uma oportunidade de pódio e me pareceu desolado nos boxes. Pol chegou 8 segundos atrás de um Marc chacoalhado pelo tombo de 6ª e que largou 9 posições atrás. Lorenzo ri.
Rins fez uma boa corrida de recuperação e tinha ritmo para pódio. Binder não se encontrou durante o fim de semana: chegou 13 segundos atrás do Oliveira. Vai ter que usar as duas provas no Red Bull Ring para se redimir. Aliás, em tese, as próximas duas corridas serão a oportunidade das motos V4 desbancarem o Quartararo, tentando botar o maior número de motos à frente dele para limitar a sua pontuação. Pode ser o turning point do campeonato ou a consagração do francês.
Na Moto2, uma vitória sensacional do Raul Fernandez, que saiu na pole, cometeu um erro caindo pra 9º, e recuperou terreno passando todo mundo para ganhar tranquilo. A corrida foi uma disputa particular entre as equipes Aki Ajo e MarcVDS, que fizeram 1-2-3-4. Ainda não foi desta vez que desbancaram a Red Bull, que tem 6 vitórias no ano. A novela do momento é o destino do vencedor. A KTM não quer perdê-lo, então está oferecendo a segunda vaga da Tech3, mas começou um forte boato de que a Yamaha estaria disposta a abrir os cofres para tê-lo. Certamente isso será resolvido no máximo no início de agosto, na Áustria.
A Moto3 teve a sua costumeira corrida animada. E o furdunço começou no sábado, quando diversos pilotos que iniciaram uma volta rápida depois da bandeirada do FP3 acabaram se encontrando na chicane GT e o Ricardo Rossi fez o líder do campeonato, Pedro Acosta, de quebra-molas (sem culpa do italiano). O espanhol passou a noite no hospital, mas foi liberado para correr e conseguiu um ótimo 5º lugar, mantendo a regularidade de ganhar quando dá e não cair quando não dá. A Moto3 é uma categoria tão esquisita que o Romano Fenati chegou em 3º a 2 décimos do vencedor mesmo tendo pagado duas voltas longas. Foggia ganhou para a Leopard pela 2ª vez no ano, com o vice-líder do campeonato, Sergio Garcia, no segundo lugar.
E na MotoE tivemos uma SEMANA SIM! Quando o Granado não faz gol contra ele ganha. Conseguiu a quarta pole em quatro corridas e correu muito bem, chegando à frete do Jordi Torres e do líder do campeonato, o marrento italiano Alessandro Zaccone. A queda do Aegerter o ajudou e ele agora está em 3º no campeonato, a 17 pontos do líder. Jordi é o segundo, a 7 pontos do líder, e correu com personalidade, não dando mole para o marrento. Há 75 pontos em jogo: 25 na Áustria e 50 em Misano. Dá pro EG51 ganhar essa e foi muito legal ver o Ahmad Razali, Team Principal da Petronas, celebrando a vitória do Eric na chegada ao parc fermé. Um título pode botar o Eric na Petronas Moto2, onde o celebrado (não sei por que) Jake Dixon e o Xavi Vierge decepcionaram no domingo.
Bem, agora é aguentar a crise de abstinência até agosto… abraço