Grande Prêmio da França 2025. Recorde histórico de público presente. Um francês na pole position. Outro francês vence a corrida, o que não acontecia há 71 anos. A Marselhesa toca no pódio.
Nem o mais otimista escritor francês teria ousado escrever este roteiro, mas aconteceu, e foi fantástico!
Gosto muito do Zarco, o único bicampeão da Moto2, e que também conquistou a Red Bull Rookies Cup em 2007, aos 17 anos. Quase subiu para o MotoGP pela Suzuki, mas escolheram o Rins e ele subiu pela Yamaha Tech3. No seu ano de estreia foi 2° colocado em Le Mans, e acabou o ano em 6° no campeonato, assim como melhor piloto independente. Atualmente é disparado o melhor piloto da Honda e duvido que os japoneses não renovem o seu contrato. Lucio Cecchinello vai ter que brigar para mantê-lo na LCR, e tem moral para isso, já que a sua equipe conquistou as duas últimas vitórias da Honda (Alex Rins, em Austin 2023, tinha sido a última). A vitória deste domingo também impediu que a Ducati quebrasse o recorde de vitórias seguidas, que pertencia à Honda e foi igualado em Jerez. O pessoal da HRC vai comemorar muito em Asaka.
É claro que foi uma vitória obtida em circunstâncias muito especiais, mas mostra que as concessões estão fazendo bem às fábricas japonesas, que me parecem ter avançado muito mais do que a Aprilia e a KTM. A KTM anda às voltas com problemas financeiros e terá um momento decisivo no próximo dia 25 de maio, quando precisa arrumar 600 milhões de Euros para quitar um terço da sua dívida. Já a Aprilia perdeu seu projetista chefe, Romano Albesiano, para a Honda, perdeu o piloto que desenvolvia a moto, Aleix Espargaró, também para a Honda, e deu muito azar com as contusões do Jorge Martin. Os pilotos que restaram ou são medíocres ou são inexperientes. Resultado: é a última colocada no Mundial de Construtores…
Esse roteiro foi tão sofisticado que começou com o Zarco sendo empurrado pelo Mir, que foi empurrado pelo Bagnaia, que foi empurrado pelo Bastianini logo na curva 3 da primeira volta. Zarco passeou pela brita sem cair e fechou a primeira volta em último. Mir foi hospitalizado com fratura em uma das mãos e dores no pescoço, e Bagnaia perdeu um tempo imenso. chegando apenas em 16°, com uma volta de atraso. Bastianini remontou, cumpriu as duas voltas longas por ter trocado de moto antes da largada, caiu de novo, recebeu mais duas voltas longas por exceder a velocidade no pit lane, e ainda chegou em 13°. Após a corrida foi punido com mais uma volta longa em Silverstone por ter causado o acidente que derrubou Bagnaia e Mir.
Lá na frente o pessoal de pneus slick abriam distância, mesmo tendo que cumprir as duas voltas longas. Até que voltou a chover forte. As primeiras vítimas foram Quartararo e Binder, que caíram na última curva. Quem estava de pneus lisos teve que pilotar com todo o cuidado até chegar ao pit lane. Inexperiente, Aldeguer, que estava à frente dos irmãos Marquez, deu mais uma volta se arrastando. Quem largou de pneus de chuva e estava por ali pronto para herdar a liderança da corrida: Miller e Zarco, com o australiano à frente. Só que este caiu, deixando o caminho livre para o francês.
Após todas as trocas, tínhamos Zarco, 8 segundos à frente, Marc e Alex. O Formiga forçou por 3 voltas, só tirou meio segundo, e percebeu que ganharia mais se não caísse e ficasse apenas controlando o irmão. A diferença entre eles dois de 1s2 para 3s3, enquanto Zarco já estava 14s à frente do MM. Cecchinello estava desesperado, pedindo pro francês maneirar a cada passagem pela reta, mas Zarco estava focado e, em muitos casos, diminuir o ritmo esfria os pneus e desconcentra o piloto. Ele chegou a abrir mais de 20s e chegou a 19s9 porque tirou a mão na última volta. MM também tirou a mão, principalmente depois que seu irmão caiu. Aldeguer é que vinha andando tão ou mais rápido do que o francês, passando Oliveira, Viñales e Acosta para conseguir seu primeiro pódio em um domingo.
Resultado do fim de semana: correndo com a cabeça, Marc fez 32 pontos, contra 9 do irmão e 0 do Bagnaia (o primeiro fim de semana zerado desde o GP do Japão em 2022). Isso compensou os erros de Austin e Jerez e deu um retrato mais fidedigno do campeonato.
Todos os tombos de domingo estão perdoados: é muito difícil correr nessas circunstâncias. O sujeito passa por uma curva seca e na próxima volta tem uma poça d’água. Tem que redobrar os cuidados. Bagnaia vacilou no sábado e ainda não sabe o que aconteceu: alega que estava mais lento e com menos inclinação no momento da queda. Acontece… em 22 fins de semana no ano sempre vai ter aquele momento infeliz.
Acosta e Viñales foram bem no sábado e no domingo. O tubarão caiu sozinho na ultima volta da Sprint, quando já tinha aberto quase 1s pro Maverick. Um erro bobo, mas ambos dão alguma esperança para a fábrica austríaca. Binder está muito apagado. Aliás desde o ótimo início de 2024 no Qatar o sul-africano desapareceu.
A Aprilia botou Raul Fernandez em 7°, Savadori em 9° e Ogura em 10° (estes chegaram a 1’26” do vencedor e o italiano largou com pneus de chuva). Bezzecchi conseguiu ser pior, e só fez 2 pontos.
Nakagami também largou com pneus de chuva e herdou um 6°, que foi seu segundo melhor resultado em um GP, a quase 1 minuto do Zarco. Ou seja, foi um domingo muito louco, em que o Miguel Oliveira, todo fora de forma, chegou a estar em 2°, mas foi sendo ultrapassado e caiu. Felizmente sem agravar seus machucados.
Todos os acontecimentos só fazem aumentar a vontade de assistir ao próximo GP, quando estarei lá na pista de Silverstone.
Rapidamente sobre a Moto2 Manuel Gonzalez voltou a vencer, seguido do Barry Baltus (cujo nome é homenagem ao Barry Sheene, o eterno #7), Canet, o nosso Diogo Moreira, que fez uma corrida madura, e Jake Dixon. Na Moto3, Rueda herdou uma vitória graças à grossura do David Muñoz, que tirou ele e o australiano Joel Kelso da pista na última curva. Kelso liderou toda a corrida e foi visivelmente prejudicado. Ficou com a 2a posição, já que Muñoz foi punido e ficou em 3°, mas o espanhol já foi advertido duas vezes este ano e não muda de atitude. Rueda abriu boa vantagem porque seu principal adversário, Piqueras, caiu.
E tivemos o início do campeonato da MotoE e, mais uma vez, o Granado já se excluiu da disputa. Caiu sozinho quando estava em 2° e deu as costas para a pista enquanto reclamava da sua moto. Foi atropelado por outra moto que saiu da pista na mesma curva, fraturou a tíbia e não sabe quando volta. É uma pena… talento ele tem, mas precisa se benzer.
Contando os dias para o meu GP de casa.
Até lá.