Este fim de semana em Sepang foi como uma peça em três atos, com emoção, tragédia e ação.
O primeiro ato foi o Q2. O recorde de Sepang era 1’57.491, pole do Bagnaia em 2023. Havia expectativa pela possibilidade da primeira volta em 1’56”. Talvez um 56″8. Aí Martin vai pra pista e faz 56″5 na primeira tentativa. Cara de velório no box da LeNovo. Bagnaia vai pra 2a tentativa antes do resto do grid e faz uma volta perfeita em 1’56.337 !!!!!!! Mais de 2 décimos abaixo do 56.553 milagroso do Martinator, que tentou ir à forra mas caiu logo na curva 1. Essa foi uma tremenda vitória moral do bicampeão.
O segundo ato veio poucas horas depois, na Sprint. Martin largou perfeitamente, seguido do Pecco e do Marc. Não deu uma brecha pro bicampeão tentar recuperar a ponta, até que Bagnaia caiu sozinho na curva 9. A oitava queda do ano que permitiu ao espanhol aumentar sua vantagem para 29 pontos: uma mão inteira na taça.
Havia a possibilidade do Martin ser campeão no domingo, mas dependeria dele ganhar a corrida e alguém se meter no meio dos dois, para o Pecco chegar em 3°. Neste fim de semana, era impossível. Marquez estava fazendo milagres, compensando nas freadas da 1, da 9 e da 15 o que a GP23 perdia nas retas. Como ele sempre diz, fazer isso por 3 ou 4 voltas é possível, mas por toda a corrida é muito arriscado. Bastianini, a outra GP24 que conta, não conseguiu um bom acerto nem no sábado, nem no domingo. Herdou a medalha de bronze na Sprint, e chegou a 10s no domingo: perdeu meio segundo por volta. Dada a improbabilidade do Martinator sair da Malásia com o título, a prudência recomendava que ele acompanhasse o Bagnaia de perto e fosse para a última etapa com gordos 24 pontos de vantagem. Ele é o virtual campeão: basta não cair no próximo final de semana de corrida.
Só que aí veio o 3° ato: contrariando qualquer noção de bom senso, o Martin se engajou em uma disputa que não tínhamos visto em nenhuma corrida do ano. Foram só 3 voltas, e, confesso, já vi disputas muito melhores no passado, mas dada a raridade desses momentos de luta pela liderança este ano, foi de tirar o fôlego. O Gino Borsoi, team manager da Pramac, coitado, fez um doutorado pra se tornar botafoguense. Se o coração dele não parou naquelas voltas, de enfarto ele não morre.
Se o Martin cai, iria pra última etapa com apenas 4 pontos de vantagem. Maluco! Como apostou no pneu dianteiro médio, quando todos os outros foram de macio, ele tinha esperança de ser mais veloz no final da corrida. E chegou a diminuir a distância nas voltas 13, 14 e 15, mas tomou um susto na mesma curva 9 na volta 16 e aquietou o facho.
Marquez estava sendo elogiado pelos comentaristas do MotoGP quando caiu no final da volta 7. Praga de comentarista… Voltou atrás do Morbidelli, em 17°, a 4 segundos do Nakagami em 15° e a quase 6s do Aleix em 12°. Por várias voltas ficou trocando de posição com o Franco: ele passava no miolo e a GP24 recuperava na reta entre a 14 e a 15. Na volta 13 Morbidelli era 15° e MM 16°, ambos passando a Idemitsu LCR. Na seguinte ambos passaram o Raul Fernandes. Na 17a o Formiga finalmente se livrou do ítalo-brasileiro, para passar logo depois o Marini e, na última curva da corrida, o Aleix, marcando 4 pontos do 12° e se mantendo 1 ponto à frente do Bastianini na luta pelo 3° do Campeonato.
Dois pilotos que foram bem na Malásia foram o Alex Marquez, 4° no sábado e no domingo, e o Quartararo, 5° e 6, respectivamente. Lembrando que herdaram uma posição em cada uma das corridas, mas o francês chegou à frente da uma GP24 na Sprint, e correu domingo com a moto reserva, vítima do salseiro causado pelas KTMs oficiais na curva 2 da primeira largada da corrida.
Pedro Acosta, que perdeu a disputa pro Miller na Sprint, acabou beneficiado pela ausência das KTMs e chegou em 5° no domingo, assumindo também a 5a colocação no Campeonato, à frente do Binder, que desistiu depois da volta de apresentação com fortes dores no ombro. O atendimento ao Miller foi preocupante, pois a cabeça dele ficou presa na roda traseira da Yamaha #20 e Mir passou por cima das suas pernas, mas ele apareceu andando no paddock para alívio de quem acompanhou o acidente.
Na Moto2 tivemos a curiosidade de ver o retorno do Jorge Navarro, uma promessa que nunca se concretizou. Pois ele foi substituir o Joe Roberts, fez a pole e chegou em 2° lugar. Celestino Vietti, demitido pela Red Bull KTM Ajo, e voltando de contusão, venceu pela 3a vez no ano. O campeão Ogura teve um problema técnico na moto enquanto estava no 3° lugar.
DAVID ALONSO 12+1
O fenômeno conseguiu sua 13a vitória no ano, pela Aspar, que já se chamou Angel Nieto, o falecido espanhol que conseguiu 12+1 títulos (ele era supersticioso). A Aspar é sediada em Valencia e vários de seus membros conhecem pessoas diretamente afetadas pela tragédias das enchentes. Não houve comemoração da vitória com champanhe em respeito às vítimas.
Ainda não está 100% confirmado, mas a Dorna quer transferir para Barcelona a final do campeonato. Hoje, 4 de novembro, houve chuvas fortes no entorno da cidade. Acho uma temeridade fazer essa etapa na Espanha. Eu preferiria Portimão, que é uma pista mais interessante, e não sobrecarregaria as autoridades espanholas. Falou-se também no Qatar, mas não seria na mesma data. Só nos resta aguardar uma decisão que agrade a maioria. O pessoal da Moto2 e Moto3 não vai endossar uma solução que seja muito longe da Península Ibérica, até porque os campeonatos já estão decididos.
A ver.
Seja onde for, estarei ligado em cada treino. Até lá!