Triumph Street Twin

Eu te digo que testei uma moto, mas você tem que advinhar qual é.

Como dicas, eu digo que ela tem o sistema ride-by-wire, controle de tração, computador de bordo, sistema de freios ABS, painel analógico eletrônico e digital, refrigeração líquida, rodas de liga leve, injeção eletrônica, indicador digital de marchas, lanterna de led, entrada USB para carregar o celular e sistema de chave codificada.

E aí? Eu duvido que você chutaria a Street Twin, a nova Triumph Bonneville.

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Pois é, eu estava doido para testar esta moto, liguei para o meu xará na Rio Triumph e ele prontamente disponibilizou uma linda moto na cor cereja (Cramberry Red) para eu poder matar esta vontade.

Saí da loja e fui direto para a estrada, em um dia longo onde peguei trânsito, serra, chuva, neblina e até noite. Um teste completo e bacana que me deu uma completa informação sobre a moto.

Os fabricantes japoneses, quando começaram a ficar mais “musculosos”, em meados dos anos 60, começaram a copiar as motos inglesas do período. Eram as melhores do mercado. Honda, Yamaha, Kawasaki, Suzuki… todas fizeram bicilíndricas com cilindros paralelos e verticais, como as Bonneville. Mas com uma diferença importante, as japonesas eram muito mais confiáveis. Agora uma piada que apenas donos de Jaguar e Land Rovers antigos entenderão: “Porque inglês gosta de cerveja quente?” Resposta: “Porque a geladeira é Lucas!”. Pois é, as motos inglesas usavam componentes da marca Lucas, que estavam sempre falhando. Em cima disso as japonesas dominaram o mundo, a confiabilidade.

Mas isso é passado, hoje em dia a Triumph é uma montadora de motos super moderna, que usa os melhores componentes disponíveis no mercado. Usa componentes japoneses, como as suspensões Kayaba, os freios Nissin, e são tão confiáveis quanto.  Os homens de Hinckley não brincam em serviço. Esta nova encarnação mudou muitas coisas sobre a antiga Bonneville, tudo para melhor, sem perder o charme, o design e a herança do passado glorioso.

Apesar da semelhança das motos, ao olhar de perto e a ficha técnica, tudo mudou. O chassi é novo, o motor é novo. O novo motor é mais “torcudo” (18% segundo eles), o painel é novo. Tudo novo! A moto é bem acabada, com detalhes que misturam materiais foscos, com polidos e escovados. Uma pegada retrô moderna, com um design limpo e ao mesmo tempo cheio de referências. A moto é elegante e de uma modéstia que tenta passar a mensagem de simplicidade. Esta modéstia traz uma simpatia, que somado ao porte pequeno tornam a moto imediatamente acessível. Difícil não se sentir a vontade no primeiro contato. Poucos botões, tudo na mão. Há uma impressão de qualidade boa, sem ser excepcional. Correta, elegante, simples, honesta. É isso.

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Fui atendido pelo Gerente da Rio Triumph, o Sr. Antônio, que fez uma breve introdução dos comandos da moto e desejou-me uma boa viagem. Liguei a moto e “meti o pé”.

Em movimento, as sensações acampanharam o sentimento anterior, a moto é suave em tudo. O acelerador sem cabos é levinho , a embreagem é levinha. O motor produz um som lindo que impressiona (a ordem de explosão de 270 graus), a aceleração é forte, porém não é bruta. Ela cresce com força e suavidade. O freio, apesar de ter potência, não tem “ataque”, parece fraco no primeiro contato, mas isso combina bem com a suavidade geral da moto.

No transito a moto é muito boa. Fininha, leve, não esquenta muito, potente, com bom jogo de guidão, o barulho das descargas não é alto mas chama a atenção de leve. Apenas os espelhos são pequenos, ou o guidão curto, pois a visão sempre pega um pouco mais dos ombros do que devia. O índice de “WOW!” dela é razoável. Não é uma superstar, mas muitas pessoas olham e se interessam.

Saindo do transito, nas vias expressas, a velocidade aumenta um pouco e pude perceber que ela joga duro com as emendas de asfalto dos nossos viadutos. Uma batidinha durinha, a moto é firme, não é uma barca. Ela nem é muito pesada, 200 kg para uma 900cc naked não é muito. Nunca há sensação de peso, e sim de que ela é durinha. A suspensão traseira bichoque tem regulagens de pré-carga da mola e estava no meio, eu poderia deixar um pouco mais macia. Mas não vale a pena! Mais na frente peguei curvinhas na subida da serra e ela durinha de suspensão funcionou muito bem.

Chegando na estrada, para quem conhece, tem logo uns retões e aproveitei para ver logo como ela se comporta de mão no fundo.

Bem, existe uma diferença entre andar muito e andar bem. Ela anda bem, sempre. Mas não anda muito. Apesar de eu ter atingido boa km/h no velocímetro, e que a terceira esticando muito bem (ela tem apenas 5 marchas), ela realmente não brilha no quesito “dar pau”. O motor gosta de ronronar entre 80 e 110 km/h. Nesta faixa ele é delicioso. Nos 110 ele começa a mudar um pouco o padrão de vibração e vai sempre sem engasgar, tossir ou hesitar, mas comparado com outros motores de mesma cilindrada, ou até menores, cresce devagar.

O torque, mesmo sendo maior, não é um trator. Nunca terá a sensação de torque de um motor em V. Retomando de última marcha a eletrônica não deixa ele bater pino, mas ele quase bate e é melhor reduzir. Mantido na sua faixa de força, o torque é bom e subi a serra sem sentir a menor falta de força. Porém, tem que cambiar mais do que uma Harley, por exemplo.

Agora cheguei na subida da Serra de Petrópolis e ali consegui botar o chassi para trabalhar. Ó… o engenheiro responsável pelo chassi das Triumph está de parabéns. Todas as Triumph que testei tem se mostrado muito equilibradas e neutras de chassi. A frente não é leve nem pesada, a moto consegue fazer linhas boas e relativamente rápidas. A suspensão durinha aqui paga os dividendos e o motor suave e ótimamente mapeado tornam fácil transferir peso e equilibrar a moto para as curvas. As pedaleiras dão bom apoio, são altas, os pneus corretos (poderiam ser mais esportivos até). A embreagem antiblocante funciona mesmo (testei). A caixa de marchas não falha, não achei nenhum ponto morto falso em todo o teste, ela é precisa, mas o curso do pedal é longo e a caixa faz “clang”. Não é curtinha e não faz “clic” como a da sua irmã Daytona e outras Triumph. Muito divertida de subir a serra, praticamente toda de terceira marcha. O marcador de marchas digital no painel é uma mão na roda.

Arquivo_002(2)De modo geral, na cidade e em trechos de média velocidade, a Street Twin se coloca de maneira inclusiva. Motos mais capazes e potentes são estressantes porque os carros estão sempre atrapalhando com sua lerdeza… Com a Street Twin esta sensação não aparece muito, o desnível é menor e acaba que vc não se estressa tanto.

Para quem conhece, ao final da subida da serra, um frio do cão, começa a BR-40, nosso playground, onde tenho mais ou menos decoradas as curvas até quase Juiz de Fora. Ali chegando a velocidade sobe e a moto vai ficando cada vez mais fora do seu meio. Fiz o trecho até Itaipava rodando um pouco mai rápido, com segurança e a firmeza possível (não é uma SBK, plantada no chão). Não chega a ser frustrante porque a moto nunca, hora nenhuma, prometeu ser um foguete. É para passear.

Bebi um revigorante capuccino e fui passeando até Três Rios, onde fui visitar o Pedro Gama e comparar a moto com a Ducati Scrambler Full Throttle.

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Na volta peguei uma chuvinha, sem sustos, sujei a moto toda e não fiquei cansado, um excelente atestado de qualidade do rolé. O consumo ficou na média dos 20 km/l, excelente porque em testes ela bebe mais. Acredito que amaciada e em uso passeio ela consiga fazer até uns 25 km/l.

Finalizando, adorei a moto. Não sei até quando conseguirei ficar amassando minha barriga no tanque de SBK’s e uma moto assim, tranquila, está cada vez mais nos meus planos. É uma moto moderna, bem equipada, estilosa, tranquila, com mais de 150 itens (no exterior) para personalização da moto. Aqui na loja eu vi um conjunto de malas de couro sensacionais! A concorrência pode se gabar de ter melhores notas em itens importantes, como potência, freios e suspensões mais modernas, fato, mas para passear na cidade e estrada, nada disso é realmente necessário e o que é oferecido já atende com sobras a necessidade. Mas é uma briga boa.

Obrigado Mário pela oportunidade de testar a motoca, obrigado Pedro pelo exemplar de comparação, obrigado Antônio e Rio Triumph pela atenção.

Vejam mais fotos:

Abraços

Mário Barreto.

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

14 comentários em “Triumph Street Twin”

  1. Agora as impressões do “outro lado da meda”, do dono da moto comparada, a Ducati Scrambler Full Throttle: Quando o Mario Barreto me “notificou” de sua eminente visita para me mostrar “uma moto” que não uma Ducati, e mais, para que eu a sentisse, já sabia que meu dia não seria nada fácil. Para que possam entender melhor, estamos falando de duas motos distintas no quesito fabricante e pais de origem, Ducati e Triumph, de um Ducatisti apaixonado, eu, e de nada menos do que o Presidente do ForzaRio, também conhecido como “A Enciclopédia sobre Duas Rodas”, Mario Barreto. Dito isto, deixo claro que meu nariz para a Street Twin já amanheceu virado, e tudo que eu queria era achar defeitos nela para, no mínimo, melar o review do Mário e me sustentar em minhas nobres posições Ducatisti… sim, aquelas que não tem comparações nem oposições. E, para minha surpresa, DESTESTEI andar na Triumph. Mas para que não se enganem, e agora vou tentar fazer um difícil exercício de humildade, detestei não porque a moto seja ruim… mas porque é boa demais. Resumindo, detestei gostar dela, que facada no coração. As comparações, de modo geral, não são exatamente justas pois, de fato, embora ambas tragam o apelo retrô, cilindradas parecidas, motores de 2 cilindros e preços compatíveis, são motos extremamente diferentes. Como dito na excelente visão do Dr. Mario, excetuando detalhes como potência (absolutamente desnecessária em uso urbano), freios (não são ruins, são diferentes e o costume de uso lhe deixará confortável) e suspensão (Não é pior, muito pelo contrário, é até mais confortável, apenas, digamos, não muito atual), a Triumph Street Twin é uma pedida certa e confiável. Para piorar estes detalhes são AMPLAMENTE superados por outros à favor da inglesinha, tais como um belíssimo pacote de tecnologia, com coisinhas importantes para o uso do dia-a-dia, como mostrador de marchas, computador de bordo completo com mostrador de consumo médio e instantâneo, controle de tração que na minha modesta opinião nem precisaria pois não há nela este torque todo mas, indiscutivelmente, traz mais segurança e confiança, principalmente aos menos acostumados com altas cilindradas. A pergunta que me fiz o tempo todo foi: “Trocaria a Ducati Scrambler pela Triumph Street Twin?”, e só hoje, no dia seguinte, após o baque emocional consegui me responder, e a resposta é mais lúcida do que apaixonada, não, não trocaria. Mas não por a considerar uma moto pior e sim porque não seria, enfim, um bom negócio financeiramente falando, trocar uma moto nova por outra nova. Mas aí vem outra questão… “Compraria ela se hoje estivesse procurando uma moto nova?”. Esta resposta, só o tempo dará, mas e certo que estará sem dúvidas entre minhas opções. Obrigado Mário pela visita, é sempre um grande prazer (e você sabe que com prazer á mais caro). Quanto à ter me apresentado esta Madame, um dia você me paga…

    1. Caro Pedro Gama, tenho 55 anos, fazia alguns anos que não pilotava uma moto, minha última moto foi uma tornado, em 2003. Duas motos chamou me a atenção, justamente as duas que apareceram na reportagem, a Scrambler e a street twin. Este último final de semana, fiz um teste drive com a Ducati, em ruas movimentadas de Campinas, confesso que estava receoso, mas fiquei encantado pela facilidade. Mas estou em duvida, pois queria também para andar em estrada, vc poderia me ajudar.

  2. Nossa, tão boa assim?
    Estou procurando uma segunda moto, coisa pra final do ano, e estou procurando modelos, assim mais lights. Já tentaram me convencer em scooters, mas não é muito minha praia, eu gosto de marchas (rs)… Vou colocar nessa na lista.

    Preço?

  3. Como não agradecer pelo excelente review e bate bola? Obrigado, mil vezes, a Mário e Pedro. Queria saber sobre a refrigeração líquida e se existe opção de rodas raiadas. Mas já vou compartilhar!

  4. Tudo que você relatou nesse teste, eu vivi na minha primeira viagem após adquirir a minha ST em Curitiba. Estou satisfeito com minha ST nos alto dos meus 62 anos. Encontrei a moto ideal para minha performance e para meu estilo. Abraços!!

  5. Mario, bom dia
    Muito bacana sua matéria. e nota-se que você tem muita experiência na pilotagem de motos.
    Ainda não é o meu caso. Estou, na realidade, tentando entrar para o mundo das 2 rodas – mas o medo ainda é maior do que a vontade. Sobre este aspecto tenho duas questões:
    1 – Você conhece algum centro de treinamentos ou instrutor que dê aulas para iniciantes? On road nivel 0 sabe? rs
    2 – mesmo sem muita experiência a triumph que você testou pareceu ser “dócil”. Indicaria como uma moto para aquele iniciante que depois de 6 meses numa scooter quer ter uma moto legal e bonita mas que seja segura e não o derrube no chão?
    Obrigado
    Diego Morais
    São Paulo – SP

    1. A primeira coisa é ter confiança e nunca pensar cair. Motos em movimento são objetos muito estáveis e apenas más ações dos pilotos, sustos e muito raramente ações externas as fazem cair. “Tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta, e o coração tranquilo “. A moto é adequada para qualquer um. Faça uma boa introdução com ela, conheça seu peso, empurre bastante, manobre com ela desligada, depois comece devagar. Minimize a fonte de sustos, confie em sua capacidade e manda bala.

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