Praga de Comentarista

Há por aqui na terra da Rainha uma expressão que explica o que aconteceu com o Quartararo na Holanda: é a “commentator’s curse”. Até livros foram escritos a respeito da praga de comentarista: é quando os elogios de quem narra trazem uma zica poderosa para o elogiado. Nesta semana mesmo, na prova da Moto 2, o Matt Birt, que narra para o MotoGP, elogiava o desempenho do Albert Arenas, que podia conseguir seu primeiro pódio na categoria, e o piloto caiu na mesma volta. Em relação ao El Diablo, eu me senti culpado. ;o)

Quartararo terá pesadelos com a corrida de Assen por muito tempo. Com a vantagem que possui no campeonato, podia correr pra terceiro sem se afobar. Só que o que torna excelentes pilotos em campeões é a vontade de vencer. Pedir para que um desses gênios se acomode quando há possibilidade de vencer é inútil. Um crime contra sua natureza. Afobou-se, atrapalhou a corrida do Aleix Espargaró, e ainda correu um risco desnecessário ao levar um tombaço que poderia tê-lo afastado das pistas por um longo tempo. Segundo ele, a Yamaha o fez voltar para a pista por causa da possibilidade de chuva… uma ideia de jerico, como dizia o meu pai. Agora ele vai pagar uma volta longa em Silverstone, mas deve pegar um pódio. Toc, toc, toc.

Bagnaia venceu a prova em duas etapas: na primeira curva e no enrosco da Yamaha com a Aprilia. Não errou nada e venceu 40’25”: 10” mais rápido que a vitória do Quartararo em 2021 e 30” mais rápido que a vitória do Viñales em 2019. Só me pergunto se a vitória seria tão fácil se o segundo colocado não fosse o amigo, o chapa, o colega de academia VR46, Marco Bezzecchi. E ele fez uma ótima corrida, sem dúvida, mas será que não rolou uma espécie de hierarquia que não aconteceu em Le Mans porque o Bastianini é mais desencanado e não pertence ao grupo? Notem que o Bagnaia foi festejar a vitória em frente à tribuna do Rossi, não em frente à da Ducati. De qualquer maneira o primeiro pódio da Mooney VR46 no MotoGP tinha que ser em Mugello, Assen ou Misano, pistas que fazem parte da história do Vale. Cena triste foi o Marini fazendo muxoxo e se retirando para seu trailer sem comemorar o pódio do companheiro de equipe. Até entendo que grandes campeões não gostem de fazer papel de coadjuvante, mas as equipes independentes precisam ser unidas e celebrar cada conquista.

Viñales se reencontrou com o pódio exatamente na pista onde tinha conquistado seu último troféu. A mesma pista onde se deu o divórcio entre ele e Yamaha e esse terceiro lugar vai lhe dar muita moral. Em qualquer esporte de alto nível a força mental é o que faz diferença. Se o piloto entra “na zona” o desempenho melhora, a insegurança desaparece, e os resultados chegam naturalmente. Acho que veremos o Maverick mais perto do pódio na segunda metade do campeonato.

Outro fator que diminui o tempo de volta em meio segundo é o “não tenho nada a perder”. Quantas vezes já vimos um piloto largar lá de trás, ou ter algum problema e cair para as últimas posições e fazer uma super corrida de recuperação. Na 5ª volta o Aleix Espargaró estava a 8.560” do Bagnaia, em 15º lugar, com os pneus sujos de brita. Chegou a 2.585” do vencedor. Tirou 6 segundos inteiros em 21 voltas tendo que ultrapassar 11 pilotos. Pela matemática a conclusão simples é que ele deveria ter ganhado a corrida, mas não é bem assim. A força do ódio faz o sujeito andar mais rápido, esquecer as precauções e ousar mais. Aquela ultrapassagem na Geert Timmer chicane sobre Binder e Miller já é a mais bonita do ano.

O sul-africano saiu de Assen um pouco mais otimista. Ele e o Oliveira correram bem, sendo que o Miguel foi prejudicado por um acidente antes da largada, quando o Mir freou repentinamente quando chegava ao grid e o português bateu na lateral da Suzuki, perdendo a asa direita. Isso o prejudicou nos trechos de alta velocidade do 2º e do 4º setores: as motos dependem muito da aerodinâmica. Mesmo assim ele chegou ensanduichado pelas Suzukis: grudado no Mir e seguido pelo Rins.

Miller correu bem e podia ter chegado em terceiro, mesmo pagando uma volta longa. Errou ao tentar passar o Viñales na GT chicane no final da penúltima volta, entrou todo torto e lento na reta e acabou virando presa do Binder e do Aleix. Jorge Martin andou por um bom tempo em 3ª, mas está com uma infecção na mão que operou depois do GP de Barcelona e sofreu dores que o fizeram chegar em 7º. Deve sofrer nova cirurgia esta semana.

Outro que parou com dores foi o Raul Fernandez, sofrendo com arm pump. Pol Espargaró nem correu, em consequência do acidente que sofreu na Alemanha: com dores nas costelas não conseguia nem respirar.
Bastianini, Nakagami e Zarco fizeram corridas bem medíocres. Di Giannantonio e Alex Marquez, a dupla da Gresini em 2023, fecharam os pontos em 14º e 15º. Nesta corrida a Yamaha não pontuou e a Honda marcou apenas 4 pontos: a coisa está feia para os japoneses.

Tivemos Moto E neste final de semana e o Eric voltou a vencer na prova de domingo, que foi interrompida pela chuva e por um acidente com o seu companheiro de equipe. No sábado o Granado tinha tudo para ganhar também, mas deu um mole pro Aegerter, no fim da penúltima volta. O suíço é agressivo e passou batendo na moto do brasileiro. Ainda assim o Granado chegou em 2º. No domigo, as posições se inverteram, mas como os pontos foram contados pela metade e Aegerter abriu mais 2,5 pontos na liderança do campeonato.

A prova da Moto 2 foi provavelmente a mais disputada do fim de semana e o Campeonato tem o Augusto Fernandez e o Celestino Vietti empatados na liderança com o Ai Ogura, assombrando o Nakagami, um ponto atrás. O espanhol vai para o break embalado com duas vitórias seguidas, mas a nota triste é que não vejo onde aproveitar os talentos que estão sendo formados na Moto 2, uma vez que a Moto GP perdeu dois assentos.

Agora teremos 5 semanas de férias dos pilotos, com os engenheiros trabalhando loucamente para melhorar as motos até Silverstone. O momento psicológico mudou, pois o Bagnaia vai para as férias em alta, mesmo com uma enorme desvantagem nos pontos, o Aleix deu uma bela encurtada na distância para o Quartararo, que pode diminuir ainda mais com a volta longa que ele terá que pagar no GP da Inglaterra, e o francês vai calçando as sandálias da humildade, para não repetir o mole que deu no domingo.

Em Silverstone será in loco.

Até lá!

 

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Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.

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