Não concordo e não gostei!

Recentemente a Dorna encomendou uma pesquisa detalhada sobre o MotoGP para entender o que podia ser feito para melhorar o espetáculo. Aconteceu em junho e mais de 110.000 fãs de 179 países responderam. Eu também. A pesquisa pedia sugestões e vou abrir aqui as que dei:

– acabar com mecanismos que abaixam a suspensão
– obrigar todas as fabricas a ter uma equipe satélite
– limitar o número de motos de cada fábrica a quatro (2 oficiais e 2 satélites)
– melhorar a infraestrutura de dados dos circuitos

Do jeito que está, a Ducati, com 8 motos na pista, tem uma vantagem injusta. A prova de domingo em Misano teve um resultado armado, que não representa a realidade da corrida. Quando Bagnaia e Bastianini passaram em frente aos boxes para iniciar as últimas 4 voltas, a câmera cortou para um Gigi Dall’Igna tenso. Aí veio o Cristian Gabarrini, chefe da equipe do Bagnaia, falar alguma coisa no ouvido dele. Quando os pilotos italianos passaram para iniciar as três últimas voltas, o chefe da equipe do Bastianini estava com meio corpo pra fora do alambrado fazendo sinais para ele “usar a cabeça”. La Bestia teve mais ritmo que o Bagnaia todo o fim de semana. Ali no meio da prova ele deu uma errada na curva 10, ficou meio segundo pra trás, e fez brincando uma volta em 1’36”. Na última volta ele errou na curva 4, perdeu 3 décimos de segundo, e, ainda assim, fez a melhor volta da prova. Domenicali, o presidente da Ducati, ficou todo nervosinho, e o Carlo Pernat, manager do Enea, fez questão de sacanear dizendo que o Bastianini merecia metade do prêmio da vitória. Zarco também deu declarações sobre a orientação da fábrica: “se o piloto estiver ganhando a prova pode manter a liderança, mas em qualquer outro caso ‘faz sentido’ abrir pro Bagnaia”. Em resumo: o título de fabricante a Ducati já tem e deve ser bi, mas eles sabem que o que conta mesmo é o título de piloto, como o do Stoner em 2007.

E Bagnaia ganhou a quarta seguida e diminuiu a distância pro Quartararo para 30 pontos. O francês está frustrado porque deu tudo o que tinha pra dar e só conseguiu 11 pontos. Em Aragón não deve ser muito melhor, pois ele nunca conseguiu nada melhor do que um quinto lugar. O erro na Holanda foi caríssimo e esse campeonato deve ir até Valencia.

Morbidelli andou dando o ar da graça em alguns treinos, mas foi decepcionante na corrida. Dovi se despediu com um 12º lugar a mais de 29 segundos do vencedor: uma sombra do que já foi.

Marini repetiu o ótimo 4º lugar da Áustria e eu mordi minha língua. Eu o acho um degrau abaixo dos outros pilotos da Ducati, mas Zarco ainda não aprendeu a largar e o Martin “tá xatiado” por ter sido preterido na disputa pela vaga do Miller. Esse me tira do sério: gosto dele, mas cai nas horas mais impróprias. Bezzecchi foi bem no treino, mas também caiu logo. Aí penso se essa pressão da Ducati pro-Bagnaia não está colocando mais uma preocupação na cabeça dos outros ducatisti. Deixa pra lá…

A KTM deu novos exemplos de como deve ser difícil trabalhar com os austríacos. Gardner deu entrevistas dizendo que estava tranquilo até o GP da Áustria, quando foi surpreendido pela proposta que a KTM fez para o português. Aí alguém lhe disse que não renovariam com ele por comportamento pouco profissional e ele ficou p da vida. O Simon Crafar, repórter e comentarista da MotoGP, deu uma espremida no Pit Beirer durante o FP3 e o alemão ficou gaguejando, dizendo que adorava o Remy. Aí o Simon mostrou pra ele que Gardner e Raul Fernandez eram bem mais velozes em 2021 do que Augusto Fernandez e Pedro Acosta em 2022 e o alemão novamente se enrolou e não disse lé com cré. Nesta prova o Oliveira estava melhor do que o Binder mas teve que pagar uma volta longa por exceder os limites da pista e acabou em 11º, enquanto o sul-africano marcou um 8º.

A solitária Suzuki do Rins (o Watanabe foi convidado para honrar a longa carreira que teve, não para disputar) fez um sétimo chocho, atrás de um igualmente picolé de xuxu Aleix Espargaró. Foi a 3ª derrota pro Viñales, que andou mais rápido do que ele o fim de semana inteiro. Com a chegada da RNF, periga ele perder o protagonismo na Aprilia muito em breve.

A Honda comemorou muito ter três motos pontuando, uma delas na 10ª posição. Comemorar Top10 é o fundo do poço para uma marca que já ganhou tanto. Marc Márquez testa nesta terça-feira. Se estiver bem testa também na quarta. Eu acho um pouco prematuro e temeroso, mas a fábrica está tão perdida que ele se sente obrigado a participar do desenvolvimento para 2023.

Talento fora de série está surgindo na Moto 2, e o nome dele é Alonso Lopez. O Luca Boscoscuro, único concorrente da Kalex, não hesitou em demitir o Romano Fenati no meio do campeonato pra trazer o espanhol. Foi a primeira vitória desse chassi desde a vitória do Quartararo em 2018 na Catalunha. Canet ficou em segundo lugar mais uma vez e já rolam apostas sobre quem vai conseguir desencantar primeiro: Zarco no MotoGP ou Canet na Moto2. Disputa dura… Augusto Fernandez chegou em 3º e Ogura em 5º, fazendo com que o espanhol assumisse a liderança do campeonato por 4 pontos.

Na Moto3, ganhou o marrento (por quem eu torço) Dennis Foggia, que está tirando aos pouquinhos a vantagem dos espanhóis da GasGas.

E o Eric Granado repetiu o que fez no ano passado na mesma Misano: caiu no sábado e entregou o ouro ao bandido. Fez um terceiro no domingo e acabou como vice-campeão, o melhor resultado das quatro temporadas. Fica pra 2023…

Aragón é só daqui a 2 semanas, mas serão três fins de semana seguidos e decisivos (Aragón, Japão e Tailândia).
Achei meio punk o pequeno intervalo entre a prova na Espanha e a de Motegi, com todo o fuso horário que existe entre os dois lugares, mas tinham que encaixar estes testes que começam amanhã e aí não teve jeito.
Veremos o que as fábricas vão trazer.

Até lá!

Para a Fauna do Motociclismo.