Não dá para entender o GP da Argentina sem antes analisarmos a excelência do trabalho do Gigi Dall’Igna. Então aguentem um pouco de história:
Lá em 2017 e 2018 a Ducati tinha a melhor moto do grid, mas havia muita divisão interna na briga Dovisiozo vs Lorenzo. Em 2019 a Honda trouxe um novo motor e o Formiga destruiu o campeonato, levando as taça de piloto, construtor e equipe praticamente sozinho (Lorenzo fez 28 dos 448 pontos da Repsol Honda). Já em 2020, um campeonato capado pela pandemia, a Suzuki apareceu como a moto que melhor tratava os pneus conseguindo botar Mir em 1° e Rins em 3°. Dovi perdeu a grande oportunidade de se afirmar como grande piloto depois de três vice-campeonatos e enterrou sua carreira ali. O ano seguinte marcou o amadurecimento do Quartararo, aproveitando uma Yamaha que já tinha sido vice-campeã no ano anterior, vencendo 6 corridas (3 com o próprio e 3 com Morbidelli). Livre das contusões que afetaram a sua segunda metade de 2020, El Diablo levou o primeiro título de MotoGP para a França, mas o ano de 2021 viu a Ducati vencer 6 vezes: duas com Miller e as outras com Bagnaia, que desabrochou no GP de Aragon e venceu 4 das últimas 6 corridas do ano. A GP21 já era uma moto excelente, mas no ano seguinte Dall’Igna trouxe a GP22: uma pequena evolução em relação à GP21.
As Ducatis ganharam 12 das 20 corridas de 2022: 4 vitórias da GP21 (Bastianini) e 8 da GP22 (7 Bagnaia + 1 Miller). A GP23 foi também uma pequena evolução da GP22, e em 2023 as Ducatis venceram 17 das 20 corridas: 4 com a GP22 (3 Bez + 1 Diggia -Alex Marquez venceu 2 Sprint), 13 com a GP23 (7 Bagnaia + 4 Martin + 1 Bastianini + 1 Zarco).
Aí veio a GP24, que foi uma grande evolução em relação a GP23, e a Ducati venceu 19 das 20 corridas: 3 com a GP23 e 16 (11 Bagnaia + 3 Martin + 2 Bastianini) com a GP24.
E aí finalmente chegamos em 2025 e o Gigi descobriu que há um limite para melhorar o que já é perfeito. A GP25 é praticamente uma GP24, com pequenos detalhes de diferença. E isso explica o campeonato até agora.
Quem andou de GP23 no ano passado, teve um salto quântico de qualidade, o que explica o sucesso dos irmãos Marquez. Dos 6 pilotos Ducatis, só 2 usaram a GP24 ano passado: Morbidelli, que teve um ano difícil por causa das contusões mas já conhece bem a moto, e Bagnaia, que esperava uma evolução e recebeu algo que não é a GP24 que ele dominava inteiramente. Ele apelidou a nova moto de GP 24.9. Na Argentina correu com algumas peças do ano passado e a chamou de GP24.7. Está considerando a possibilidade de usar a GP24 em Austin, Qatar e Jerez, até que os testes após o GP da Espanha o permitam acertar a nova moto ao seu jeito.
Não há demérito no desempenho do italiano: os outros é que receberam um instrumento novo muito melhor ao que estavam acostumados.
E o paddock tem que dar graças por só haver 6 Ducatis na pista. Eles levaram o Top5 em Termas do Rio Hondo e só não levaram o Top6 porque Aldeguer ainda está muito verde.
Parabéns para a Honda. que realmente deu um passo adiante na habilidade de fazer curvas. Ainda está perdendo bastante na velocidade final, mas colocou 3 motos no Top10 (após a triste e, de certa forma, injusta eliminação do Ogura). Zarco é um piloto que anda bem quando a pista não tem muita aderência e esteve sempre entre os primeiros desde o TL1.
As Yamaha decepcionaram, embora Quartararo tenha sido muito prejudicado pela largada atabalhoada do Bezzecchi.
As Aprilia ficaram com 1 pontinho do Raul Fernandez, promovido a 15°. O marrentinho espanhol está tomando um esculacho do estreante japonês. A moto de Noale parece ter potencial, mas esperava-se um resultado melhor nesta pista onde obteve sua primeira vitória.
As KTM estão sofrendo muito com a falta de tração e o desgaste do pneu traseiro. Acosta pelo menos declarou que a moto melhorou de sábado para domingo, o que é um alento, mas a pista também melhorou.
E a melhora na pista foi o que deu alguma emoção à corrida, pois a maior aderência do pneu traseiro estava empurrando a frente da GP25 do MM93, que não só cometeu um erro na curva 1, mas quase foi pro espaço em uma balançada na curva 6. Alex Marquez teve que puxar o trem, o que desgasta mais os pneus. Para o fim da corrida o pneu traseiro mais desgastado devolveu a confiança ao Formiga, que passou, fez duas voltas mais de meio segundo mais rápido que os demais e administrou até a bandeirada.
Boa corrida do pessoal da VR46, que arriscou com o pneu traseiro macio enquanto todos foram de médio. Diggia era o mais rápido nas últimas duas voltas e arrancou o 5° do francês. Bom ver o ítalo-brasileiro de volta ao pódio depois de mais de 1400 dias. Morbidelli em boa forma física vai dar trabalho.
Na Moto2 um tombo no Practice de 6a-feira à tarde acabou com o fim de semana do Diogo Moreira. Teve que ir ao Q1 de onde será salvou na última volta, depois da bandeirada. Fez um bom 5° no Q2, mas tinha algo errado na moto pois ao largar de tanque cheio não tinha nenhum feeling na frente. Abandonou depois de despencar na classificação. Uma pena.
Agora vamos pra terra do Tio Sam. Pela lógica MM vai fazer um hat trick, mas corrida, como dizia o Chacrinha, só acaba quando termina.
Bagnaia tem que chegar pelo menos no pódio para tentar reverter essa tendência no Qatar: uma das pistas que ele mais gosta.
Até lá!