Tecnicidades…

Neste campo das técnicas, tecnologias, estratégias, invenções, programações, construções e uso das motos protótipo de GP, de vez em quando surgem diferenciais facilmente identificáveis, que explicam a diferença de performance entre as motos dos diferentes fabricantes. Nem vou voltar a época das 500 2T, apenas lembrar rapidamente que os 4 cilindros em quadrado da Suzuki tiveram sua época, depois o diferentão 3 cilindros da NS500 do Fredie Spencer, os V4 2T da Yamaha e depois Honda.

Quando chegou o MotoGP a Honda barbarizou, construindo uma moto completamente nova, a RC211V – RC que é o nome usado nas Racing da Honda, 21 de século XXI, 1 por ser a primeira RC do século XXI e V por utilizar um motor em V – 5 cilindros, chassi novo, tudo novo. Muitos tinham dúvidas se esta moto iria andar mais do que a NSR500 com a qual Valentino Rossi tinha acabado de ganhar o seu primeiro título na maior categoria. O próprio Rossi, estava indeciso sobre qual moto usar para a próxima temporada, talvez deixando a moto passar um ano em desenvolvimento , para não perder competitividade. Mas… ele foi testar a moto e no primeiro teste já escolheu correr com a nova. Era MUITO melhor.

A Yamaha teve um início no MotoGP completamente diferente e apanhou muito por isso. Escolher fazer a sua M1 – Mission One – usando uma adaptação do seu chassi Deltabox que era utilizado na YZR500, um motor de 4 cilindros em linha com 5 válvulas por cilindro (o Gênesis, que ela adorava e que depois Rossi enterrou), com apenas 920cc e, pasmem, carburada. Não deu nem para o cheiro.

A Honda RCV211V era muito melhor do que tudo o que colocaram na pista em 2002 e 2003. A Yamaha aumentou a cilindrada da sua M1, a moto era muito ágil de chassi, Max Biaggi um monstro, mas só ganhou umas poucas provas em 2 anos. 5 cilindros, muita potência, injeção sofisticada, esta era a diferença.

Para 2004 a maré virou… A Yamaha passou secretamente quebrando seus pilotos, entre eles Alex Barros, preparando-se para a chegada do Rossi, que secretamente tinha se acertado com a Yamaha antes do início da temporada de 2003. A Honda irritou Rossi ao provar que ele não era este piloto todo (entregou uma RC211V para Alex Barros dar um ralo nele no “Mundialito de 2002) e Rossi revidou “traindo” a Honda em segredo. Em 2004 Rossi e Jeremy Burguess foram para a pista no primeiro dia de testes e tinham vários chassis, balanças traseiras e motores para escolher. Desenvolvidos durante um ano inteiro por Barros, Checa, Melandri e Nakano. Pegaram o melhor, Rossi enterrou o motor Gênesis e dali saiu uma M1 MATADORA, que nas mãos de Rossi já saiu vencendo em 2004. Seu forte? Conjunto, agilidade, facilidade de uso e sensibilidade para os pneus Michelin. A RC211V de uma hora para outra ficou grande e pesada.

Hayden foi campeão com a Honda em um ano em que muitas coisas deram errado para Rossi e sua Yamaha, com tombos, quebras e azares. A M1 continuava melhor até que chegou a Desmosedici GP7. A Ducati, sem chances de disputar o campeonato de 2006, abandonou o desenvolvimento da GP6 e já no meio do ano de 2006, começou a desenvolver a sua GP7, em um ano em que mudou a cilindrada para 800cc. Honda e Yamaha estavam em sua briga de morte pelo campeonato e não se tocaram ou não puderam acompanhar este desenvolvimento…E o que aconteceu? A GP7 veio com um motor de 800cc muito foguete que atropelava as japonesas nas retas. Nas mãos do fenômeno Casey Stoner, venceu o primeiro campeonato para a Ducati, em 2007.

As japonesas correram atrás do prejuízo, e mesmo sem nunca anular a vantagem de motor das Ducatis, melhoraram bastante e a Yamaha retomou o controle do campeonato, com Rossi e o novo Young Gun, Jorge Lorenzo. A nova RC212V, agora com 4 cilindros, não era ruim, mas Pedrosa, apesar de ser também um Alien, nunca teve força para vencer com esta moto. Teve que Stoner encher o saco de ser maltratado na Ducati para ir para Honda vencer com ela. O que prova que o que faltou para a Honda no período era apenas piloto. Stoner saiu da Ducati e já saiu ganhando na Honda. Aliás, esta era uma característica que o diferenciava dos demais pilotos, a velocidade com a qual ele se adaptava as motos e pistas. Neste período as Yamahas tiveram a diferença de serem o melhor conjunto, agora ajustado para os pneus Bridgestone e dois monstros na pilotagem, Rossi e Lorenzo.

Na sequencia veio a Honda RC213V e com ela Marc Marquez. Era uma época ainda sem as restrições de ECU unificada e a Honda investiu pesado na eletrônica e tecnologia. Sua moto tinha um torsiômetro (torductor, hoje usado no WSBK) integrado aos eixos do câmbio, capaz de medir e usar informações em tempo real do torque real do motor, uma coisa über sofisticada. Sua potência era muito boa, não ainda como a da Ducati, mas suficiente. A Ducati foi completamente estragada pela dupla Rossi e Burguess e teve que esperar a chegada de Gigi Dall’Igna, para fazer a GP15, base da evolução que chegou até os dias de hoje. A Honda era a mais sofisticada, a Yamaha a mais fácil de usar, a Ducati no período, estragada.

Com a Ducati sempre andando para a frente nas mãos de Andrea Dovizioso, a novidade nos GPs veio da Suzuki, que voltou aos GPs com uma moto completamente nova, a GSX-RR, que foi campeã do mundo apostando na simplicidade do seu projeto. Perto das irmãs japonesas a Suzuki era simples, simplesmente bem feita demais, redonda demais, fácil de pilotar demais. Era até engraçado ver os pilotos da Suzuki sambando atrás das outras motos nas curvas, pois a Suzuki podia fazer diversas linhas por todos os lados das curvas, enquanto as concorrentes só tinham uma escolha. Mas faltava-lhe motor. Os circuitos atuais favorecem muito as motos com aceleração estúpida, e desfavorecem as motos redondas… é só ver o que está sofrendo a Yamaha.

Gigi é um gênio, de veio sempre melhorando a sua moto. Apesar de contar com o talento do Dovi, um piloto que eu adoro, sou obrigado a reconhecer que Dovi nunca andou o que precisava para vencer Marc Marquez. Fez jogo duro, mas não era um piloto certo para a época. O que é triste é que Dovi foi, muito mais piloto do que Pecco Bagnaia e Jorge Martin, que Joan Mir, e eles foram campeões e Dovi não. Não acho que Dovi andou mais do que Fabio Quartararo, acho que dá empate.

Escrevi para caramba para chegar aos dias de hoje… Hoje a Ducati domina, mas, graças a Deus, a diferença está caindo. A grande diferença ainda é o piloto, Marc Marques está fazendo muita diferença, mas a motos todas estão com motores muito forte, a Ducati não consegue mais atropelar na reta nenhuma das concorrentes. A KTM empurra muito, a Aprilia empurra muito, a Yamaha e Honda tem motores rápidos. A Aprilia é tida como a mais inovadora na aerodinâmica e hoje em dia onde está o diferencial da Ducati?

Marc Marquez – 2025 Qatar GP

Está no controle da parte traseira da motocicleta, por incrível que pareça. Através de um bom projeto e de uma superioridade no uso da eletrônica, a Ducati tem sido superior na leitura e uso da tração disponível. Tanto a tração mecânica, dada pela construção da moto, como na eletrônica, dada pelos programadores. E agora, usando a IA para ajudar na análise dos dados, a Ducati está na frente ao conseguir usar a traseira da moto para frear a moto também. Sabemos que nas fortíssimas freadas do MotoGP a roda traseira sai do chão, o que torna a janela de uso do pneu traseiro nas freadas curtíssima… mas é nesta janela que a Ducati hoje em dia mantem-se na frente, conseguindo manter o pneu e o freio motor em um controle que está lhe dando um equilíbrio capaz de frear melhor e economizar pneus.

Vamos agora aguardar, pois para 2027 tudo vai mudar… vamos ver o que vem por aí…

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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