Inevitável:
Substantivo Masculino – Aquilo que não se pode impedir.
Adjetivo – Que não pode ser evitado nem impedido.
Inevitável é sinônimo de: fatal, infalível, irremissível.
E Marc Marquez, inevitávelmente sagrou-se novamente campeão do mundo de Motovelocidade. Foi campeão na extinta 125cc, categoria de entrada, foi campeão na Moto2 e agora em 2025 venceu pela sétima vez o campeonato máximo, a MotoGP. Em condições ideais, já teria ultrapassado Giacomo Agostini nos números, porque ele é um piloto com qualidades extraordinárias, como também foram alguns outros, imbatíveis em suas épocas. Ago, King Roberts, Steady Lawson, Rainey, Mick Doohan, Valentino Rossi, Jorge Lorenzo. Todos no Hall of Fame do MotoGP. Deu sorte, pegou o ocaso de Valentino, de Lorenzo e a desistência de Casey Stoner. Nunca competiu contra Casey Stoner, uma sorte danada. Apenas Jorge Lorenzo pode dizer que competiu e venceu os últimos grandes, pois venceu Stoner, venceu Rossi, venceu Marc Marquez. Com esta vitória, Marc Marquez empata com Rossi no número total de campeonatos mundiais, 9. E empata também no número de vitórias no MotoGP, 7. Se bem que Valentino tem 1 das 7 na extinta 500cc, o certo então é que Rossi tem 1 de 125cc, 1 de 250cc, 1 de 500cc e 6 de MotoGP.
Desde o seu início na carreira dos GPs Marc Marquez mostrou-se excepcional e inevitável. O mais focado, o mais atrevido, o mais temido, o mais rápido. Além do seu problema no braço, tem também o problema da visão dupla, que o atrapalhou na Moto2 e algumas vezes também no MotoGP. Depois de vencer na Moto2, subiu e já foi campeão em seu primeiro ano no MotoGP, vencendo sem dó nem piedade todos os campeonatos até 2019, excluindo o de 2015, o ano do coice, quando perdeu para Jorge Lorenzo.
E sempre como peça principal no conjunto, pois venceu com uma Moto2 que não ganhava nada, a Suter. Lembrando que venceu a última etapa de 2012 ultrapassando 20 pilotos apenas na primeira volta, vencendo após largar da posição 33. O maior comeback da história dos GPs.
Na MotoGP pegou a moto preparada por Casey Stoner e Pedrosa, mas depois Honda teve que enfrentar evoluções significativas na Ducati, Yamaha e Suzuki, sem acompanhar, e MM seguiu vencendo vários campeonatos carregando a moto nas costas. Dizemos isso baseados na qualidade de seus companheiros de equipe e os resultados obtidos por eles, pífios. A Honda tinha sérios problemas que somente Marc Marquez com o seu talento excepcional foi capaz de contornar.
Em 2020, ano de seu fatídico acidente, lembrem-se que ele vinha de trás, passando todo mundo, quando caiu, um tombo relativamente simples, mas que por um detalhe do destino, um toque de muito mal jeito da roda dianteira no seu braço, causou uma lesão que demorou vários anos e várias cirurgias para consertar. Não tenho a menor dúvida de que, mesmo com a evolução da Suzuki, Ducati e Yamaha, ele continuaria vencendo, pelo menos mais um ano, com a Honda RC213V.
Voltou antes de estar completamente bom, problemas de calcificação, problemas de tratamento, de diagnóstico, até descobrirem que a solução seria cortar e prender o braço em posição mais correta, pois o osso havia calcificado em posição incorreta, virado no eixo longitudinal. Fisioterapias longas e dolorosas, recuperações perigosas e lembrando aqui que Marc Marquez “com um braço só”, montou na Honda e venceu corridas, sempre performando melhor do que os outros pilotos com o mesmo equipamento.
Foi um esforço hercúleo, principalemente se colocarmos na equação que isso tudo aconteceu com ele já milionário, com 8 títulos no lombo. Mas ele queria muito e correu atrás.
Não acho a sua história, apesar de belíssima, maior do que a de Mick Doohan, cuja a lesão na perna foi muito mais grave. Mick teve sua perna condenada para amputação, salvou-a costurando na outra perna para mantê-la viva, recuperou-a e a colocou no lugar novamente, com grande limitações de movimento, inventou o thumb-brake no processo e com esta perna toda arrebentada, ganhou 5 títulos seguidos no mundial de 500cc, motos muito mais difíceis de pilotar e conta uma concorrência dificílima de enfrentar. E não tinha ficado tão rico quanto Marc Marquez, era outra época de dinheiros.
O inevitável Marc Marquez viu que era também inevitável trocar de moto para tentar ser campeão novamente. A Ducati levou anos, muitos, mas desenvolveu uma moto e uma equipe que são no momento imbatíveis no cenário do MotoGP. Largou um valioso contrato com a Honda RedBull Repsol e foi correr na equipe satélite Gresini Ducati, onde brilhou com um equipamento “do ano passado”, recuperando velocidade, confiança e mostrando para todos os sensores de telemetria e para Luigi Dal I’gna que ele era a melhor escolha para ser companheiro do agora vice-campeão Pecco Bagnaia na equipe de fábrica oficial.
Estreou vencendo e inevitavelmente veio vencendo muito e constantemente até hoje, quando não venceu e nem precisava, é campeão do mundo com 5 corridas de antecedência. Depois de tudo o que passou, é confirmado como o mais talentoso, veloz e dedicado piloto do ano de 2025. Não deu chances para ninguém, com uma campanha onde venceu muito mais e foi campeão com o dobro de pontos do que o companheiro de equipe. Inevitável.
Sobre as corridas no Japão vimos que modificações no setup da GP25 ressucitaram um quase morto Pecco Bagnaia, que treinou bem, fez pole-position, venceu a Sprint Race, venceu o GP, fez volta mais rápida e dominou o fim de semana. Assustou todo mundo com a fumaça branca que sua Ducati começou a soltar nas últimas voltas, mas felizmente conseguiu levar a fumante até o fim da prova. Pecco é uma dos pilotos menos impressionantes de se olhar correndo, pois quando tem uma moto boa e ao seu estilo na mão, larga bem, abre na ponta, dificilmente disputa posições e não rabeia a moto, não arrasta a orelha no chão, não anda de lado, não nada, ele simplesmente anda para a frente sem espetaculosidades maiores. Hoje estava muito rápido e o maior oponente que poderia ter, Marc Marquez, estava correndo para ser campeão.
Digno de alegria foi ter Joan Mir e sua Honda em terceiro no pódium. Gosto muito dele como personagem e piloto. Não é um grande entre os grandes campeões, mesmo sendo um bi-campeão do mundo, simplesmente porque venceu pouco em sua carreira. Mas é muito rápido, trabalhador e também azarado, pois tudo o que acontece de ruim em uma corrida, tem grande chance de cair sobre sua cabeça. A Honda parece estar melhorando mesmo e isso é muito bom para o espetáculo.
O resto da corrida eu nem vi direito, vou ser honesto. Mesmo a principal, na madrugada, tive que assistir com o delay de algumas voltas porque acordei com tanto sono que dormi de novo, kkkkkk, estas corridas asiáticas são difíceis!!!
Daqui para o final eu vou torcer para o vice-campeonato do Alex Marquez, para que Pecco recupere a competitividade e torne esta disputa emocionante, para que Jorge Martin se recupere, para que a Honda continue seu desenvolvimeno e para que a nova Yamaha M1 V4 seja boa de briga. Amém.
Parabéns Marc Marquez, parabéns Ducati Corse, hoje é um dia muito especial.