Festa Estranha

Era para ser um domingo de festa em Mandalika, com a equipe Ducati LeNovo se sagrando campeã e obtendo a tríplice coroa, o que só tinha acontecido em 2022, mas deu tudo errado: Bagnaia fracassou e Marc Marquez estará fora dos GPs da Australia e da Malásia.

Antes de mais nada: parabéns à equipe Gresini! Desde que se juntou a Ducati todos os seus pilotos venceram ao menos um GP. Aldeguer, depois de um belo 2° lugar na Áustria, se tornou o 2° piloto mais jovem a vencer no MotoGP. Foi consistente e rápido e poderia ter vencido por 10s, se não tivesse tirado totalmente a mão na última volta. Com o 3° lugar do Alex, a Gresini já está com uma mão na taça de melhor equipe independente.

Mandalika é muito diferente de Motegi, que é uma pista com quatro frenagens muito fortes, bem no estilo “stop and go”. O traçado de Lombok é fluido e privilegia agilidade e velocidade em curva. O circuito é muito pouco utilizado e os pilotos o encontram muito sujo e “verde” na sexta-feira, o que dificulta encontrar o melhor acerto, já que a aderência vai mudando conforme as motos depositam borracha no asfalto. É também um local de muito calor, o que desgasta os pilotos e as máquinas, e a Michelin trouxe os compostos de carcaça mais dura, que demoram a atingir a temperatura ideal de utilização.

Exponho tudo isso para explicar o fracasso do Bagnaia. Ainda há muito mistério sobre a moto que o Bagnaia usou no Japão, mas a Ducati garante que a mesma moto, com as mesmas peças e acertos, foi utilizada pelo italiano neste fim de semana. Acrescento que Motegi é uma das pistas favoritas do bicampeão e Mandalika, nem tanto. O fato é que ele não se encontrou, não alcançou as sensações que teve em Motegi, e não conseguiu superar as dificuldades.

Eu não entendo o fato dele se eximir de qualquer responsabilidade e dizer abertamente que o problema está na equipe e na moto. É o combustível perfeito para mentes frágeis criarem todo tipo de teorias de conspiração. Uma perda de tempo. O sucesso em Motegi nunca poderia ser usado como certeza de sucesso em Mandalika e é dever do piloto se adaptar às condições e tentar, junto com a equipe, melhorar o conjunto até domingo. Se ele chegou em Lombok achando que, com a mesma moto e os mesmos acertos, iria liderar todos os treinos… sinceramente: é muita ingenuidade.

Dizem que todas as Ducatis tiveram dificuldades, mas não foi bem assim. O único piloto que começou bem na sexta foi, de fato, o novato, mas Marc não foi mal e só foi pro Q1 porque teve as duas melhores voltas do pneu macio anuladas por bandeiras amarelas. Mandalika não traz boas lembranças para o heptacampeão e dois tombos no primeiro dia, um deles meio violento, o deixaram com um certo receio. No sábado melhorou um pouco, mas a partir da metade da Sprint ele encontrou seu ritmo fazendo seu melhor tempo na penúltima volta. No domingo foi segundo no warmup a 12 milésimos do Quartararo e poderia ter disputado o pódio com Bezzecchi, que sobrava, Aldeguer e Acosta. Alex Marquez também melhorou ao longo dos 3 dias, assim como vários outros pilotos.

Ninguém ficou mais chateado com o acidente na primeira volta do que o Massimo Rivola, diretor esportivo da Aprilia. A marca de Noale tinha praticamente nas mãos o hat trick de pole e vitórias na Sprint e Corrida. No sábado, Bez largou mal e veio passando todo mundo, culminando com a ultrapassagem no Fermin na curva 10 da última volta (na qual a falta de experiência do novato colaborou). Ora, com o dobro de voltas bastava ter paciência e fazer a recuperação, que seria inevitável, já que ele tinha 3 décimos no Aldeguer, que tinha outros 3 em cima do resto dos pilotos. Infelizmente sua precipitação tirou a si mesmo e o mais novo campeão da disputa deste domingo e provavelmente de Phillip Island, onde certamente terá que pagar uma punição.

Dois fortes favoritos fora, Acosta se tornou a estrela do show. Fez o seu ritmo, segurou um trem atrás dele, contou com a afobação de pilotos que até poderiam chegar na sua frente, como Marini e Raul, que se estranharam bobamente, e deu oportunidade para a chegada do Binder, que, aos poucos, foi encontrando sua velocidade e fechou em um ótimo quarto, considerando a pobreza de seus últimos resultados.

Raul conseguiu o seu primeiro pódio (eu diria, mais apropriadamente, sua primeira medalha: pódio pra valer só conta na corrida de domingo) na Sprint e deu declarações pós celebração que me passaram uma imagem de muita insegurança.

As Honda fizeram bons 5° e 6° no sábado, mas o Marini levou 8 segundos por problemas na pressão do pneu dianteiro. No domingo Marini repetiu, agora valendo, o 5° lugar, mas achei até que tinha potencial para mais. Muito estranho é o desabamento completo da LCR, enquanto a HRC melhorou. Zarco quase não apareceu e o Chantra é café com leite, embora tenha aumentado em 150% a sua pontuação no campeonato, marcando 3 pontos do 13°.

As Yamaha tiveram alguns momentos interessantes, com 3 motos direto no Q2, mas resultados inexpressivos, com o Quartararo, sempre ele, arrancando um 7° na raça. El Diablo, no entanto, está muito insatisfeito. Eu queria vê-lo em uma Ducati…

De interessante a briga dos pilotos da VR46, que têm a disputa mais equilibrada entre companheiros de equipe. Diggia se queixou muito do Franco, que, no entanto, chegou uma posição à frente tanto no sábado quanto no domingo, abrindo agora 16 pontos no campeonato. É a disputa do nervosinho contra o zen: as entrevistas são hilárias.

Por fim, a LeNovo comemorou o campeonato de equipes com uma notinha e um e-mail, sem nenhum piloto no parc fermé. Ô chope aguado…

Na Moto3 o José Antonio Rueda conquistou o campeonato em uma corrida em que as 3 últimas voltas válidas foram bem acidentadas. A corrida foi interrompida e o espanhol comemorou o título no alto do pódio, do melhor jeito possível.

Quem voltou ao alto do pódio pela terceira vez este ano foi o nosso Diogo Moreira, que ja tinha conquistado sua unica vitoria na Moto3 no mesmo circuito, há 2 anos. Estou muito otimista com o Diogo que já seria líder do campeonato ha algum tempo, se não fosse o triste acidente em Sachsenring, que teve reflexos em Brno. A caracteristica que mais gosto no Diogo é que ele é muito cerebral. Têm chegado à frente de Gonzalez e Canet nas ultimas corridas e o líder do campeonato tomou um chute no saco ao perder os 20 pontos do 2° lugar por conta de uma versão de software não atualizada: um erro bobo da equipe que encolheu uma vantagem de 29 pontos para apenas 9. Isso deu uma turbinada na motivação do brasileiro e estamos muito perto de um título inédito.

Agora duas semanas até Phillip Island, um dos circuitos que mais gosto, cuja corrida principal será muito menos interessante sem a presença do Formiga. Quando assistia ao pódio de Mandalika imaginei no que o Acosta estaria pensando, depois de tanta expectativa pela sua primeira vitória, ao ver um rookie vencendo em seu primeiro ano… acho que o Tubarão vai atacar em Melbourne.

Vou acordar mais cedo para torcer pelo Moreira.
Até lá

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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