Meu amigo Mario entitulou sua coluna com um “… tá chato”, mas eu discordo totalmente. Este é uma temporada histórica, como muitas outras que já testemunhamos.
Quem estava ligado, assistindo, vibrou com as ótimas temporadas do Rossi em que ele venceu 11 de 16 corridas (2001 e 2002), ou 11 de 17 corridas em 2005. Genial!
Infelizmente eu era muito novo para assistir Agostini vencer TODAS as 10 corridas de 1968, seguido das primeiras 10 (de 12) corridas em 1969 e também as primeiras 10 (de 11) corridas de 1970: 30 vitórias em 33 corridas. Um gênio, reverenciado até hoje.
Marquez também é um gênio. Sempre pontuou muito mais que seus colegas de equipe. Seria a KTM mais rápida, se corresse pela marca austríaca. Seria a Aprilia mais rápida, se corresse pela fábrica de Noale. Teria sido campeão ano passado, se tivesse em mãos uma GP24. Aniquilou os outros três pilotos que corriam de GP23 e ainda arrancou um 3° lugar no campeonato, à frente de duas GP24.
Quem escreve que a DORNA acabou com a competição é muito ignorante. Ter um único fabricante de pneus e uma única central eletrônica deu um maior equilíbrio no campeonato. Certamente se esqueceram que não faz muito tempo havia apenas 6 motos capazes de vencer e um bando de CRTs que tomavam 40 segundos ou mais em uma corrida.
Há 5 anos Marc Marquez dava início ao seu pesadelo. Estava no auge da forma e se achava invencível. Passou por quatro operações e infindáveis horas de tratamento. Ao ver o que ele fazia com a GP23, Gigi Dall’Igna não teve dúvidas ao brigar para tê-lo na equipe oficial. Agora ele está retribuindo: são 8 vitórias duplas e mais virão. Desfrutem e aplaudam porque a história está sendo escrita enquanto assistimos.
Depois de Aragón eu conversava com o meu amigo Artilheiro e lhe disse que, se o Formiga vencesse em Mugello, provavelmente venceria Assen, Sachsenring e Brno. E assim aconteceu.
Mugello, Brno e Phillip Island são os meus traçados favoritos na temporada e possuem características parecidas: são pistas fluidas, com mudanças de elevação. Brno estava afastada do Campeonato desde 2020 e foi totalmente recapeada. Pra mim, é obrigatório que continue fazendo parte do calendário e o próprio Presidente da República Tcheca, o Sr Petr Pavel, ele mesmo um fã de motociclismo, garantiu que hiatos deste tipo não se repetirão.
As Ducatis começaram o fim de semana desfalcadas de uma moto da VR46, já que Morbidelli não se recuperou do tombo na Alemanha. Sem dados de arquivo e com uma 6a-feira de chuva, tiveram mais dificuldade em exercer sua autoridade. A equipe oficial até foi bem, botando suas motos em 1° e 2° no grid, mas as satélites partiram de 8°, 13° e 18°.
Na Sprint, uma falha no painel avisou equivocadamente ao Bagnaia que o pneu estava abaixo da pressão mínima. Na moto do MM93 o pneu estava de fato abaixo da pressão, portanto ele teve que deixar o Acosta passar, comboia-lo por 3 voltas para retomar o 1° lugar e abrir 8 décimos em uma volta e meia. Bagnaia terminou em 7° e as outras nem chegaram perto de pontuar. A má largada e a falta de pontos no sábado afetaram o Alex Marquez que fez uma tremenda besteira no domingo, caindo e tirando o azarado Joan Mir da corrida. Vai pagar uma volta longa no proximo GP… Aldeguer chegou em 8°, mas recebeu uma punição tardia que o derrubou para 11°. Diggia não pontuou, já que não conseguiu acertar a moto para o circuito. Bagnaia fez um decepcionante 4°, alegando problema nos freios e no controle de tração. Acabou a corrida pressionando o Acosta, mas sem ter condições de tentar uma ultrapassagem.
As Aprilias, por outro lado, foram bem, com Bez conseguindo um 4° e um ótimo 2°, Raul Fernandez um 6° e um 5°, colocando a Trackhouse no parc fermé como melhor moto independente nos dois dias, e o personagem do fim de semana, o campeão Jorge Martin, fazendo um 11° no sábado, quando tirou a ferrugem da competição, e um excelente 7° no domingo. O Martinator aceitou ficar na Aprilia e vai, aos poucos, reconquistar o seu espaço, que foi ocupado pelo Bez. Eu prevejo que daqui a 4 corridas, em Barcelona, ele estará brigando pelas primeiras colocações. Anotem e me cobrem.
A decisão do campeão acalmou o burburinho na Honda, que renovou com o Marini por mais um ano. Zarco deve continuar na LCR, mas Chantra está com os dias contados. O boato é que a fábrica japonesa está de olho no nosso Diogo Moreira, que sempre foi ligado a Yamaha. A ver… Quanto ao desempenho, Mir largou mal no sábado, desperdiçando uma ótima P5 na largada, não pontuou e foi derrubado no domingo. Zarco fez um 8° no sábado e resolveu inventar de largar com pneu macio na traseira no domingo: perdeu rendimento e acabou em 13°. Marini não apareceu na Sprint, mas fez um 12° na corrida: o suficiente para sobreviver mais um ano.
As Yamahas continuam dependendo do Quartararo, que tem como coadjuvante o Miller. Rins e Oliveira são inóquos. Augusto Fernandez só foi a Brno para machucar o joelho do Nakagami. Tenho pena do El Diablo, que, na minha opinião, é o único piloto que poderia desafiar o Formiga com a mesma moto. Classificou-se em um excelente 3° lugar, mas, tanto no sábado quanto no domingo, foi sendo ultrapassado durante as corridas. Ainda assim fez um 5° e um 6°, andando muito bem com os pneus gastos. Mais uma volta e teria passado a Aprilia do Raul Fernandez.
Falando nisso, os pneus médios renderam super bem, com Bezzecchi. Acosta e Aldeguer fazendo na última volta o seu melhor tempo e Quartararo quase igualando sua melhor volta na tentativa de chegar em 5°. Pecco também passou a rodar mais rápido nas últimas 6 voltas da corrida.
Por fim, as KTM, que conseguiram sua primeira vitória em Brno, trouxeram seu novo CEO para que assistisse ao melhor desempenho da marca no ano. Na Sprint botaram duas motos no pódio, com Acosta e Bastianini, e o Pol Espargaró, substituindo o Viñales, ainda beliscou um pontinho do 9° lugar. Binder, o vencedor de 2020, acabou em 10°. No domingo, Acosta repetiu o pódio, agora em 3°, com Binder em 8° (largando de 19°) e Pol repetindo o 9°. Enea caiu quando corria em 4°, se aproximando do Acosta.
La Bestia merece um parágrafo à parte. Eu fui o primeiro a brincar com o Mario, dizendo que tinham dado a moto do Viñales pra ele. Afinal, como é que o costumaz lanterna das KTMs de repente aparece andando na frente? Além disso, em um passado distante (começo do século XXI) era normal que dentro de uma mesma equipe existisse uma moto um pouco melhor do que a do coleguinha… mas isso é passado: o verdadeiro motivo do Enea ter andado tão bem em Brno é que ele nunca andou de Ducati nessa pista! Toda a experiência do Bastianini na MotoGP foi em cima de uma flecha de Bologna, o que criou vícios de pilotagem que não se encaixam na moto austríaca. Ao chegar a um circuito “virgem” ele naturalmente encaixou seu talento na KTM. Acredito, inclusive, que ele poderia ter chegado ao pódio se não tivesse sido tão ambicioso. Veremos o que acontece na Áustria (pra ver se ele aprendeu a tocar a RC16) ou na Hungria. outro circuito inédito.
Fiquei feliz com a vitória do Joe Roberts na Moto2, uma vez que ele é outro piloto que passou mais de um ano lutando para se recuperar de uma séria contusão no pulso. Ele sempre gostou do circuito e dominou o fim de semana. O nosso Diogo já estava condenado a largar do pit lane. Uma contusão no cotovelo, resultado do acidente em Sachsenring, não estava permitindo que ele fosse competitivo. Inteligentemente ele largou pra cumprir a punição, deu um par de voltas e recolheu para se recuperar até a prova de Spielberg. Com ele e Canet fora, Gonzalez correu para 3° e ampliar sua liderança no campeonato. Barry Baltus fez um ótimo 2°.
Na Moto3 Rueda voltou a dominar, com uma rara (para a categoria) vantagem de 3,5 segundos para o pelotão que chegou embolado: 6 pilotos em um segundo. Quiles e Muñoz completaram o pódio.
Agora três semanas sem corrida, qie parecerão uma eternidade. Na volta, a prova de alta velocidade no Red Bull Ring. Essa é uma que o Marc nunca venceu.
Até lá!