Já me desculpando pela alusão à novela que não vi, o verdadeiro título deveria ser TUDO PODE ACONTECER na MotoGP quando o Marc Marquez está ausente.
Até a Ducati ficar fora de um pódio, quebrando uma sequência de 98 ocorrências, como aconteceu na Sprint. A Aprilia parece ser a moto do momento, mas será?
Uma vitória é resultado da combinação de vários fatores como a moto, o piloto, seu estado de saúde, a pista e a relação que cada piloto tem com ela, o clima, ps pneus, e fatores objetivos (punições, acidentes, quebras) e subjetivos (em uma disputa entre um piloto que disputa um campeonato contra um “free lancer”, quem tem mais a perder?).
Por isso volta e meia escrevo aqui que há vitórias e vitórias. Todas valem os mesmos 25 pontos, claro, mas as conclusões que podem ser tiradas de cada tipo é diferente.
Raul teria vencido se o Bezzecchi não tivesse que cumprir duas voltas longas? Aldeguer teria vencido em Mandalika se o Bez não tivesse tirado a si próprio e ao Formiga da disputa? Não teria sido linda a vitória do Quartararo em Silverstone, por méritos próprios, se o dispositivo de controle da altura da traseira não tivesse quebrado? Bez venceu, e quem vence é quem cruza a linha de chegada primeiro, mas a vitória do mesmo Bezzecchi na Sprint de Mandalika foi “A vitória”, com autoridade e raça. Eu acho essas as mais bonitas.
Raul foi um fenômeno na Moto2. Venceu 8 vezes no seu ano de estreia (e também único) além de fazer mais 4 pódios. Queria fazer mais um ano na categoria para ser campeão, inconformado de ter sido vice para o Remy Gardner por apenas 4 pontos. Gardner venceu 5 corridas, mas só não pontuou em Austin, enquanto Raul não pontuou três vezes. A KTM, por contrato, o obrigou a subir para o MotoGP, na Tech3, só que a RC16 2022 não nasceu boa. Binder foi o 6° no campeonato, Oliveira, mesmo vencendo duas corridas, foi o 10°, e os garotos foram 22° e 23°, Raul na frente, 14 pontos a 13. Ambos foram demitidos, sob a alegação que eram muito marrentos e estrelinhas. Gardner teve que buscar refúgio no WSBK e Raul foi para a CryptoData RNF Aprilia, com o ego machucado. Dois anos seguidos perdendo para o Oliveira, seu companheiro de equipe, não ajudaram. Contusões no início da temporada também atrapalharam em 2024 e 2025 e ver o rookie Ogura chamando a atenção do paddock nas primeiras provas deste ano parecia ser o início do fim de uma carreira que poderia ter sido brilhante. Ironicamente a contusão do japonês botou mais responsabilidade nos seus ombros e o Brivio deu-lhe os devidos puxões de orelha. Junta-se a isso duas pistas favoráveis à máquina de Noale e Raul conseguiu o que o Acosta está esperando até agora…
Aliás é preciso falar sobre o Acosta. Tenho visto uma perceptível melhora nas suas entrevistas. Nesse grid atual do MotoGP eu só vejo dois aliens: Marc Marquez e Quartararo. Acosta é forte candidato a ser o terceiro, e será, se continuar no atual caminho da humildade. O Tubarão subiu para o MotoGP cheio de marra e a imprensa colaborou nesse problema. Chegou a um ponto em que o clima entre ele e a KTM ficou quase insustentável, até que os advogados se reuniram e ele foi avisado que não adiantava espernear: 2026 já estava definido. Quando ele se conformou e resolveu colaborar mais com a equipe os resultados melhoraram. A KTM tem o motor mais potente, mas come pneus como se não houvesse mais 10 voltas, a Acosta tem sido o melhor entre os quatro pilotos da casa austríaca.
Ele, Quartararo e Marc Marquez na mesma moto resultaria em um campeonato fantástico.
O caso Bagnaia continua atraindo as manchetes. Neste fim de semana ele disse que uma das motos estava bem e a outra, com as mesmas peças e regulagens, inguiável. A TV mostrou um tremendo tank slapper do italiano e fez disso um ponto de discussão. Eu assisti a todos os treinos e vi tanto o Alex Marquez quanto o Aldeguer terem tank slappers exatamente no mesmo ponto do circuito e ninguém mencionou. Na minha opinião, que pode estar errada, o Bagnaia mexe muito na moto. Já mexeu tanto que todos os dados acumulados pela Ducati no ano passado e os que ela recolhe das outras GP25 não ajudam em nada. Na Sprint Pecco foi DOIS SEGUNDOS por volta mais lento que o Diggia, que largou em 10° e chegou em 5° a 1 décimo de segundo do Acosta, que foi medalha de bronze (com o Miller entre os dois). Na corrida fizeram um acerto mais conservador na moto do bicampeão e os tempos de volta foram bem melhores. Comparando os tempos do Diggia com o Bagnaia entre as voltas 8 e 11:
Diggia x Bagnaia
28.474 x 28.535
28.179 x 28.277
28.243 x 28.394
28.152 x 28.309
Já na volta 23 a diferença foi
28.502 x 28.626
Na mesma volta 23, os tempos de quem estava à frente do Pecco
Raul 28.574
Alex M. 29.201
Bez. 28.296
Acosta 29.192
Marini 28.774
Aldeguer 29.946
Binder 28.720
Bestia 28.874
Pol 29.425
Ele caiu na volta 24. Eu acredito que ele voltará a ser competitivo em Sepang, porque é uma pista que ele gosta, o que não é o caso de Mandalika e Phillip Island. Só peço que se atenham à lógica e entendam que nenhuma empresa que tem compromisso com seus acionistas e patrocinadores boicotaria seus resultados.
A GP25 é capaz de andar na mão do Diggia, por exemplo, que mesmo largando em 10° chegou em segundo lugar. Aliás as GP24 decepcionaram muito, destruindo os pneus muito antes da linha de chegada. Até Aldeguer, tido como o melhor “gerenciador de borracha” da Ducati, chegou a andar em 7° e despencou para 14°. Morbidelli passou desapercebido e só marcou um pontinho no domingo porque 4 pilotos caíram à frente dele. Alex Marquez perdeu rendimento no sábado, chegando apenas em 6°, e cedeu o pódio para o Bez no finalzinho da corrida de domingo. Sepang é uma pista que ele gosta e até já ganhou Sprint. No próximo fim de semana ele provavelmente garantirá o vice-campeonato.
As Yamahas andaram até bem e conseguiram um 4° (quase bronze) com o Miller no sábado e um surpreendente 7° com Rins no domingo. El Diablo, sempre tirando leite de pedra, fez a pole mas perdeu rendimento nas corridas (7° e 11°). É o recurso mais mal aproveitado do grid.
As KTMs foram discretas, mas o Pol Espargaró, que estava fazendo compras em Nova Iorque e foi chamado de última hora, recolheu 7 pontinhos com um 9° e um 10°. Binder, 8°, e Enea, 9°, tiveram uma boa disputa mas Bastianini precisa melhorar a posição de largada, porque sai sempre lá de trás, embora tenha bom ritmo de corrida.
Marini assumiu definitivamente a liderança na Honda e foi o único a pontuar (8° e 6°). Mir e Zarco caíram, o que é frequente e prejudica a obtenção de dados.
Bezzecchi jogou fora duas vitórias naquele acidente em Mandalika. Com o ritmo que mostrou em todo o final de semana teria vencido fácil tanto lá quanto cá. Martin deve assistir roendo os cotovelos porque essas duas pistas estão entre as suas favoritas. Esses dois vão dar trabalho em 2026.
Eu acordei às 3h aqui em Londres para ver a maturidade e frieza do Moreira na pista. Assisti a um show do Senna Agius que venceu em casa, o que deve ser o ápice da alegria de qualquer piloto. Ele tinha um bom ritmo desde sexta-feira, mas foi beneficiado pela briga ferrenha entre os líderes do campeonato. Depois que abriu mais de um segundo, sem ter que se preocupar em fazer linhas defensivas, o australiano foi abrindo a cada volta. Moreira e Gonzalez trocaram de posições várias vezes até que o espanhol começou a perder rendimento e terminou em 7°. Moreira também sofreu os efeitos da disputa e perdeu o 2° para o Alonso, mas diminuiu a diferença, que já esteve em 60 pontos, para apenas 2. Foi o segundo pódio sem nenhum europeu na Moto2, e é essa corrida que estou mais curioso para ver no próximo fim de semana.
No mais Rueda venceu pela 10a vez no ano na Moto3, com o australiano Joel Kelso em 2°, e o turco Toprak Razgatlioglu se despediu do World SuperBike sendo campeão pela terceira vez em uma disputa que foi até a última corrida em Jerez. Ano que vem estará na Pramac Yamaha ao lado do Miller. O vice-campeão, Nicolo Bulega, talvez corra no lugar do Marquez em Portimão. Alvaro Bautista foi o 3° colocado e se despediu da equipe oficial da Ducati para se juntar à Barni em 2026.
Semana que vem tem mais!
Até lá!



