Acabou!

Sei que ainda falta um detalhe, mas Bagnaia já é campeão. Lin Jarvis citou 2006 como um exemplo de que tudo pode acontecer, mas é uma comparação inválida. Em 2006, Hayden podia chegar em terceiro e o número de motos competitivas era muito menor. Agora em Valencia o Bagnaia só perde o título se cometer a maior burrada do século, e, ainda assim, o Quartararo consiga vencer. Não vai rolar. São 22 motos na pista. Quatro delas (as duas Tech3, o Darryn Binder e o Nagashima) não vão disputar com as Ducati. Basta as 7 Ducatis chegarem atrás do Pecco e ele assegura um 11o. Pode até deixar as outras 10 brincarem de corrida lá na frente e correr pra chegar.

Outra alternativa é liberar as outras Ducatis para se comerem pela vitória sem dar muito espaço pro francês. Enfim, finalmente a Ducati terá sua tríplice coroa e com imensa possibilidade de também vencer no World SuperBike: um ano de ouro para o pessoal do Borgo Panigale.

A corrida foi animada por causa do Bastianini. Ele deixou os velhinhos da Ducati em polvorosa, correndo pra lá e pra cá, cochichando, tremendo e tramando. A TV pouco mostrou as outras brigas, mas o bicho pegou ali no bolo do 4o ao 8o: Márquez brigando com as duas Suzukis, Bezzecchi chegando e passando todo mundo, Mir perdendo rendimento até ficar fora dos pontos, Miller e Zarco se recuperando de péssimas largadas e chegando em 6o e 9o.

Bastianini foi político: disse que lutou até o fim para vencer, mas que perdeu aderência e tração na banda direita do pneu traseiro assim que assumiu a liderança, de forma que o Bagnaia pôde recuperar a 1a posição.

Bagnaia e Quartararo mostraram mais uma vez a importância da largada e da primeira volta no resultado final da corrida. Largando de 9o e 12o, na curva 3 já estavam em 2o e 6o, mas o Morbidelli, 5o, logo sairia da frente do El Diablo.

Martin, o leão das classificações, caiu de bobeira quando liderava com 1s2 de vantagem para o Pecco. Quis botar uma vantagem que inibisse qualquer ordem de equipe e entregou o ouro ao bandido.

Márquez fez o impossível no Q1 e no Q2 fazendo voltas mágicas sem nenhuma referência ou vácuo, já que Miller caiu na sua frente no Q1 e Bagnaia fez o mesmo no Q2. No entanto, já no sábado ele dizia que não tinha ritmo para disputar a vitória e deveria chegar entre 8o e 10o. Chegou em 7o beneficiado pela queda do Martin: foi o que deu. O calor, a umidade e a moto sem tração adequada resultaram no teste mais duro desde o seu retorno. E ele sentiu.

Quartararo tirou 110% da sua Yamaha e de si mesmo, correndo com um dedo fraturado. Por sorte da mão esquerda, mas, mesmo assim, incomodando. Sua concentração foi fundamental no momento em que Bezzecchi veio tirando a diferença, pois um 4o lugar daria o título ao #63 ainda na Malásia. Só que o Novato do Ano também ficou sem tração no pneu desgastado e foi ficando para trás, em um isolado quarto lugar.

Depois da vitória na Austrália, Rins ficou decepcionado por não conseguir disputar a liderança em uma pista em que as Ducatis estavam sobrando, mas obteve um honroso 5o. Acho que ele vai se sair melhor na LCR do que o Mir na Repsol. A ver… Mir alegou ter sofrido de arm pump, a ponto de não conseguir frear e acelerar. Falou em cirurgia, mas o GP de Valencia e, principalmente, o teste onde ele terá o primeiro contato com a Honda, acontece em duas semanas. Seria mais inteligente operar depois.

As KTM fizeram um razoável oitavo com o Binder e um xoxo 13o com o Oliveira, que não se encontrou em Sepang.

A Aprilia parece ter perdido a mão depois do incidente do Japão. Aleix chegou em 11o a mais de 21s do líder, mas foi promovido a 10o depois que o Morbidelli foi punido por ultrapassa-lo meio na força bruta. Aliás, o Morbidelli não foi tão mal, já que pagou duas voltas longas pelo excesso de distração nos treinos livres, passeando pela pista e atrapalhando o Quartararo e, em outra ocasião, Bagnaia e Márquez. Mesmo punido com 3s ficou à frente do Crutchlow, que se queixou de falta de tração e de potência.

Pol correu burocraticamente e colheu 2 pontos, a 12 segundos do Márquez, e o aniversariante (fez 22 anos) Raul Fernandes ganhou um pontinho pra comemorar.

Estou curioso para assistir ao último GP, mesmo com o campeonato 99.99999% definido, porque essas corridas sem compromisso costumam ser animadas. É gente trocando de equipe, gente deixando o MotoGP, hora de dar tudo: se cair, f@**se.

Não falei de Moto2 e Moto3 na Austrália. Na Moto2 um acidente feio com o Jorge Navarro, que ficou sendo atendido junto à pista e a direção não deu bandeira vermelha: um perigo para os médicos e para o piloto. Augusto Fernandes ia botando a mão na taça, marcando um 3o contra um 12o do Agura, quando caiu. Ao invés de sair com 13,5 pontos de vantagem, saiu com 3,5 de desvantagem. Aí na Malásia o Agura ia fazendo um 2o contra um 6o do Augusto, aumentando a vantagem para 13,5 pontos e… caiu, devolvendo o favor. Agora o espanhol corre em Valência com 9,5 pontos de vantagem. O Ayoama, chefe da equipe do Ogura, ficou em estado catatônico ao assistir a queda do pupilo. Foi o erro do ano. A única coisa que pode superá-lo é se o Bagnaia cair em Valencia.

Quem ganhou a corrida foi o Tony Arbolino, um piloto por quem torço e que vai disputar o título em 2023.

Na Moto3 o Izan Guevara levou o título da melhor forma possível: ganhando em Phillip Island. Mais um espanhol cheio de qualidades: resultado de um campeonato nacional muito forte e disputado. Ele estava em 2o e disputando a vitória em Sepang, mas bateu na roda traseira do Sasaki na entrada da reta, foi na grama, quase bateu na mureta dos boxes e acabou em 12o. Nosso Diogo Moreira chegou em um ótimo 5o, à frente do Foggia. O pódio foi formado pelo veterano John McPhee, seu companheiro de equipe, Sasaki e o Sérgio Garcia. Festa para a equipe do Max Biaggi.

Estamos quase no fim. Pausa para a eleição no Brasil e voltamos em novembro.

Até lá!

p.s.: por onde anda Sam Lowes?

Para a Fauna do Motociclismo.