Sobre Gasolina…

Meu amigo e colecionador Bernardo Brito sofre para manter suas preciosas motos velhas afinadas com a nossa atual gasolina, que não é uma boa mistura para se manter parada dentro dos carburadores. Talvez sua moto favorita, a Honda CBX 1050 sofre com desregulagens constantes e o serviço de regular os 6 carburadores, eu soube que é um inferno. Simplesmente para retirar os carburas para limpar, tem-se que retirar a descarga, afrouxar o motor para poder incliná-lo ainda mais para frente e dar espaço para a retirada dos brutos. Não é um inferno? E equalizar seis boquinhas….

Carburadores são maquininhas cheias de buraquinhos e borrachinhas, coisas que a nossa gasolina adora estragar e entupir.

Mas… o que é a gasolina? Qual a melhor gasolina para se usar? Como usar a gasolina?

Então, as gasolinas todas são quase desde sempre uma mistura química complexa, derivada do petróleo. De um galão de petróleo, a refinaria consegue tirar de 17 a 20 galões de gasolina. Dependendo aí do tipo de petróleo (existem vários) e também do tipo de refinaria. Também existem vários processos para conseguir gasolina, que diferem um pouco entre elas.

Eu poderia aqui escrever várias páginas sobre a gasolina, mas a idéia é simplificar. Entre os outros resultados possíveis do refinamento do petróleo, a gasolina é uma boa escolha como combustível, porque vaporiza bem (reparem como ela evapora rápido), e porque ela tem muita energia. 1 litro de gasolina produz em média 33 Megajoules de força.

Ela funciona porque se misturarmos uma certa proporção de gasolina, com a certa proporção de ar e começarmos uma reação química de combustão, o volume dos gases no resultado é muito maior do que o início da reação, e esta rápida expansão dos gases é que empurra o pistão para baixo, gerando o movimento.

O trabalho do carburador e da injeção eletrônica é justamente fazer variar as quantidades desta mistura, controlando as proporções. Para complicar, a proporção estequiométrica perfeita não é boa para todos os usos do motor, gerando muito calor quando não precisa, aumentando o consumo e prejudicando a aceleração. Assim, os sistemas de alimentação de gasolina dos motores foram ficando complexos, para ficarem engordando e empobrecendo a mistura, de acordo com a necessidade de desempenho, consumo e poluição. Por isso não é fácil mapear ou regular o carburador certinho da moto.

E a gasolina tem algumas características que precisam ser controladas com aditivos, para fazer dela um combustível geral que possa ser usado em diversos tipos de motores. O mais importante talvez seja a Octanagem. A Octanagem é a capacidade da gasolina aguentar compressão sem começar uma autodetonação. Os motores são projetados para que a ignição seja precisa e gerada pela vela de ignição. Se a gasolina não aguenta a pressão e começa a se detonar antes do ponto exato, é um problema grave de desempenho. É o famoso bater pino. A solução básica é fazer motores com taxas de compressão menores, mas estes motores dão menos potência.

Sendo assim, desde sempre a gasolina passou a receber aditivos para aumentar a sua octanagem para permitir motores com boa compressão, detergentes para minimizarem a criação de borrões de carbonização, colorantes para diferenciar diversos tipos, estabilizadores e mais um monte de coisas.

No passado usava-se o chumbo tetraetila como o aumentador de octanagem, mas seu uso foi proibido por ele ser venenoso, tóxico. Hoje é usado apenas no Avigas, a gasolina de avião.

Uma das formas de aumentar a octanagem da gasolina é misturar álcool na proporção e 27.5%, uma pedrada.

Então, todas as nossas gasolinas aqui no posto, tem 27.5% de álcool, que é um combustível com várias desvantagens para quem quer manter uma moto com o carburador limpinho. Principalmente ele não tem lubricidade, ou seja, ele não atua na lubrificação das peças, e é higroscópico, absorve humidade do ar e acaba “fabricando” água. Os motores a álcool são mais potentes não porque o combustível é melhor, e sim porque para ele funcionar é preciso jogar álcool de balde dentro do motor, o que faz com que a admissão seja maior, carburadores e injeções de maior vazão, que lá no final, produzem mais Cv’s.

Em 1983 eu tive duas Yamahas YZ-J, uma a álcool para correr (era proibido correr com gasolina) e outra a gasolina para treinar e me divertir. Quando desmontava o motor da moto a álcool as peças estavam todas esbranquiçadas, com uma aparência horrível. A gasolina, as vezes até com mais horas de uso, o motor estava sempre brilhando. Isso sem falar na facilidade de regulagem, a moto a álcool era um inferno para acertar.

Dito tudo isto, mas que é pouco, o melhor combustível disponível para nós aqui no Brasil é o premium, o mais caro (sempre), pois tem aditivos melhores que melhoram ainda mais a octanagem depois da adição do álcool.

PORÉM, tem-se que ter o cuidado de usar postos de gasolina de rico, que vendem muito gasolina cara e estão sempre renovando o estoque nos tanques. Senão, esta gasolina fica muito tempo parada e absorvendo água, o que degrada o líquido.

Este negócio de separar o álcool da gasolina como vemos em vídeos do Youtube, é uma bobagem, pois o resultado é uma gasolina vagabunda que só vai servir para fuscas e motores de baixa compressão e que não precisam de octanagem.

Sempre que possível, se for parar a moto por algum tempo, esvaziar os carburadores, não deixar a moto parada com os carburadores cheios. Funcionar até morrer o motor ajuda, mas o ideal é purgar mesmo, os carburadores tem um parafuso de purga. No caso do Bernardo, 6!!!

E parar a moto com o tanque cheio, para que o combustível não tenha muito contato com o ar, e não absorva muita humidade.

Para a Fauna do Motociclismo.