Grande Prêmio da Catalunha, Barcelona, 2019

E a corrida de hoje ficará para sempre marcada pelo tombo de Jorge Lorenzo e as consequências dele, que mudaram completamente as condições da corrida e até do campeonato.

Esta corrida já vinha sendo “esquisita” pelos treinos, não tem sido comum um domínio da Yamahas nos treinos. Todas as Yamahas andaram muito bem e não me canso de notar a performance da nova equipe satélite, a Petronas, que é muito bem financiada. Não tem erro, o que faz as motos andarem é DINHEIRO. O dinheiro bota gasolina, o dinheiro exige da fábrica equipamento de ponta, o dinheiro motiva os pilotos e membros da equipe… a Petronas está surpreendendo e fazendo mais do que a Tech3. Poncharal é excelente, mas nunca teve estes recursos. Quartararo é de fato muito rápido, e em condições adversas, recuperando-se de uma cirurgia no braço, sapecou mais uma pole e andou demais, chegando em segundo! Com Marc Marquez na pista, convenhamos, é o máximo que se pode chegar hoje em dia. Viñales finalmente largou bem, como também Rossi, viriam para o pau. Lamentável o incidente e o azar dos pilotos Yamaha.

Lorenzo errou, pediu desculpas:

“You don’t have any options if you brake a little bit too late here, like happened with me. It was my fault, my mistake and I apologise. It was really unfortunate to take out Dovi, Maverick and Valentino – it wasn’t their fault obviously, it was mine. The only thing that matters today is the crash, I took out three riders unfortunately…”

Estão por aí xingando o Lorenzo de tudo, eu não, ele perdeu a frente da freada, não estava super agressivo, não estava fora da linha, foi um erro bobo que muitos cometeram no passado. Hoje mesmo na pista só chegaram 13, a pista estava muito sem aderência. O azar dele e dos outros foi que incrivelmente ele levou 3. Dovi abriu e foi ultrapassado pelo MM, é normal perder o apex e velocidade, Lorenzo se perdeu nisso. Tocou Dovi já caído, não trombou, o maior prejudicado. Caindo levou Viñales e Rossi. Com diferença de centímetros e décimos de segundo, ele cairia sozinho. Coisa de corrida, não achei estúpido como já vi Iannone torpedear adversários. Lorenzo estava na linha, perdeu o timing do freio, só isso.

Porque as Yamahas estavam andando muito? Porque a pista estava sem grip. As Yamahas andam lançadas, não se baseiam na reaceleração, o seu ponto mais fraco. Se tiverem uma linha limpa na frente elas entram e saem das curvas sem grandes freadas e sem o pickup violento da Honda e Ducati. Sem grandes reacelerações as Yamahas foram bem. Eu não acredito que falte potência nas Yamahas, falta aceleração, elas parecem andar com relações mais longas do que as outras motos, pois também me parece que encurtar não tem adiantado. Lembrando que este motor é congelado, não se mexe mais até o fim do ano. Errou no projeto, não deu certo, tem que ir com ele até o fim do ano. A M1 tem este DNA, vai precisar de uma revolução para fazer outra moto. Como a Suzuki que parou, abandonou o V4 e está aí com o novo 4 em linha muito melhor.

Marc Marquez está em outro nível. Ainda mais correndo em casa. A moto não é a melhor no grid. Está mais potente, mas Crutchlow, Lorenzo e Nakagami não chegam perto e reclamam. As Ducatis são as mais evoluídas e complexas mecanicamente, aerodinamicamente e as que melhor uso fazem da ECU única. A ECU é Magnetti Marelli e eles tem mais experiência, mais engenheiros em cima disso (e todos falam italiano). As Yamahas passam por problemas, mas são motos adoradas pelos pilotos e fáceis de andar. Só precisam definir um piloto que junte todas as características para ser o “dono” da moto. Hoje seria Lorenzo. Não pode ser Rossi, que está aposentando, já não acho que pode ser Viñales. Talvez Quartararo.

Sempre temos que notar a participação de Rins. Tinha tudo para chegar em segundo, mas errou no final da prova. Este conjunto tem velocidade, mas é muito difícil disputar freada com Ducati no final do retão, é o ponto forte delas, velocidade final e estabilidade na freada. Hoje Rins tentou de tudo, deu até uma “asada” nas costas do Petrux, levou e deu umas fechadas indecentes, mas uma hora errou. Mas fez ótima corrida.

Quartararo vai dominar a Yamaha. É rápido, novo, sem presepadas. Petrux fez ótima e competitiva corrida. Pelo o que ele andou, se não tem a cagada na ponta, as Ducatis não teriam vida fácil. Petrux teve sorte, dupla. Primeiro com o tombo de Dovi, Vinãles, Lorenzo e Rossi, todos com potencial para chegar na frente dele. E depois no erro de Rins. Pode rir a vontade, deu sorte.

É isso, sorte de alguns, azar de outros. Por isso assistimos MotoGP,  é um espetáculo muito bom, muito bem produzido, muito bem dirigido, muito bem transmitido e muito mais imprevisível. As motos “caem”!!! Não é aquela bobagem em que se transformou a F1.

Parabéns mais uma vez ao HRC, ao Marc Marquez e a Quartararo e Petronas.


Abraços
Mário Barreto

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

2 comentários em “Grande Prêmio da Catalunha, Barcelona, 2019”

  1. Imagine como está a vida do Lorenzo. Um sujeito que não nasceu rico, construiu uma carreira de respeito, foi bicampeão nas 250cc, três vezes campeão no MotoGP com o “dono” da Yamaha e de grande parte do paddock no box do lado. Foi pra Ducati, ajudou no desenvolvimento da Desmosedici, sofreu pressão da “mafia” italiana dentro do box até ser dispensado, ganhou duas corridas para deixar o Dovi e o Domenicali com cara de bunda, foi ejetado da moto por um problema mecânico na Tailândia e começou a enfrentar o desafio de domar o touro furioso que é A RC213V fora de ritmo técnico e físico.
    A cada GP tem que responder às mesmas perguntas dos jornalistas: “e aí?” “quando?”

    Pela primeira vez no ano o cara estava no grupo da frente, de tanque cheio, chega na freada da 10 sugado pelo vácuo de 3 motos, perde a frente. Se tivesse caído sozinho os pilotos de fim de semana que dão 310 Km/h nas estradas estariam apenas rindo. Infelizmente sua moto derrubou Dovi e Viñales. O Rossi, lamento, enfermeiras, sucumbiu ao target fixation. Foi outra vítima, inegavelmente, mas enquanto Dovi e Viñales tinham 0% de chance de escapar, o doutor contribuiu aí uns 20% com sua má sorte.

    No mais, foi uma boa corrida pelo 2° lugar. Petrucci está andando mesmo muito bem e demonstrou a importância de vender caro uma posição. Dificultou a vida do Rins até que ele se complicou e saiu da briga pelo pódio. Quartararo vai estar em uma equipe de fábrica muito em breve. Crutchlow: nunca será. Foi um tombo ridículo. A sorte dele é que os especialistas de plantão vão se concentrar no strike do Lorenzo, mas eu lhe daria uma multa no salário, se eu fosse o Lúcio Cecchinello.

    A verdade é que a realidade do campeonato foi restabelecida: Marquez está muito acima dos outros. Quando não ganhou, chegou em 2° a menos de um décimo. A queda em Austin tinha dado alguma emoção ao campeonato, de fato, mas a realidade é essa aí: 37 pontos de vantagem e que venham Assen e Sachsenring.

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