História de Ducati!

Texto e fotos do Ricardo Azevedo

Era para ser apenas o radiador rachado, mas acabou transformando-se numa excelente viagem de moto.

A estória começa dia 5 de julho de 2017, um dia normal, quarta-feira, céu azul, temperatura agradável. Condições ideais para um passeio de moto. Só tinha um problema. Era quarta-feira e eu tinha que trabalhar… Então eu fiz o que faço todos os dias. Transformo a ida ao trabalho em um “passeio”. Tudo para poder andar de moto, apesar do grande risco de ser assaltado, fechado pelos violentos e estressados motoristas do RJ, ou qualquer outra aventura que só o RJ nos oferece…

Neste dia aprazível, seguindo pela serra Grajaú x Jacarepaguá, área de grande risco (aliás, onde não é área de risco no RJ?), percebi o líquido do radiador pingando em meu pé esquerdo. Mas otimista como sempre preferi pensar que era uma mangueira frouxa. Afinal, aquele motor afrouxa até os parafusos da nossa cabeça… Realmente não queria admitir um problema no radiador. Afinal todos nós sabemos que a Ducati não tem assistência no RJ…

Para evitar qualquer problema de aquecimento, reduzi bastante a velocidade, pois percebi que quanto maior o giro do motor mais água jorrava. Segui bem devagar até o estacionamento para de lá ligar para Assistência Ducati. Cheguei a colocar no grupo de Whatsapp ForzaRio o meu sofrimento. Peço inclusive desculpas aos amigos que estiverem lendo este texto, pois não coloquei o final da história lá. Mas ela é tão grande, que acho melhor contar pessoalmente em um de nossos passeios.

Normalmente chegamos no trabalho… Isso mesmo! Referencio a moto como uma pessoa, afinal ela tem nome e personalidade próprios, chama-se “Pretinha”, nome dado por uma pessoa que muito admiro. Mas retomando o assunto, chegamos normalmente por volta de 9 horas. Neste dia chegamos quase 10 horas devido à velocidade reduzida e algumas paradas para verificação de que estava tudo bem com o motor. Logo que cheguei liguei para Assistência Ducati e respondi todo o questionário que somos submetidos nestes casos. Expliquei o problema que estava ocorrendo e a atendente me pergunta: “Qual autorizada o Sr. deseja levar a moto São Paulo ou Belo Horizonte? Estas são as mais próximas.”

Evidentemente acontece aquele momento de frustração… Você fica puto. Maldiz o país. Etc… Mas pensei: “Já que a Ducati BH esteve aqui no RJ fazendo a revisão da minha moto em maio, talvez seja melhor opção”; então respondi para atendente que optava por BH. Seguimos o processo. Ela me explicou que a Ducati levaria a moto para BH sem despesas para mim, mas que ao finalizar o serviço, ele apenas pagariam as despesas para eu ir buscar a moto. Minha primeira reação foi de indignação. Afinal que culpa tenho eu da Ducati não ter mais concessionária no RJ? Mas respirei fundo e deixei as coisas acontecerem. Até mesmo porque não via como opção a perda da garantia ainda vigente.

Por volta de 12 horas, a moto estava no reboque seguindo para BH. Foi entregue na concessionária no dia 06 de julho. Para meu azar, o atendimento da Ducati BH é muito semelhante ao da Ducati RJ que fechou. Liguei para lá e eles nem tinham visto a moto. No dia 8 de julho, ainda angustiado pela falta da moto, liguei novamente. Me disseram que “já haviam analisado” e o problema era no radiador e que a peça já havia sido solicitada a Ducati na Itália. Então pensei: “Ferrou, vou ficar uns 3 meses sem a moto”. Relaxei, afinal o que são 3 meses? Passa rápido… Passa nada. Liguei para o Atendimento Ducati, registrei a ocorrência. Pedi atenção ao meu caso. Pois estava sem assistência aqui no RJ. Dei aquela “chorada”.

Passei umas 2 semanas aguardando retorno e nada. Nada da Ducati Brasil. Nada da Ducati BH. Minha ansiedade aumentava. Mandei e-mail malcriado para o consultor que me atendeu e depois me arrependi. Coisa de criança malcriada que fica sem o brinquedo. Liguei para assistência Ducati e questionei. No dia 21 de julho (Olha quanto tempo sem nenhuma satisfação!) o consultor me informa que a peça tinha chegado da Itália no dia 17, mas que estaria na alfândega aguardando inspeção. Então pensei: “Se a peça veio da Itália para o Brasil em menos de 10 dias, é claro que deve chegar em no máximo 5 dias na loja!”. Lembre-se, seja otimista!

Depois de recebida a informação não perdi tempo. Liguei para assistência para saber como a minha “Pretinha” voltaria para casa. A atendente me explicou que a Ducati pagaria todas as minhas despesas para buscar a moto mas que não mandaria a moto de volta como já tinha levado. Mas que se eu quisesse esta opção, eu pagaria a diferença. Foi quando decidi rapidamente que eu mesmo iria buscá-la! Esta foi uma ótima decisão, aliás.

A moto ficou pronta no dia 9 de agosto. Isso mesmo! A alfândega demorou mais tempo para liberar a peça do que o tempo de transporte Itália x Brasil. Mas nas circunstâncias em que me encontrava, já estava feliz em saber que em breve estaríamos de volta as nossas aventuras. Acertei todos os trâmites com a Assistência e a agendei a ida a Belo Horizonte no dia 10 de agosto.

Chegado o grande dia me arrumei, separei roupas de chuva e de frio em uma mochila peguei meu capacete e demais itens de segurança e parti para BH. Voo tranquilo. No aeroporto um táxi me aguardava. As atendentes me monitoravam por telefone. Tudo funcionando. Chequei na concessionária pouco mais de 11 horas.

Fui recebido pelo consultor que me mostrou a peça trocada. Conversamos um pouco. Ele me informou inclusive que a Ducati havia mandado um radiador completo. Foi apenas substituir. Eles nem precisaram desmontar o outro radiador. Sugeriram a troca do óleo de freio traseiro. Acharam escuro. Esperei trocarem o óleo enquanto almoçava em um restaurante próximo. Retornei por volta de 13 horas e Pretinha estava lá me aguardando. Fechamos a burocracia e sai da loja em direção ao RJ por volta de 13:45. Minha intenção era fazer a viagem em até 7 horas.

Neste primeiro trecho, encaramos muitos caminhões e muito barro vermelho. Paramos em um bairro chamado Santa Monica, ainda em BH, uns 30 minutos, no máximo, da concessionária. Com uma igrejinha simpática, o que nos atraiu. Tiramos algumas fotos e seguimos direto até Conselheiro Lafaiete – MG, a pouco mais de 100Km da concessionária. Essa parada aliás seria uma parada para abastecimento. Mas meu plano foi alterado quando um motorista, digamos desatento (para não dizer outra coisa), resolveu cruzar a pista que eu vinha na contramão para entrar no posto. Para não bater nele tive que frear bem forte e torcer para ele não desviar. A tensão foi tanta que acabei deixando de abastecer. Por sorte, ainda tinha bastante combustível.

Seguimos por mais 100 km até Santos Dumont – MG. Tiramos mais algumas fotos e seguimos. Já passava das 16 horas. Abastecemos no caminho, quando a reserva acendeu. Paramos no Graal de Juiz de Fora – MG. Fiz um lanche, me agasalhei. A temperatura caiu rapidamente. Saímos dali as 17:45. Com tanque e barriga cheios, resolvi apertar mais o ritmo. Minha preocupação era passar por Petrópolis. Havia previsão de chuva e o chão ali fica um sabão. Além do medo de multa e apreensão da moto! Afinal, Petrópolis e um perigo para motociclistas!

Era quase noite e ainda faltavam mais de 180 km para o fim da viagem. De Juiz de Fora até Itaipava, viemos em um ritmo um pouco mais forte. Chegamos em Itaipava por volta de 18:30. Nada mal para um trecho de 90 e poucos km. O problema é que a partir de Itaipava, a garoa começou a cair. A viseira embaçou e eu tive que reduzir bastante a velocidade. Para minha sorte. A serra é curta e a estrada é pequena para Pretinha. Chegamos sãos e salvos em casa as 19:45 com pouco menos de 6 horas de viagem. E que viagem!

Fazia muito tempo que eu não me divertia tanto.

Pra ser sincero, do ponto de vista de consumidor, esta não é uma situação ideal. A Ducati devia ter concessionária no RJ. Considero uma falha muito grande.

Mas convenhamos, a aventura foi ótima!

Eu faria de novo!

Mas de preferência sem quebrar a Pretinha! Apenas passeio!
Ricardo Azevedo